Capítulo 15

22 2 0
                                    

Papai chegou, veio no quarto me dar um beijo. Logo depois Martin também chegou. Papai ainda estava no meu quarto. Os dois se cumprimentaram e papai saiu.
Ele sentou ao meu lado na cama e me deu um beijo.
— Hoje não teve show?
— O dono do bar que iríamos tocar passou mal, não abriram.
— Ah, que pena.
— Que cara é essa? — Ele disse.
O encarei surpresa.
— Oi? Como assim?
Ele deu um sorriso irônico e encostou a cabeça na cabeceira da cama.
— Namoramos há cinco meses, mas te conheço muito bem. — Ele me olhou.
— Você está ficando louco. — Eu ri, sem graça. — Estou normal.
Ele levantou as sobrancelhas.
— Não está.
— Ata. — Cruzei os braços. — Então estou como?
— Diferente. Distante. Tensa.
Coloquei os cabelos atrás da orelha.
— É impressão sua.
— Tudo bem.
Sabia que ele não tinha acreditado. Mas não insistiu no assunto.
Que tipo de força ele tinha sobre mim? Não conseguia deixar nada escapar dele, ele percebia tudo em mim. Até as expressões que eu evitava demonstrar.
Ficamos um tempo em silêncio e depois ele começou a falar.
— Tenho algo pra te contar.
— O quê? — Perguntei.
Ele se ajeitou na cama. Pensou um pouco.
— Vou morar sozinho.
— Mas por quê? — Me espantei.
Ele me encarou.
— Ally, eu já tenho 21 anos. Estou ganhando meu próprio dinheiro com a banda. — Ele levantou a cabeça. — Já está na hora de eu me tornar independente e sair das asas da minha mãe.
Balancei a cabeça concordando.
— Mas sabe que ela vai pirar, né?
Ele riu. Fazia isso da forma mais sexy.
— Eu sei. Mas depois se acostuma.
— E pretende fazer isso quando? Já sabe onde vai morar?
— Essa semana, talvez sábado. Tem um bom apartamento para alugar no prédio onde Bea mora.
— Mas por que tão rápido?
— Porque não tem o que esperar. Irei amanhã conversar com o imobiliário.
— Você quem sabe. — Dei de ombros.
Deveria estar feliz por Martin. Ele estaria dando um grande passo, que seria se tornar independente. Mas esse era o meu medo. Ele estava cada vez mais auto suficiente, dono do seu próprio nariz. Estava cheio de compromissos e obrigações. De alguma forma, isso poderia nos afastar. Já não teríamos tanto tempo pra ficarmos juntos. Era um pensamento egoísta, eu sabia. Mas o medo de perdê-lo falava mais alto.
Ele ficou me encarando por um tempo, eu nem o olhei.
— Não gostou da ideia?
— Claro que gostei. — Sorri.
— Sei. — Ele levantou. — Bom, vim aqui pra te contar essa novidade. — Ele sorriu. — Agora que já sabe, preciso ir. Tenho algumas coisas pra resolver.
Ele me deu um beijo rápido e saiu.

Me esforcei para gostar da ideia, mas não consegui. Martin havia mudado, estava mais confiante de si e independente, qualquer namorada ficaria feliz, mas eu só conseguia imaginar o quanto podíamos nos afastar. Sei que ele tinha outras coisas pra se preocupar, não tinha apenas eu em sua vida. Mas me acostumei sendo o centro das atenções de Martin, ele sempre estava disponível para mim. E depois tudo mudou, era faculdade, shows, ensaio com a banda, projetos para apresentar... Eu estava ficando em segundo plano, ou em terceiro, quarto...

No jantar, observei o chaveiro pendurado na bermuda da minha mãe.
— É... Mãe, será que poderia me emprestar seu chaveiro? Perdi minhas chaves de casa, preciso tirar uma cópia.
Ela me olhou, sem expressar nenhuma reação. Depois olhou para meu pai.
— Dou ao seu pai para ele tirar para você.
Sorri, mas queria mesmo era socar a mesa de raiva.
Não teria jeito de abrir aquele baú sem as chaves.
Mas logo me lembrei de Mag. Na escola, ela vivia perdendo as chaves do armário, e com um arame, ela conseguia abrir sem precisar ter as chaves. Abrir um baú seria moleza para ela.

— Às ordens. — Ela atendeu.
— Mag, preciso que venha até minha casa amanhã.
— Nós não somos mais amigas pra ficarmos frequentando a casa uma da outra. — Ela parecia se divertir.
— Pouco me importa, mas eu preciso de um favor seu. — Ela ficou em silêncio. — Por favor, Mag. Estou lhe implorando.
— E qual é o favor?
— Perdi as chaves do meu baú, queria que abrisse pra mim com arame, igual fazia na escola.
— Me conta a história correta e te ajudarei.
Virei o olho.
— Tá, tudo bem. Venha aqui amanhã à tarde e eu te conto tudo. Não esqueça do arame.
Desliguei.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora