Três anos antes, lembrou-se Camila, a esposa fora sua única aliada numa casa cheia de inimigos. Mesmo os empregados a tratavam com pouco respeito. Agora, porém, era diferente. Em algum ponto de sua vida, ela adquirira uma maturidade que a impedia de olhar as pessoas como monstros assustadores numa terra estranha. Talvez por essa postura firme e tranqüila, Verônica a respeitava muito. E ajudou a deixá-la mais à vontade naquela situação indesejável. Não permitiu que ninguém entrasse na suíte, despachando todos à porta.
— A casa aguardava as boas notícias sobre a bambina, Sra. Jauregui - explicou a moça.- Agora todos querem expressar sua alegria. Mas terão que esperar. Apenas descanse e desfrute dessa belezinha. Eu cuido do resto.
Quando Clara despertou, resmungando de fome, Verônica ajudou a sossegar a garotinha. E, quando ela recuperou sua energia natural, a moça levou-as até a praia. As três passaram uma hora tranquila à beira do mar, aproveitando o sol ameno do final da tarde. Clara corria de um lado para outro, e sua alegria enterneceu o coração de Camila. Subiram a escada brincando. Clara segurou nas mãos da babá e da mãe para saltar os degraus. Depois, pediu colo e repousou a cabecinha no ombro materno. O sol se punha e a menina dormia profundamente no berço montado ao lado da cama de Camila. Verônica parecia montar guarda, alisando o pequeno lençol de bordado inglês. Ignorava os protestos da patroa, que insistia para que fosse descansar. Ao final, Camila parou de protestar e acomodou-se no sofá da sala, para apreciar o pôr-do-sol. Sentia-se esgotada.
— Você parece exausta - observou Lauren ao aproximar-se.
— É muita preocupação de sua parte - ela ironizou.
— A criança está... mais calma?
— Está, mas não graças a você.
— Desculpe-me se a assustei - murmurou. - Mas você precisa entender que, para mim, a situação é muito... difícil.
— Bem, então sem dúvidas ficará feliz em saber que pretendemos voltar para Miami assim que for possível.
— Ansiosa por partir? - ela escarneceu.
— Assim que partirmos, esta situação difícil terminará.
— Quisera que fosse tão simples...
— É simples - Camila assegurou. - Basta nos colocar dentro de seu jatinho particular.
Lauren não disse nada, a atenção aparentemente concentrada na estonteante visão do céu avermelhado encontrando o mar, de um azul acetinado. Então se voltou para fitá-la.
— O jantar estará pronto dentro de uma hora - anunciou. - Será que pode fazer o pequeno esforço de se arrumar? Sei que está muito cansada, mas precisa ficar assim?
Camila sabia que ela a criticava por ainda usar as mesmas roupas da viagem. Lauren se trocara, agora trajava uma calça de microfibra preta e uma camisa branca imaculada. Estava com ótima aparência e o traje só fazia ressaltar seu porte atlético.
— Se estou vestida assim, a culpa é sua - ela contra-atacou, evitando olhar para a mulher atraente que lhe tirava a paz de espírito. - Você mesmo fez minha mala, lembra? Só lembrou-se de incluir as roupas formais que tanto aprecia. Não colocou nada para o dia-a-dia, nada que combine com este clima quente ou que seja adequado para lidar com uma criança cheia de energia. Sem mencionar que se esqueceu de incluir roupas íntimas, cosméticos e escovas de cabelos.
— Foi assim tão ruim? Não estou acostumada a fazer malas.
— Foi o que percebi. - Apesar do ressentimento, Camila não pôde evitar um leve sorriso. - Saiu-se um pouco melhor com Clara, pois não se esqueceu da Nala. Foi muita consideração. Ela mudou totalmente ao ver o brinquedo.
— E o que será preciso para você mudar?
Camila sentiu o rosto corar, o corpo arrepiar-se àquele tom insinuante.
—Jantarei aqui na suíte, se não se importar - disse friamente, procurando ignorar as reações perturbadoras.
— Comerá na sala de jantar, como se costuma fazer nesta casa - ela determinou.
Camila balançou a cabeça, em protesto.
— Não vou abandonar Clara. Ela pode acordar e ficar assustada.
— Verônica não está com ela?
— Sim, mas a moça não é a mãe da criança!
— A casa está equipada com um sistema de comunicação interna - ela argumentou. - Se Verônica chamar, você poderá voltar à suíte em poucos segundos.
— Segundos que serão uma agonia para uma criança em sofrimento.
— Isso é tolice! - Ela suspirou. - A menina está segura. Já conhece Verônica. Sabe que a mãe a aceita como alguém em quem pode confiar. Deve permitir que ela faça seu trabalho enquanto...
— Trabalho? - Camila ergue uma sobrancelha, desconfiada.
— Sim. - Lauren a fitou com os olhos imperturbáveis. - Ela foi contratada especificamente para cuidar da garota.
Camila ergueu-se da cadeira num átimo.
— Como babá, você quer dizer?
— Sim.
Ela estremeceu. Michael contratara Verônica para mantê-la afastada de Clara?
— Não preciso de babá alguma! Posso cuidar sozinha de minha filha! - declarou, com a firmeza que seu coração amedrontado permitia. - Na última vez que você contratou uma babá, Clara desapareceu bem debaixo do nariz dela!
— Por que está protestando tanto?
— Lolo, por favor... Não faça isso comigo! Não diminua minha importância como mãe! Não ficarei aqui tempo suficiente para precisar de Verônica!
— Meu Deus! - ela ofegou, os olhos chocados. - Você está aterrorizada!
— Deixe-me quieta na suíte até voltar a Miami, por favor.
— De que está com medo? Acha que não posso proteger Clara nesta casa? - Ao perceber que Camila fraquejava, segurou-a pelos braços. - Está errada, sabe? - murmurou, confortando-a - Esta casa é como uma fortaleza. Ninguém entra ou sai sem passar pelo sistema de segurança.
Mas era justamente com as pessoas de dentro da casa que Camila estava preocupada...
— Lolo... - Espalmou as mãos no peito da esposa. Não foi um gesto insinuante. Estava ansiosa demais para avaliar o que fazia. - Ouça, eu não quero ficar e você não nos quer aqui. Se acredita ser impossível proteger-nos em Miami, então mudarei de nome ou de identidade. Se sair de sua vida, prometo que jamais voltará a passar por esta inconveniência.
Lauren se retesou.
— Você... ama muito essa criança, não?
Por que ela insistia em fazer aquela pergunta?
— Ela é minha vida.
— E o pai da criança? Amava-o com a mesma intensidade?
Camila fechou os olhos. Só queria afundar o rosto naquele peito largo e chorar. Apenas chorar.
— Sim - murmurou.
Lauren se afastou e voltou-se para a janela, deixando-a só e trêmula.
— Ele a amava?
Camila engoliu o nó na garganta sabendo que a mais velha ainda acreditava que Clara era fruto de um caso seu com Shawn.
— Creio que sim - respondeu, os braços inertes ao longo do corpo.
— Então por que não quis ficar com as duas?
— Porque decidiu não acreditar que era o "pai" - enfatizou gesticulando com os dedos em forma de aspas - de Clara e seu orgulho jamais permitiria que aceitasse a filha de outra pessoa.
— Então... quer dizer que Clara pode ser... minha filha?
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Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]
RomansLauren e Camila eram o típico casal perfeito... Até uma suposta traição separar as duas de uma vez por todas. Apesar de todas as tentativas de Camila, Lauren não acreditou em sua inocência e duvidava que Lana pudesse ser sua filha e a mandou de volt...