9.

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No instante seguinte, Camila viu-se aprisionada entre dois braços fortes.

— Você sempre me chamava assim. Subia em meu corpo, nua, os cabelos adoráveis acariciando meus ombros, os braços apoiados em meu peito. Costumava olhar em meus olhos e dizer com comovente solenidade: "Você é tão linda..."

— Pare! - ela implorou, os olhos fechados para evitar a torturante lembrança.

Impossível. Em sua mente, ressoavam suas próprias palavras: "Teu nariz é belo, tua boca é bela, tua pele..." Camila também se lembrou da paixão violenta que se seguia, do impacto selvagem que aquelas palavras tinham sobre Lauren. Da maneira quase desesperada, ainda que gentil, como ela a possuía.

— Você sussurrava aquelas mesmas palavras ao ouvido de seu amante? Ele ficava tão enlouquecido quanto eu?

Ela balançou a cabeça, assustada demais com aquele olhar impiedoso para falar.

— Pare com isso...

— Tem ideia do que senti ao imaginá-la na cama com ele? Maldição, eu a amava! Venerava o chão que você pisava! Você era minha! Minha! Eu a despertei para o amor!

— E meu amor nunca foi de mais ninguém!

— Mentirosa! - ela ofegou, colando em seguida a boca na de Camila.

Pressionou-lhe os lábios fechados até que se entreabrissem. Dali em diante, houve uma terrível revelação. Camila sentiu que retornava ao passado, quando aquela mulher reinava poderosa em seu mundo. Era o cheiro de Lauren, seu gosto, seu toque, sua textura. Textura. Textura dos lábios violentos forçando os seus, da língua sedenta buscando a sua. Era a respiração de Lauren em seus ouvidos, seus gemidos torturados, os dedos longos mesclados com os cabelos negros, o corpo rijo pulsando contra o dela. Quando ela finalmente se afastou, Camila agarrou-se na bancada, incapaz de fazer outra coisa. Lauren, distante poucos centímetros, tinha o peito arfante, o corpo tenso. Então o som do telefone celular dissipou a tensão como uma lufada de vento. Ela tirou o telefone do bolso e levou-o ao ouvido.

— Certo - respondeu, após ouvir por alguns instantes. - Já estou a caminho.

— O que houve? - Camila indagou, aprumando o corpo.

Ela não respondeu. Nem a fitou ao dar-lhe as costas para sair do barracão.

— Não ouse agir como se eu não existisse! Clara é minha filha! Minha! Se o telefonema foi dos sequestradores, tenho o direito de saber!

Lauren parou.

- Sim, foi deles - informou calmamente antes de partir, deixando-a só e infeliz.

- Maldita! - ela murmurou entre os dentes. - Maldita, cruel e impiedosa! - Lágrimas encheram seus olhos. - Como pode não se importar? Como?

Já recuperara a fachada fria quando, alguns minutos mais tarde, Lauren abriu a porta e a encontrou sentada em uma poltrona. Parecia uma colegial esperando à porta da diretoria, mas seus lábios não eram de uma garotinha. Eram os lábios sedentos e pulsantes de uma mulher madura. Ela se ergueu.

— E então?

Lauren balançou a cabeça.

— Nada - respondeu. - Alarme falso. Era um trote.

— Trote?

— Temos recebido muitos.

Camila não disse nada. Simplesmente se afastou, subindo a escada com as costas eretas, o queixo erguido. Sozinha.

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora