13.

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Três anos antes, lembrou-se Camila, a esposa fora sua única aliada numa casa cheia de inimigos. Mesmo os empregados a tratavam com pouco respeito. Agora, porém, era diferente. Em algum ponto de sua vida, ela adquirira uma maturidade que a impedia de olhar as pessoas como monstros assustadores numa terra estranha. Talvez por essa postura firme e tranqüila, Verônica a respeitava muito. E ajudou a deixá-la mais à vontade naquela situação indesejável. Não permitiu que ninguém entrasse na suíte, despachando todos à porta.

— A casa aguardava as boas notícias sobre a bambina, Sra. Jauregui - explicou a moça.- Agora todos querem expressar sua alegria. Mas terão que esperar. Apenas descanse e desfrute dessa belezinha. Eu cuido do resto.

Quando Clara despertou, resmungando de fome, Verônica ajudou a sossegar a garotinha. E, quando ela recuperou sua energia natural, a moça levou-as até a praia. As três passaram uma hora tranquila à beira do mar, aproveitando o sol ameno do final da tarde. Clara corria de um lado para outro, e sua alegria enterneceu o coração de Camila. Subiram a escada brincando. Clara segurou nas mãos da babá e da mãe para saltar os degraus. Depois, pediu colo e repousou a cabecinha no ombro materno. O sol se punha e a menina dormia profundamente no berço montado ao lado da cama de Camila. Verônica parecia montar guarda, alisando o pequeno lençol de bordado inglês. Ignorava os protestos da patroa, que insistia para que fosse descansar. Ao final, Camila parou de protestar e acomodou-se no sofá da sala, para apreciar o pôr-do-sol. Sentia-se esgotada.

— Você parece exausta - observou Lauren ao aproximar-se.

— É muita preocupação de sua parte - ela ironizou.

— A criança está... mais calma?

— Está, mas não graças a você.

— Desculpe-me se a assustei - murmurou. - Mas você precisa entender que, para mim, a situação é muito... difícil.

— Bem, então sem dúvidas ficará feliz em saber que pretendemos voltar para Miami assim que for possível.

— Ansiosa por partir? - ela escarneceu.

— Assim que partirmos, esta situação difícil terminará.

— Quisera que fosse tão simples...

— É simples - Camila assegurou. - Basta nos colocar dentro de seu jatinho particular.

Lauren não disse nada, a atenção aparentemente concentrada na estonteante visão do céu avermelhado encontrando o mar, de um azul acetinado. Então se voltou para fitá-la.

— O jantar estará pronto dentro de uma hora - anunciou. - Será que pode fazer o pequeno esforço de se arrumar? Sei que está muito cansada, mas precisa ficar assim?

Camila sabia que ela a criticava por ainda usar as mesmas roupas da viagem. Lauren se trocara, agora trajava uma calça de microfibra preta e uma camisa branca imaculada. Estava com ótima aparência e o traje só fazia ressaltar seu porte atlético.

— Se estou vestida assim, a culpa é sua - ela contra-atacou, evitando olhar para a mulher atraente que lhe tirava a paz de espírito. - Você mesmo fez minha mala, lembra? Só lembrou-se de incluir as roupas formais que tanto aprecia. Não colocou nada para o dia-a-dia, nada que combine com este clima quente ou que seja adequado para lidar com uma criança cheia de energia. Sem mencionar que se esqueceu de incluir roupas íntimas, cosméticos e escovas de cabelos.

— Foi assim tão ruim? Não estou acostumada a fazer malas.

— Foi o que percebi. - Apesar do ressentimento, Camila não pôde evitar um leve sorriso. - Saiu-se um pouco melhor com Clara, pois não se esqueceu da Nala. Foi muita consideração. Ela mudou totalmente ao ver o brinquedo.

— E o que será preciso para você mudar?


Camila sentiu o rosto corar, o corpo arrepiar-se àquele tom insinuante.

—Jantarei aqui na suíte, se não se importar - disse friamente, procurando ignorar as reações perturbadoras.

— Comerá na sala de jantar, como se costuma fazer nesta casa - ela determinou.

Camila balançou a cabeça, em protesto.

— Não vou abandonar Clara. Ela pode acordar e ficar assustada.

— Verônica não está com ela?

— Sim, mas a moça não é a mãe da criança!

— A casa está equipada com um sistema de comunicação interna - ela argumentou. - Se Verônica chamar, você poderá voltar à suíte em poucos segundos.

— Segundos que serão uma agonia para uma criança em sofrimento.

— Isso é tolice! - Ela suspirou. - A menina está segura. Já conhece Verônica. Sabe que a mãe a aceita como alguém em quem pode confiar. Deve permitir que ela faça seu trabalho enquanto...

— Trabalho? - Camila ergue uma sobrancelha, desconfiada.

— Sim. - Lauren a fitou com os olhos imperturbáveis. - Ela foi contratada especificamente para cuidar da garota.

Camila ergueu-se da cadeira num átimo.

— Como babá, você quer dizer?

— Sim.

Ela estremeceu. Michael contratara Verônica para mantê-la afastada de Clara?

— Não preciso de babá alguma! Posso cuidar sozinha de minha filha! - declarou, com a firmeza que seu coração amedrontado permitia. - Na última vez que você contratou uma babá, Clara desapareceu bem debaixo do nariz dela!

— Por que está protestando tanto?

— Lolo, por favor... Não faça isso comigo! Não diminua minha importância como mãe! Não ficarei aqui tempo suficiente para precisar de Verônica!

— Meu Deus! - ela ofegou, os olhos chocados. - Você está aterrorizada!

— Deixe-me quieta na suíte até voltar a Miami, por favor.

— De que está com medo? Acha que não posso proteger Clara nesta casa? - Ao perceber que Camila fraquejava, segurou-a pelos braços. - Está errada, sabe? - murmurou, confortando-a - Esta casa é como uma fortaleza. Ninguém entra ou sai sem passar pelo sistema de segurança.

Mas era justamente com as pessoas de dentro da casa que Camila estava preocupada...


— Lolo... - Espalmou as mãos no peito da esposa. Não foi um gesto insinuante. Estava ansiosa demais para avaliar o que fazia. - Ouça, eu não quero ficar e você não nos quer aqui. Se acredita ser impossível proteger-nos em Miami, então mudarei de nome ou de identidade. Se sair de sua vida, prometo que jamais voltará a passar por esta inconveniência.

Lauren se retesou.

— Você... ama muito essa criança, não?

Por que ela insistia em fazer aquela pergunta?

— Ela é minha vida.

— E o pai da criança? Amava-o com a mesma intensidade?

Camila fechou os olhos. Só queria afundar o rosto naquele peito largo e chorar. Apenas chorar.

— Sim - murmurou.

Lauren se afastou e voltou-se para a janela, deixando-a só e trêmula.

— Ele a amava?

Camila engoliu o nó na garganta sabendo que a mais velha ainda acreditava que Clara era fruto de um caso seu com Shawn.

— Creio que sim - respondeu, os braços inertes ao longo do corpo.

— Então por que não quis ficar com as duas?

— Porque decidiu não acreditar que era o "pai" - enfatizou gesticulando com os dedos em forma de aspas - de Clara e seu orgulho jamais permitiria que aceitasse a filha de outra pessoa.

— Então... quer dizer que Clara pode ser... minha filha?

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora