24.

5.4K 346 5
                                    

— Tive que fazê-lo — ele respondeu, a respiração difícil. — Devia isso à bambina. Sempre esteve certa à meu respeito, Camila. Sou um velho muito, muito perverso.

Ela se aproximou, ofereceu os braços e pela segunda vez, viu um Jauregui chorar.

— Lauren jamais me perdoará — Michael declarou longos minutos mais tarde, quando os soluços se acalmaram. — Mas posso viver com isso. Já não podia mais era conviver com minha maldade. Minha filha sofreu com sua falta. E também tive que conviver com isso, sabendo que ela sofria por minha culpa. Até lhe neguei o direito de amar a própria filha!

— Mas você é um homem inteligente. Não poderia acertar a situação sem admitir a verdade?

— Quando fui à Miami, tinha o firme propósito de vê-la. Queria... Pedir sua ajuda para resolver a situação. Mas fiquei doente.

— Dinah me contou. Então estava em Miami para me visitar?

— Si — ele confirmou. — Quando a bambina foi sequestrada, tive a chance de consertar tudo, porque Lauren fez com que a pequena viesse diretamente a meus braços. Foi muita sorte!

Camila estreitou os olhos.

— O que acabou de dizer?

— Sobre Lauren fazer com que Clara viesse para a Itália? — Deu de ombros. — Ela foi resgatada na Inglaterra. Lauren foi muito esperta. Rastreou os sequestradores via satélite, descobriu o esconderijo e conseguiu dividir o bando, colando o dinheiro num lugar muito distante do cativeiro de Clara. Uma equipe de agentes especiais foi resgatar a criança enquanto Dinah comparecia ao encontro com os sequestradores para entregar o resgate. A menina não percebeu nada. Lauren colocou-a num jatinho e mandou-a para cá antes que ela despertasse!

— Mas... — Camila ficou confusa. — Por que precisaram de agentes especiais se o resgate foi pago? — Calou-se. O olhar incisivo de Michael lhe deu a resposta. — Oh, céus! Os sequestradores não tinham a intenção de devolvê-la?

— Jamais saberemos, cara — respondeu ele, o olhar pesaroso. — Clara tinha poucas chances de retornar viva. Portanto, Lauren teve que tomar a difícil decisão de trazê-la. — O velho suspirou. — Ela é a sua vida, Camila. E se ferissem a criança, estariam ferindo você. Todos concordamos que ela não tinha escolha.

— E então...

— E então ela a mandou diretamente para mim. — A expressão de Michael era puro deleite. — Ah, foi amor à primeira vista!

— Mas por que Lauren mandou Clara para cá antes que eu a visse?

— Não lhe parece óbvio? Vocês voltaram a se ver, fizeram amor novamente... Ela não poderia perdê-la uma segunda vez.

— Como sabe que nós... — Camila se calou, o sangue subindo para o rosto.

— Você acabou de confirmar. — Ele deu outro de seus sorrisos diabólicos. — Seu rosto lindo não mente, Camila. Sabe, minha filha a ama.

— E Keana?

— Por que não perguntou à Lauren sobre Keana?

Ela cruzou os braços e se aproximou das portas de vidro.

— Por que perguntar? Eu sei o que vi!

— E minha filha sabia o que via quando flagrou-a nos braços de Shawn Mendes? — Michael argumentou, astuto.

Camila voltou-se, estreitando os olhos.

— Está tentando me dizer que armou aquela cena no baile do prefeito?

— Não, mas a perdôo por chegar tão facilmente à essa conclusão. Sou um velho terrível, conto mentiras. Apenas disse que minha filha tinha uma amante chamada Keana para deixá-la com ciúme, para que voltasse a vê-la como a grande mulher sedutora como no passado. Capisci?

— Sinto muito, mas a própria Lauren confessou que tem um caso com ela.

— Confessou? — Michael balançou a cabeça e riu. — Ela tem a mesma índole do pai. Aproveitou para também deixá-la com ciúme, assim como queimou de ciúme por causa de Shawn.

— Oh, não vou ficar aqui ouvindo-o destorcer tudo! — Camila suspirou impaciente e caminhou na direção da porta. — Você mesmo está se afundando em suas armadilhas, Michael!

— Mas eu a faço pensar, concorda? Seu senso de justiça não permitirá que condene minha filha sem ouvi-la.

Camila caminhava sozinha na praia, como vinha fazendo nas últimas tristes semanas. O tempo tornara-se frio e o céu carregado. Eram intermináveis e vazios os dias sem Lauren, sem sua força, sem seu calor na cama, sem seus beijos, sem suas estonteantes carícias, sem...

De que adiantavam se torturar? Mas o que fazer se a saudade que sentia era crônica? Michael estava certo. Não podia condenar Lauren sem ouvi-la.

— Lolo... — Camila murmurou para o mar cinzento e frio. — Oh, Lauren...

Começou a chover. Ela correu para a casa e ao chegar ao último degrau, ensopada, não viu Lauren. Como aconteceu no primeiro encontro, deu um encontrão nela.

— Deixe a carteira cair novamente... — murmurou Camila, emocionada.

Ambos ficaram parados durante intermináveis segundos. Lauren respirou fundo e seu corpo estremeceu.

— Venha — sussurrou, envolvendo-a. — Vamos sair da chuva. — Levou-a para o banheiro da suíte. — Tire essas roupas molhadas — disse, entregando-lhe uma toalha. — Enxugue-se.

— Está bem.

Lauren foi até o closet e retornou com o robe branco de Camila. Envolvida na grande toalha, ela tremia. Não porque estivesse com frio, mas chocada com a própria ousadia. Ainda não conseguia fitá-la. Lauren não disse nada, apenas entregou-lhe a peça e esperou que a vestisse. Em seguida apareceu com um secador de cabelos.

— Deixe comigo — pediu. — Jogue seus cabelos para a frente.

Camila obedeceu. Estava atordoada demais para argumentar. Quando a ouviu desligar o aparelho, ainda se sentia uma ingênua. O que poderia dizer depois da tola insinuação? Do tolo pedido para que ela deixasse mais uma vez a carteira cair? Mas a verdade foi que, naquele momento, algo tocou-lhe os pés. Era a carteira de Lauren. Camila se abaixou e deliciou-se ao tocar o acessório de couro com dedos trêmulos. Ela a entendera! A carteira era lenço branco da paz! Viu-a parada ao lado da cama, de costas, a cabeça baixa, os ombros caídos, as mãos nos bolsos. Sentiu as pernas fracas.

— Com licença. — Estendeu a carteira, a mão insegura. — Por acaso deixou cair isto?

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora