20.

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Ao notar que a latina encontrava-se estática diante de sua revelação, Lauren deu um passo em antecipação e começou a puxá-la pela mão.

— Vamos, Camila - murmurou.

— Não está esquecendo nada, Jauregui? - indagou de forma irônica.

— Eu tenho plena consciência do que eu quero e tenho certeza de que é exatamente o que você quer. Então... O que mais nos falta? - perguntou franzindo o cenho.

— Clara. - Camila sussurrou indicando com a cabeça na direção onde a menina se encontrava.

Percebendo o que fizera, Lauren se desculpou prontamente:

— Primeira bola fora - reconheceu, com um olhar contrito. - Desculpe, ainda não estou habituada com tudo isso, mas vou me esforçar, prometo.

— Clara! - Camila chamou, a voz insegura. A garotinha ergueu os olhos, como um cupido banhado pelo sol dourado. - Já é hora de subir, meu amor. Vamos?

 Camila mordeu o lábio trêmulo. Clara levantou-se, pegou o balde e a pá, aproximando-se das duas adultas de forma cautelosa, percebendo que algo mudara.

— Você quer deixar o baldinho perto da escada para brincarmos amanhã?

A garotinha concordou e então, fitando as duas, perguntou:

— Er... A moça vai com a gente?

Camila respirou fundo, passando as mãos trêmulas nos cabelos, evidentemente nervosa.

— O que houve, querida? - Lauren indagou de forma baixa para que Clara não ouvisse.

— Ela não pode continuar a chamá-la dessa maneira, Lauren! Isso não vai dar certo de continuar a ser assim!

Após alguns segundos pensando em como agir, Lauren acenou positivamente com a cabeça e aproximou-se lentamente de Clara que apenas a fitava com a expressão confusa.

  — Clarinha... Você também é minha filha, entende? - Viu a menininha franzir o rosto, fazer um beicinho e assentir, sem muita segurança. - Então pode me chamar de mamãe...

A mais velha viu a pequena morder o canto do lábio e olhar para Camila brevemente antes de fitá-la novamente.  

— Mas... Eu já tenho uma mamãe! - apontou para Camila que apenas fitava a interação das duas - Não posso chamar as duas assim...

 — Você tem razão princesa, seria confuso não é mesmo? - Lauren sorriu nervosamente ao notar que ao menos não havia sido rejeitada pela pequena - Então que tal você me chamar de papa?

— Então tudo bem, pa... papa. - ela repetiu cautelosa.

— Isso, muito bom, temos um acordo então! - sorriu para Clara e se levantou, encarando Camila. - Se ela ficar gaga e tímida como você, será a perdição dos pretendentes...

— Foi um elogio ou uma crítica, Jauregui? - ela indagou, desconfiada.

— Hm... Acho que os dois - Lauren respondeu, sorrindo. - Definitivamente, os dois. Vamos? - Estendeu uma mão para Camila e a outra para a filha.

— Não! Eu quero segurar a mão da mamãe! - reclamou Clara.

— Sua mãe tem duas mãos, querida - disse Lauren. - Cada um pode ficar com uma.

— Não! - a criança protestou. - Clara quer pular!

Camila não conseguiu se conter e riu. Ela não percebia, mas Clara tinha a mesma obstinação da sua 'papa'.

— Com isso, ela quer dizer que também quer a sua mão, para saltar os degraus - explicou, sorrindo.

Assim, Clara voltou para a casa saltando os degraus, segurando a mão da mãe e de Lauren, que não falavam nada, tocadas pelo momento pungente.

No alto da escada, Camila voltou-se para Clara e estendeu os braços.

— Agora eu te levo no colo, está bem?

Clara olhou brevemente para Lauren e depois acenou negativamente com a cabeça.

— A moça vai me levar – Clara murmurou.

— Papa - corrigiu Lauren. – A papa vai levá-la no colo.

— Está bem. - A criança voltou-se para a mãe, sorrindo. - Papa vai me levar.

Lauren se abaixou, ergueu Clara e a fitou seriamente.

— Enquanto eu te levo, também posso segurar a mão da sua mamãe? - pediu.

— Hm... Pode.

— Está bem - ela disse, segurando a mão de Camila. Virou-se para ela e lhe disse ao ouvido: - Não diga nada. Eu sei que Clara me prestou uma grande honra.

— Sei disso. Obrigada por entender e atender o pedido dela.

Lauren apertou a mão da esposa e conduziu-a para dentro da casa em silêncio. Verônica as aguardava para dar banho em Clara e preparar-lhe o chá. Depois que a babá e criança desapareceram pelo corredor, Lauren fitou Camila com expressão infeliz.

— Posso ter você por alguns instantes? Ou o chá e o banho são prioritários?

Normalmente seriam, mas não naquele dia. O delicado relacionamento que tentavam reatar era mais importante.

— Sou toda sua - ela disse, sorrindo.

Camila considerou a etapa seguinte com um período de adaptação em que as duas procuravam à todo o custo fazer o recomeço dar certo. Aparentemente, estavam tendo êxito, auxiliadas pelo fato de Michael ter deixado a casa poucos dias depois. Ele se internara numa clínica na Suíça para fazer uma cirurgia de substituição da válvula cardíaca.

— É perigoso? - ela perguntou a Lauren, tentando esconder a apreensão em sua voz.

— Envolve um certo risco... Mas irá ajudá-lo a suportar os próximos meses - respondeu, fazendo-a perceber a gravidade do estado de Michael.

— E você... Não vai ficar com ele?

— Não, querida. - Ela sorriu. - O orgulho do meu pai não me permite essas liberdades.

Antes de partir com seu séquito, Michael ficou quase chocado com o beijo que Camila lhe deu no rosto.

— Eu voltarei! - esbravejou. - Portanto, não pense que está me vendo pela última vez!

— Você é um velho muito desagradável, mas não lhe desejo mal algum.

— Bah!

Com Michael afastado, a tensão diminuiu. A própria Lauren parecia mais à vontade. Passava a maior parte do tempo em casa, saindo apenas algumas vezes para o escritório em Catânia. Como Camila não voltara a ver Dinah, supunha que ela cuidava dos assuntos internacionais. Lauren aprendia, aos poucos, a aceitar Clara. Não era uma tarefa difícil. A menina era adorável e, com a ausência do avô, adotara a sua outra mãe como a nova figura a quem dedicaria seus afetos. Camila começou a trabalhar no projeto da reforma. Contou seus planos a Lauren, pediu-lhe sugestões. Quando disse que a sala de sinuca seria o quarto do casal, ela decidiu "testar o ambiente" e seduziu-a sobre a mesa.


— O que acha? - perguntou ela enquanto estavam deitadas sobre o tampo verde, nuas e suadas, sem forças para se mover.

— Acho que vai dar certo - murmurou. - Mas creio que teremos que experimentar mais uma ou duas salas antes de tomar a decisão definitiva...

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora