22.

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— Desculpe-me a indelicadeza senhor Jauregui, mas eu não quero ouvir - atalhou Camila. - É a Lauren quem terá que se explicar.

Michael suspirou, recostando-se no assento. Enquanto a limousine os levava para casa, Camila olhava através da janela, sem prestar atenção em nada. Ao chegar à mansão, Michael indagou:

— O que vai fazer, Camila?

Ela o fitou, o olhar furioso.

— Ainda não sei, eu honestamente preciso pensar.

— No seu lugar, eu esperaria uma explicação - ele aconselhou. - Não faça nada do que possa se arrepender mais tarde.

Quando o motorista abriu a porta e ofereceu a mão, Camila o ignorou.

— É estranho ouvir isso justamente do homem que me contou sobre Keana.

Ele franziu o rosto.

— Sou um velho desagradável. Digo coisas para ferir as pessoas, você sabe disso melhor que ninguém.

— E me feriu, muito. Ainda está doendo. Parabéns, meu caro. Parece que você conseguiu novamente!

Com isso, ela saiu do carro.

— Quer esperar um momento? - Michael pediu. - Preciso lhe dizer...

Não pôde dizer nada porque a segunda tragédia já estava armada. Sílvia, a governanta, recebeu-os à porta, aterrorizada.

— A bambina, signora! - murmurou, trêmula. - Está muito doente. Venha depressa!

Depois disso, nada mais importou. Camila saiu voando para o quarto da filha. Verônica, pálida e assustada, chamara a enfermeira particular de Michael, que examinava a criança.

— O que houve? O que há de errado com minha filha?

— Peça à sua esposa para chamar o helicóptero, signora Jauregui - recomendou a enfermeira, sem hesitar. - A menina precisa ir para o hospital com urgência.

Camila ficou paralisada.

— Rápido, signora Jauregui!

Ela correu para o quarto e arrancou o vestido de festa. Na pressa, a gargantilha também foi arrancada, esparramando os diamantes pelo chão. Camila nem se deu conta disso, colocou rapidamente a calça azul-marinho e a camiseta, para voltar ao quarto de Clara. Michael já estava lá, ditando ordens a todos. O helicóptero chegou poucos minutos depois e pousou na praia, pronto para receber a enfermeira, que corria com a criança envolta num cobertor e Camila. Quando Lauren chegou, o aparelho decolava. Michael praguejava, golpeando os braços de sua cadeira de rodas e Verônica soluçava em um canto.

— Será que alguém pode me explicar o que diabos está acontecendo? - Lauren exigiu, a voz ressoando pelo ambiente.

— Meningite! - o pai exclamou. - A enfermeira suspeita de que Clara esteja com meningite!

Na Unidade de Terapia Intensiva, Camila se encontrava sentada ao lado do berço da filha, apenas observava, enquanto a enfermeira mantinha observação constante da criança, dos aparelhos, da mãe estarrecida. As horas se arrastaram. Quantas? Camila não saberia dizer. Lauren apareceu, como uma sombra escura. Esgotada e pálida, olhou para a criança doente e, zonza, perdeu o equilíbrio. Foi amparada pela enfermeira e conseguiu se controlar. Engoliu em seco, aprumou-se e fitou Camila, a expressão torturada. Precisou de todas as suas forças para segurar-lhe as mãos geladas. Não falou. O que poderia dizer? Apenas olhou para a filha. Em algum momento, sentou-se numa cadeira que alguém teve a gentileza de levar e prosseguiu com a silenciosa vigília. Médicos vieram, observaram, deliberaram e foram embora. Enfermeiras trocavam turnos. Em determinado momento, alguém lhe solicitou gentilmente que saíssem do quarto. o por quê? ninguém disse, mas foi a primeira vez que Camila demonstrou alguma reação.

— Como? - ela assustou-se. - Por quê?

— É só um momento.

A enfermeira as levou para a sala de espera, onde lhes serviu café, aconselhando-as a beber. Camila sorveu um pouco porque Lauren a obrigou a isso. Por fim, porque não suportava mais aquilo, ela a abraçou. Mas Camila não retribuiu o abraço. Parecia estar distante, perdida num outro mundo. Os minutos se arrastaram. Camila aguardava, inerte. Lauren ocasionalmente a beijava na testa e acariciava seus longos cabelos, suas costas, tentando revigorá-la.

— Sra. Jauregui? Agora podem voltar.

Ela afastou-se dos braços da esposa.

— Camila...

Ela simplesmente balançou a cabeça.

- Agora não, Lauren - disse, dando-lhe um tapinha no peito e saiu.

  ❖  

Horas, mais horas. Em determinado momento, Michael apareceu ao lado do berço. Olhou para a netinha doente e pôs-se a chorar. Lauren sabia que era injusto, mas as lágrimas do pai a irritaram.

— Preciso lhe falar - disse Michael quando a filha a levou para fora do quarto. - Preciso lhe falar!

— Mais tarde. - Lauren olhou ao redor até encontrar a enfermeira do pai. - Leve-o para casa.

— Mas preciso falar com você, filha!

— Mais tarde. - Lauren repetiu, voltando para o lado de Clara.

Algumas horas mais tarde, o ponto culminante da crise veio. Agora só restava esperar para saber se haveria sequelas, e quais. Mas ao menos a menina estava salva. Tiraram-na da UTI e levaram-na para o quarto. Lauren conseguiu uma cama de armar, que foi colocada ao lado do berço e Camila deitou-se.

— Está tudo bem - a tranquilizou. - Ficarei aqui. Se Clara se mexer eu a acordarei, mas durma um pouco.

Camila concordou sem dizer nada e fechou os olhos.

Horas, mais horas. Quantos dias, no total? Três, quatro? Camila não saberia dizer. Lauren fora descansar num hotel. Michael viera no dia anterior e parecia tão doente quanto a neta.

— Jamais me perdoarei por isso - ele disse, a expressão amargurada.

Camila o fitou.

— Não é por sua culpa que Clara está doente.

— A culpa é minha sim. - As lágrimas inundaram os olhos contritos do velho. - Lembra-se do dia em que a levei para visitar um amigo nas montanhas? Duas outras crianças do mesmo vilarejo estavam com meningite. - Engoliu em seco. - Fui eu que a expus à doença. A culpa é minha!

Camila lhe lançou um sorriso cansado.

— Nem mesmo você pode controlar o destino. Não se torture.

Mas Michael decidiu assumir a culpa.

  ❖  

Horas, mais horas. Então Lauren voltou, com uma aparência terrível. Deveria estar descansada, mas parecia mais pálida e tensa. Mal cumprimentou Camila, mal a fitou. Afundou-se na cadeira no outro lado da cama e contemplou a filha. Em seguida, desviou o olhar para as próprias mãos rígidas sobre a cama. Camila então entendeu o que estava acontecendo.

— Então finalmente seu pai contou-lhe a verdade... Agora você sabe que eu nunca a traí, não é? - indagou calmamente.

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora