Capítulo 23

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Acordei nua e aninhada em seus braços. Martin estava acordado e me observava.
- Bom dia. - Ele sorriu e beijou minha testa.

Martin se arrumava para ir à faculdade. Eu estava sentada na cama, admirando-o. Penteava os cabelos com todo cuidado. Ele era um homem muito vaidoso. Fazia questão de se arrumar bem, se perfumar e deixar os cabelos sempre penteados.
- Hoje é sexta. - Ele disse, sorrindo, enquanto apertava o cinto na calça. - Dia de show.
- E onde meu namorado irá tocar hoje?
- Coffe's House.
Minha boca ficou seca e não consegui falar mais nada.
- O que deu em você? Não gosta de lá?
Foi naquele café que minha mãe se encontrou com seu estuprador, Mag me disse quando me entregou as fotos. Eu, Mag e Petterson costumávamos sempre frequentar o local finais de semana, sempre tinha ótimas atrações. Mas desde a época que Mag me entregou as fotos, não havia voltado lá.
- Gosto, claro. - Sorri, para disfarçar o incômodo.
Ele me olhou encabulado, mas logo voltou a animação.
- A dona queria fechar conosco para tocarmos lá toda sexta. Mas não pude aceitar, não ainda.
- Porquê?
- O empresário de uma banda bem famosa, Red Waves, foi à um de nossos shows um dia desses. Gostou muito do nosso som. Kevin ficou empolgado e acabou nos fazendo tocar um pedaço da música nova para ele.
- Foi a mesma música que Tiffany tentou registrar?
- Sim, foi. Ele se interessou bastante pela música. Fez uma proposta: poderíamos abrir o show da Red Waves se fôssemos tocar essa música. Com o problema que Tiffany nos arrumou, pensei que não daria tempo. Mas vai dar, o show será na quinta. Até lá a música já estará registrada.
- Ah, que ótimo. Mas o que isso te impede de fechar com a dona do Café às sextas?
- Agora que chega a melhor parte. - Ele sentou ao meu lado na cama. - Se fizermos uma boa abertura, ele deixará abrirmos todos os shows da banda que forem aqui no bairro e região. E prometeu pensar em nos empresariar e arrumar patrocinadores. Por isso não posso fechar com a dona do Café agora, preciso esperar pra ver se isso dará certo.
- Ah, meu Deus, Martin. Isso é muito bom! - Comemorei. - Com certeza ele gostará de vocês. E com o tempo poderão fazer seus próprios shows.
- Espero. - Ele suspirou.- Mas deixa eu voltar a me arrumar, pois já estou atrasado.

Martin me deixou na casa dos meus pais. Minha mãe insistiu para que ele entrasse. Foi difícil explicar para ela que ele estava atrasado para a faculdade.
- Venha cá, me dê um abraço, querida.
Minha mãe me puxou para um abraço pegajoso.
- Onde está Patrick?
- Ah, está na escola.
Ainda não tinha me acostumado que meu pestinha já estava estudando.
- Daqui a pouco seu pai chega para o almoço. - Ela disse. - Quer me ajudar a preparar?
Minha mãe nunca gostou que eu arrumasse a casa ou lavasse minha roupa, fazia isso com muito apresso. Apenas exigia que eu e Patrick mantivéssemos nossos quartos em ordem. Mas ela adorava quando eu a ajudava na cozinha. Seu sorriso se iluminava.

Ajudei a descascar alguns legumes, enquanto ela preparava a carne.
Olhava para ela e tinha vontade de contar sobre o encontro com meu pai biológico, rápido e inesperado, mas não conseguia.
Ele me salvara de um estupro, coisa que fez com minha mãe há 19 anos atrás. Por que me salvar? O fato de estar lá era muita coincidência. Lembro que Martin andou em ruas aleatórias até ficarmos certos de que não havia ninguém nos seguindo.
Ele chegou, de repente, deu dois socos no cara e saiu. Apenas me lançou um olhar frio.
Não queria que minha mãe soubesse disso, ficaria mais preocupada. Ela e meu pai já enfrentaram muitos problemas. Eles precisavam de paz.

Papai chegou um pouco antes do almoço ficar pronto. Ele buscara Patrick no colégio. O pestinha quando me viu, correu em meus braços e me abraçou.
- Ally! - Ele se aninhou em meus braços.
Papai ficou em pé, na bancada da cozinha me observando. Fui até ele e o abracei.

Depois do almoço fui até meu quarto. Minha cama continuava do mesmo jeito em que eu deixara, arrumada e com meu cheiro. Admirei a guitarra azul com roxo que Martin me dera no meu aniversário. Ela estava pendurada na parede, como uma escultura valiosa.
Sentei em minha cama e peguei o porta retrato que estava na cabeceira, uma foto minha com Martin iluminava o quadro. Parei pra pensar na minha vida alguns meses atrás. Eu era uma menina vazia, que se escondia ao máximo de tudo e de todos. Sempre quieta, calada, apenas observando as pessoas à minha volta. Às vezes era piada dos meus colegas de classe, por ser tão fechada e desastrada. Mag e Petterson sempre estiveram comigo, éramos os diferentes. Depois que Martin surgiu, tudo mudou. Ele conseguiu iluminar não só minha vida, mas das pessoas à minha volta. Ele era a paz que eu precisava. O conforto que eu merecia. E o ponto de equilíbrio que eu ansiava.

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