— Do que poderá me acusar? Não dei a você e sua filha tudo o que poderia desejar? Eu lhe dei um lar e meu dinheiro, sem falar no meu nome!
— Pra quê, Lauren? Para proteger seu maldito orgulho italiano!
— Que orgulho? – Abruptamente, ela empertigou-se e deu-lhe as costas. – Você assassinou o meu orgulho quando dormiu aquele homem!
Camila sentiu o peito apertar, em uma torturante compaixão pela mulher que convivia com aquela crença havia quase três anos. Simplesmente acreditar que aquilo pudesse ser verdade era um golpe mortal naquele ego sem tamanho.
— Ah! - Ela brandiu uma das mãos, num gesto de desgosto. - Não vou mais discutir com você. Eu a desprezo. E me desprezo por me dar ao trabalho de lhe dirigir a palavra. - caminhou decidida, até a porta.
— Lauren!
Ela parou, com a mão na maçaneta.
— Sim?
— Por favor... Mesmo que não acredite em mim, Clara não cometeu nenhum crime!
— Eu sei. - ela concordou, inabalável.
— Então, por favor... Por favor, traga-a de volta! Viva!
Ela aprumou o corpo e a fitou. Os olhos duros e frios contemplaram os cabelos longos até a cintura, preso apenas com uma tiara de veludo negro. Camila não era alta e o estilo simples de suas roupas só fazia acentuar seu corpo esguio. Era uma criatura delicada, que parecia preste a romper-se uma lufada de ar mais forte. Uma palavra mais dura poderia quebrá-la em duas. Entretanto... Como se fosse possível, os olhos verdes de Lauren tornaram-se ainda mais inclementes.
- A criança foi sequestrada porque tem meu sobrenome - Ela disse com frieza. - Portanto, farei o possível e o impossível para resgatá-la.
A porta se fechou, deixando Camila zangada. Ela se referia a Clara como "a criança", como se ela fosse uma boneca sem alma! Um mero objeto inanimado que fora roubado!
- Oh!
Ela enterrou o rosto nas mãos, na tentativa de afastar os pensamentos insuportáveis. Sua garotinha, nas mãos de um louco! Que tipo de monstro sem coração tiraria uma filhinha de sua mãe? O que tornava uma pessoa tão cruel, tão má? Ergueu o rosto quando um pensamento sombrio atravessou sua mente. Conhecia apenas uma pessoa capaz de tamanha crueldade: Michael Jauregui. Era muitas vezes mais inclemente do que Lauren. E a odiava. Odiava-a por considerá-la indigna de ser esposa da sua filha. Se Lauren se considerava onipotente, Michael julgava-se Deus.
Ela endireitou o corpo, mas ainda tremia. Um medo terrível invadiu seu coração materno.
❖
Um homem trajando um terno cinza e cara de poucos amigos montava guarda do lado de fora do escritório.
— Onde está Lauren? - Camila perguntou com a voz trêmula. - Minha esposa, onde está?
— A Sra. Jauregui não quer ser interrompida.
Italiano. O sotaque era italiano. Ela estremeceu e passou pelo segurança, ignorando a advertência. Ao abrir a porta, viu Lauren sentada em um canto da sólida mesa de carvalho. Não estava sozinha. Dois policiais lhe faziam companhia, bem como Dinah, seu braço direito. As pessoas reunidas em torno de algo sobre a mesa ergueram a cabeça quando Camila entrou. Ela os ignorou.
— Lauren, eu... - começou, aproximando-se.
A grande mão desligou o aparelho sobre o tampo. Só então Camila registrou algo que sua mente não queria ouvir. Era a voz de sua filhinha, chamando-a.
— Mamãe? Mamãe?
Empalidecendo, ela fechou os olhos, sentido que lhe faltava o equilíbrio.
— Não toquem nela!Reconheceu os braços de Lauren quando ela a amparou, estreitando-a contra seu peito, até colocá-la diante de uma poltrona. Não a soltou até certificar-se de que ela estava confortavelmente instalada. Camila sentiu o coração acelerar, a respiração difícil. Lauren começou a praguejar em voz baixa, em italiano. Camila ergueu a mão fria e pousou os dedos sobre os lábios furiosos da esposa.
— Lolo... - sussurrou fragilmente, sem saber ao certo por que a chamou pelo apelido, que tanto remetia ao passado que tinham juntas. - Minha garotinha... Era a minha garotinha!
Lauren abaixou-se ao lado de Camila, cujos cabelos emanavam um suave perfume. Fechou os olhos, a expressão torturada.
— Shhh... - murmurou, segurando-lhe os dedos frios, tocando-os brevemente com os lábios. - Camila, ela está bem. Ela chamou por você, mas não está aflita. Entende?
Camila desmaiou. Finalmente cedeu às pressões e desfaleceu nos braços da mulher que a amparava. Quando voltou a si, percebeu que já estava em sua cama, com o médico ao seu lado, sorrindo-lhe gentilmente.
— Quero que tome este remédio, Sra. Jauregui - ele murmurou, oferecendo-lhe dois comprimidos brancos e um copo de água.
Camila fez que não, com um gesto de cabeça. Fechou os olhos, tentando recordar o que acontecera. Lembrou-se de ter entrado no escritório. Lembrou-se de ter visto Lauren na sala, além de Dinah e de dois policiais. Lembrou-se de ter se aproximado da esposa e então... Então a lembrança voltou, com uma onda de náusea.
— Onde está Lauren? - indagou ofegante.
— Aqui! - respondeu a voz preocupada.
Camila abriu os olhos e a viu ao seu lado. Ela parecia diferente, despida da costumeira arrogância.
— Os sequestradores voltaram a ligar, estou certa? Ligaram antes do prazo previsto... - Lágrimas começaram a rolar pelo rosto pálido. - Deixaram minha filhinha falar com você...
— Tome os comprimidos que o Dr. Matarazzo lhe deu - foi tudo o que Lauren respondeu.Ela recusou, balançando a cabeça.
— Preciso saber o que eles disseram! - insistiu.
— Só depois de tomar os comprimidos.
— Vocês só querem me fazer dormir. Eu não quero dormir!
— Não são comprimidos para dormir, Sra. Jauregui - assegurou o médico. – Não dormirá se não quiser, mas conseguirá relaxar. A senhora quase teve um colapso, confie em mim. - Ofereceu o remédio novamente.
— Tome o remédio - insistiu Lauren. - Se não tomar, terei que segurá-la para que o médico lhe aplique uma injeção.
Ela obedeceu. Lauren jamais fazia uma ameaça à toa. Depois de certificar-se de que o pulso de Camila estava quase normal, o médico deixou-a sozinha com a esposa.
— Agora pode me contar o que aconteceu - ela murmurou, sem abrir os olhos. - Não terei outra crise nervosa.
— Você não teve uma crise nervosa. Apenas desmaiou.
— Já viu isso acontecer antes, não viu? - ela provocou.
— Sim.
— Na última vez, você simplesmente me deixou caída, se me lembro bem.
Ela virou-se para puxar uma cadeira para perto da cama. Camila, porém, sabia que o movimento servira apenas para ajudá-la a afastar da memória uma lembrança indesejada. Aquele primeiro incidente ocorrera em outro lugar, em outro país, em outro mundo. E ela simplesmente desaparecera, retornando apenas ao saber do sequestro de Clara.
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Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]
RomanceLauren e Camila eram o típico casal perfeito... Até uma suposta traição separar as duas de uma vez por todas. Apesar de todas as tentativas de Camila, Lauren não acreditou em sua inocência e duvidava que Lana pudesse ser sua filha e a mandou de volt...