4.

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— Quando telefonaram? - ela perguntou.

— Pouco depois de eu a ter deixado no quarto.

— O que disseram?

— Não se preocupe. Deixaram muito claro que estão tratando de negócios.

— Que tipo de negócios? - Camila prosseguiu, surpreendendo-se com a calma provocada pelo medicamento que tomara. - Dinheiro?

Ela deu um sorriso cínico.

— É óbvio que querem dinheiro, algo que tenho em abundância.

—É mentira! Eles não querem seu dinheiro!

Lauren franziu a testa.

— Como chegou a esta conclusão?

— Ora, eles são italianos, como você! Se tivesse dito que levaram Clara por vingança, eu acreditaria!

— Por acaso está suspeitando de mim? - indagou friamente.

— Não de você, mas de seu pai.

— Deixe meu pai fora disso! - ela retrucou, os olhos irados.

— Bem que eu gostaria - Camila respondeu. - Mas não posso. Você o desafiou quando se casou comigo e ainda o desafia, recusando-se a divorciar-se e encontrar uma nova esposa. Quanto tempo acha que ele suportaria essa situação sem tomar nenhuma providência?

—Acredita que meu pai se vingaria sequestrando sua filha?

Um brilho cínico iluminou os olhos de Camila.

— Uma coisa ele já conseguiu: Fez você vir até aqui, para enfrentar um problema que devia ter encarado há três anos.

Lauren riu sarcasticamente.

— Se essa é a tática de meu pai, então cometeu um grave erro de julgamento. O que é meu, eu protejo. - Ela estreitou os olhos como uma predadora. - E, embora não tenha mais nenhuma intenção de encostar um dedo em você, cuidarei para que ninguém tenha esse privilégio.

As palavras fizeram-na estremecer por dentro.

— É a sua vingança pessoal?

Lauren não se preocupou em negar:

—Entenda como quiser.

Camila cobriu os olhos doloridos com a mão trêmula.

— Então é melhor dizer isso ao seu pai – falou com a voz cansada.

— Não é preciso. Ele já sabe e não está em condições de fazer nada à respeito. - Levantou-se e devolveu a cadeira ao lugar de onde a tirara. Então a fitou com olhar severo. - Há seis meses meu pai teve um ataque cardíaco. As sequelas deixaram-no preso a uma cadeira de rodas, com a saúde frágil. Não consegue fazer nada sem ajuda. Como poderia ter tramado algo tão trabalhoso como um sequestro? - Debruçou-se sobre a cama de forma intimidante. - Se quiser me ofender, fique à vontade. Mas deixe meu pai fora disso, entendeu?

— Sim - ela murmurou, atordoada com a notícia. Michael doente? O grande, o tirânico patriarca confinado a uma cadeira de rodas? - Sinto muito - disse. Não sentia por Michael e sim por Lauren, que venerava o pai.

— Não preciso de sua simpatia - ela disse, aprumando o corpo. - Só quero que modere sua língua ao falar dele.

Dinah entrou no quarto nervosa.

— Estão ao telefone novamente!

Lauren correu para a porta e Camila tentou segui-la, cambaleante.

—Não! Segure-a! – ordenou à Dinah. Depois saiu e fechou a porta.

— Eu a odeio! - ela sussurrou, desabafando a frustração.

— Ela só está pensando em você – Dinah argumentou gentilmente. - Não é agradável testemunhar uma discussão com aquele tipo de gente.

Camila riu com amargura e sarcasmo.

— Pensa que não sei que estão negociando a vida de minha filha? - Dinah não pôde dizer nada. Afinal, ela falara a verdade. - Maldição! - Camila praguejou, sentando-se na beirada da cama. Não conseguia mais ficar em pé. - Vá embora, Dinah. Não pretendo fazer nenhuma tolice.

Ela suspirou com pesar, mas não saiu.

— Sei que não sou a melhor companhia no momento - ponderou melancolicamente - mas éramos amigas, lembra?

Amigas. Certa vez, no passado, chegara a considerá-la sua única amiga num mundo de inimigos. Naquela época, sentia-se muito só no mundo de alta sociedade que Lauren lhe apresentara. E desconfiava de todos que a rodeavam. Dinah era a única pessoa com quem podia contar quando Lauren não estava por perto. Mas, quando sua sorte virou, até mesmo Dinah lhe dera as costas.

— Não preciso de ninguém, só da minha filha.

— Lauren a trará de volta - ela respondeu com tranqüilidade. - Mas você precisa confiar para que Lauren possa agir como achar melhor.

Confiar...

Ela franziu as sobrancelhas. A velha palavra, novamente.

— Os sequestradores ligaram antes do horário previsto, não foi?

Ela deu de ombros, realçando a elegância do vestido caro.

— Estavam nos seguindo - explicou. - Rastrearam nossa viagem do Brasil até aqui, mas não imaginavam que viajaríamos num Concorde. Portanto, erraram os cálculos. - Cruzou, a expressão séria. - A notícia deixou a Lauren muito abalada. Nunca a vi assim. Não desde que...

Dinah se calou, estava a ponto de dizer "desde que descobriu sua traição".

— Lauren contou que Michael está doente - ela comentou, procurando mudar de assunto.

— Foi terrível - Dinah confirmou. - Sorte ele estar em Miami quando tudo aconteceu. De outra forma, não teria sobrevivido.

Miami? Camila franziu a testa. Michael jamais iria a Miami. Vivia dizendo que odiava a cidade.

— Ele passou dois meses internado antes de estar em condições de voltar para casa. E Lauren praticamente não saiu da cabeceira do pai durante duas semanas.

- Oh!

Lauren estivera tão perto de sua casa e ela nem soubera...

— O caso foi mantido em segredo, claro - Dinah prosseguiu. - Desde então, Lauren assumiu tudo, está fazendo o trabalho de duas pessoas.

— Pobre Lolo - ela escarneceu. - E agora isso...

Um brilho perigoso iluminou os olhos de Dinah.

— Não zombe dela. Não tem esse direito. E, afinal, ela está aqui, não está? - O sangue italiano começou a inflamar as palavras da assistente. - Veio sem pensar duas vezes, quando a maioria teria lhe dados as costas!

— Você faria o mesmo?

Naquele momento, a porta se abriu. Lauren entrou no quarto e parou, fitando-as com um olhar frio.

— E então? - ela perguntou, ansiosa.

— Fique calma. Ainda estão negociando. Tenha em mente que estão barganhando muito mais do que a vida de sua filha.

— Barganhando? - Ela ofegou. - O que está tentando barganhar? Pague o resgate! Traga minha filha de volta! - Notou o olhar sombrio de Lauren e insistiu: - Quanto pediram?

— Isso não está em discussão.

Camila sentiu algo desmoronar dentro do peito.

— Estão pedindo muito, não estão? - sussurrou. - Querem mais do que você conseguiria levantar neste momento...

Rumor Has It • Camren G!P [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora