23.

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Ela esperou por alguma coisa, qualquer palavra, mas não houve nada. Lauren não a respondeu. Voltou a olhar para a filha e a expressão pétrea começou a desmoronar lentamente, dando lugar a uma fisionomia sofrida.

— Lolo, não! — Camila murmurou, segurando-lhe as mãos.

Lauren apoiou a cabeça sobre o berço e começou a chorar convulsivamente. Camila jamais a vira assim. Ficou alguns instantes sem saber o que fazer. Se a abraçasse, poderia humilhá-la. Portanto, decidiu voltar à cadeira, oferecendo-lhe a mão solidária. A mais velha aceitou e o gesto deu-lhe forças para controlar-se. Parou de soluçar e aproximou-se da janela, evitando encará-la.

— Como está seu pai? — Camila perguntou, depois de um longo instante.

Ela não respondeu de imediato. Retesou o maxilar, como se tentasse novamente controlar as emoções.

— Voltou à Villa e está de cama — disse por fim. — A confissão deixou-o exaurido.

O pecado que acreditava ter cometido ao expor Clara à enfermidade, precisara redimir-se, revelando o pecado que cometera ao tentar separar a filha da esposa. Pobre e atormentado velho!

— Sinto muito... — Camila murmurou, sem saber exatamente o que dizer.

— Você está dizendo isso? No, no! Mi scusi. Eu peço desculpas. Não posso... — Lauren parou e engoliu em seco. — Mi scusi Camila, mas preciso deixá-la por um momento. — Começou a caminhar na direção da porta. — Voltarei assim que...

— Não, Lolo! — ela protestou, correndo para a esposa. — Preciso de você aqui. Nós precisamos de você aqui!

— Oh... sim... É claro que sim. — Então a abraçou.

— Venha sentar-se, por favor. Clara começou a se mexer um pouco hoje... Os dedinhos das mãos, dos pés... — Viu que Lauren fitava a filha com amor. — Vou sair um pouco está bem? Agora que você está aqui, posso tomar um pouco de café. Preciso disso. 

No corredor, Camila se apoiou na parede, a mão trêmula massageando as têmporas doloridas. Além de ocupar-se com Clara, agora precisava preocupar-se com Lauren, com Michael e com... Keana. Atingida pelo ciúme, aprumou o corpo e foi até a lanchonete. Ao retornar para o quarto, minutos mais tarde, percebeu que Lauren, mais controlada, fitava a filha com um brilho esperançoso no olhar, como se a estivesse incentivando a superar aquele obstáculo. 

Mais horas se passaram. Camila dormiu na cama de armar e Lauren voltou para o hotel. Retornou pela manhã, com uma muda de roupa para Camila, que saiu para tomar um banho e se trocar. Ao retornar ao quarto, ficou paralisada. Lauren estava sentada na cama, com Clara nos braços.

— Ela despertou neste instante — disse, os olhos marejados de lágrimas. — Minha filha me reconheceu!

Uma vez mais, Camila sentiu as pernas enfraquecidas, mas o médico que entrava a amparou.

Mais horas, mais espera, mais deliberações médicas até a confirmação oficial:

— Não houve sequelas. A criança foi trazida ao hospital a tempo. Mais uma semana e poderão levá-la para casa.

Voltaram à Villa numa manhã ensolarada. Clara ainda estava fraca, ainda dormia a maior parte do dia, mas, assim que entrou na casa, ergueu a cabecinha até então apoiada no ombro de Lauren e sorriu aliviada.

— Cadê o vovô? — perguntou procurando-o com o olhar.

Lauren retesou-se.

— Esperando por você — assegurou. — Quer que Verônica a leve para vê-lo?

Clara passou, feliz para o colo da babá, deixando Camila e Lauren sozinhas na sala de entrada, tensas, cientes de que teriam que enfrentar a verdade.

— Lolo... seu pai...

Ela evitou o assunto.

— Agora não — disse secamente. — Não tenho tempo. — Consultou o relógio, evitando encará-la. Desde a confissão, não conseguia fitá-la. — Preciso viajar — informou com tristeza. — Vou à Palermo a negócios. Deixei muita coisa pendente durante todos esses dias.

— Quando retornará?

— Não tenho certeza. Em poucos dias, eu acho. — Ela parecia impaciente, ansiosa para partir. — Depende de quanto os negócios exigirem minha atenção.

— Então agora já não temos importância, não é? Agora que a crise terminou, pode se concentrar em outros assuntos!

"Em Keana, que a faz sentir-se tão bem!", ela acrescentou para si mesma.

— Preciso apenas de algum tempo — admitiu. — De um pouco de espaço, até me adaptar a...

— Caso ainda não tenha notado, Lauren, aqui todos somos vítimas, inclusive seu pai! — Camila ignorou o olhar de advertência. — Ele era um homem orgulhoso que queria que a filha tivesse o melhor. Quando você se casou comigo, foi à forra e tornou-se vítima da própria trama. Ganhou a batalha, mas perdeu a guerra. Ao nos separar, separou-se da própria neta.

— E é por isso que não posso perdoá-lo! — exclamou Lauren, os dentes cerrados. — Meu pai usou contra mim a confiança cega que eu tinha nele!

— Contra mim, Lauren! — Camila a corrigiu.

— Qual é a diferença? Você era parte de mim! Era minha! Isso ofende à nós duas. Fiz à você o que ele fez comigo, destruí a confiança que tinha em mim.

"Você me destruiu quando se apaixonou por Keana!", ela pensou friamente.

— Então, o que pretende fazer? — indagou. — Punir um velho, fingindo que ele não existe? Assim como me puniu no passado, fingindo que eu não existia?

— Não vou impedir que ele tenha o amor da neta. — Sua expressão tornou-se dura, amarga. — Apoiarei a decisão que você tomar em relação ao meu pai, a Clara e... à mim.

— Em outras palavras, está desistindo de todos nós.

Lauren respirou fundo.

— Não. Estou desistindo do meu direito de decidir. Não tenho esse direito. Eu o perdi no dia em que coloquei a palavra do meu pai acima da sua.

"Ou está fingindo desistir só para voltar para Keana?", Camila se perguntou, angustiada.

— Então vá e faça o que quiser. — Suspirou, dando-lhe as costas. — Já não me importo mais.

Lauren partiu sem dizer uma palavra. Enquanto dirigia ao quarto de Michael, Camila cruzou com Verônica, que trazia Clara adormecida nos braços. Sorriu para a babá, acariciou a cabeça da filha e prosseguiu. A enfermeira abriu-lhe a porta. O patriarca, na sala de estar, contemplava o mar através das portas de vidro, os ombros curvados. Ao ouvi-la entrar, voltou-se rapidamente, os olhos intimidados pela primeira vez.

— Seu velho tolo — Camila o repreendeu. — Por que fez isso?

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora