Capítulo 14

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Percebi que acordara muito cedo quando vi papai em pé na sala, ajeitando sua gravata. A noite tinha sido péssima pra mim, mal preguei o olho, estava destruída e cheia de olheiras.
— Bom dia, querida. — Papai me olhou descer a escada. — Tão cedo acordada.
Sorri sem abrir a boca. — É. Estou sem sono.
Minha mãe e Patrick ainda estavam sentados na mesa tomando café, me juntei a eles.
Eu não conseguia encarar minha mãe por muito tempo, vinha um monte de pensamentos na minha cabeça e a vontade de confrontá-la era muito grande.

Depois do café, dei um jeito no meu quarto, pois era terça, dia que Martin não tinha aula na faculdade, ele viria até minha casa. Tinha dito à ele na noite anterior que eu dera uma geral no meu quarto, precisava fazer isso antes que ele chegasse e percebesse que eu havia mentido.

Acabei a arrumação, tomei um banho e esperei por Martin. Ele chegou alguns minutos depois. Trouxe um pote de sorvete de flocos para Patrick, que saltitou de alegria. E para mim, um beijo molhado e caloroso, era melhor que qualquer presente.
Minha mãe adorava quando Martin ia à nossa casa, ela também adorava quando sua mãe inventava almoços familiares, a Dona Lúcia e minha mãe eram tão parecidas, zelavam muito pela união familiar. Mas era estranho saber que ela e o sr. Oswaldo estavam passando por uma situação complicada no casamento.

Minha mãe fez para o almoço strogonoff de camarão, estava maravilhoso, como tudo que ela fazia. Martin como sempre elogiou bastante a comida, deixando-a feliz e sorridente.
Depois do almoço, fomos para o meu quarto. Estávamos deitados na cama vendo filme, eu estava com a cabeça encostada no seu peito. Sua mão esquerda acariciava meu braço, ficaria ali com ele por horas. A sensação de tê-lo comigo era magnífica. Não importava quanto tempo se passava, eu o amava cada vez mais.
— Quer ir à cabana? — Ele perguntou quando o filme acabou.
Levantei a cabeça e o encarei.
— Adoraria, mas preciso ir à casa de Petterson.
Ele me olhou por um tempo, não havia gostado. Eu nunca recusava ir até a cabana.
— Hum. Tudo bem. — Ele se levantou. — Pelo visto vocês têm muito para conversar. Estava lá ontem e ainda sim precisa voltar hoje.
Fui em sua direção.
— Sim. Ele é meu melhor amigo, temos muito o que conversar mesmo.
Ele me olhou com frieza.
— E eu sou seu namorado! — Ele ficou imóvel.
Respirei fundo e cheguei mais perto dele. Ele queria passar mais tempo comigo, pois depois que terminamos os estudos, ele passou a fazer pequenos shows com a banda em bares, e há duas semanas ele começou a faculdade. Quase não tínhamos tempo para ficarmos juntos. Terça era o dia mais livre para me ver.
Acariciei seu rosto.
— Desculpa, mas eu preciso ir à casa dele hoje.
Ele permaneceu imóvel e com o olhar distante.
— Eu durmo com você hoje, que tal?
Ele deu um sorriso de lado e me puxou pela cintura.
— É bem tentador. — Ele me beijou. — Então eu levo você lá. — Assenti. — Depois te busco e vamos direto pra minha casa.
Balancei a cabeça, concordando e o beijei mais.

A parte mais difícil seria falar com a minha mãe, se fosse há alguns meses atrás ela deixaria sem problemas, mas ela estava tão cheias de regras que não sabia se deixaria.

Ela concordou sem nenhum questionamento, talvez fosse para se redimir por me mandar ir para casa aos gritos no domingo. Ou porque Martin estava por perto. Não sabia.

Petterson estava em seu quarto, fui até lá. Bati na porta e entrei, ele estava com fones de ouvido na mesa do computador, de costas para a porta, então nem me viu chegar. Andei até ele e assoprei seu pescoço, ele deu um pulo da cadeira. O que me fez cair na gargalhada.
— Allysson, assim você me mata do coração.
Ele estava ofegante e com a mão no peito, não pude segurar a risada. Ele fez cara de bravo, mas logo depois caiu na gargalhada também.
— Por favor, me conte o que descobriu. Não estou aguentando mais de tanta curiosidade. — Ele sentou na cama.
Sentei ao seu lado, o encarei e respirei fundo. Não sabia nem por onde começar.
— Lembra quando Mag ficava me perturbando, falando que sabia algo sinistro da minha mãe?
— Ally... Não acredito que foi lá por causa disso, tá na cara que ela só falava aquilo pra chamar atenção.
— Foi o que eu achei... Até ouvir uma conversa muito estranha da minha mãe. Ela falava no telefone com meu pai, e dizia que tinham que fazer alguma coisa pelo bem de uma pessoa.
Petterson arregalou os olhos.
— E que pessoa?
— E-eu não sei, ela não falou. Mas ela disse "pelo bem dela", então presumi que se tratasse de uma mulher.
— Que sinistro. Então por isso foi atrás de Mag?
— Sim, imaginei que talvez ela estivesse falando a verdade.
— E ela estava? — Ele levantou as sobrancelhas.
Abri a bolsa e tirei do envelope as fotos, entreguei pra ele. Ele ficou de boca aberta quando viu as fotografias.
— E tem mais. — Eu disse. — Esse cara, é o mesmo que eu vi discutindo com meu pai naquela noite da pizzaria.
O homem era branco, alto, barba grande, cabelo castanho claro e olhos familiares. Ele devia ter a mesma idade do meu pai. Tinha uma cara bem barra pesada.
— Meu Deus, Ally. — Ele me encarou ainda surpreso. — O que será que está acontecendo?
— É o que estou tentando descobrir.
— Olha... Seja lá o que for, é algo bem sinistro e perigoso. — Ele me devolveu as fotos. — Tem certeza que quer entrar nessa?
Fiquei em silêncio por algum tempo. Realmente era algo perigoso, mas o que eu poderia fazer? Meus pais estavam envolvidos, eu precisava saber o que era.
— Não tenho certeza de nada, mas já entrei nessa história. Não dá pra sair.
— Tudo bem, mas tome cuidado.
— Vou tomar. — Balancei a cabeça.
— Contou para Martin?
Me levantei.
— Não e nem pretendo. — Ele me encarou, intrigado. — Eu o amo muito, mas ele vai me chamar de louca e me mandar esquecer essa história. Já estou até vendo ele arrumando argumentos para defender meus pais.
— É... — Ele ficou pensativo. — Talvez seja melhor não contar.
Cheguei mais perto dele e segurei suas mãos. — Petterson, eu preciso da sua inteligência. Você não tem nenhuma ideia do que possa estar acontecendo?
Ele pensou um pouco.
— Eu preciso raciocinar, agora não consigo pensar em nada.
— Tudo bem. Mas promete pra mim que vai dedicar um pouquinho do seu tempo à pensar nessa história? — Fiz beicinho.
— Tá, tudo bem. — Ele pegou meu braço e me levou na direção do computador. — Agora dê uma olhada nas peças que estou desenhando.
Petterson não queria fazer faculdade, então se dedicou ao curso de desenhos de roupas e acessórios, até que ele tinha criatividade e desenhava coisas lindas. Ele me mostrou alguns vestidos e bolsas que estava desenhando. Queria ajuda para escolher algumas peças, pois ele tinha que apresentar em seu curso. Se os desenhos realmente ficassem bons, o professor encaminhava para uma empresa de confecção, e ele ainda sairia lucrando. Cada semana ele deveria apresentar quatro modelos diferentes. Era trabalhoso, mas ele estava adorando, e realmente tinha talento.

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