Capítulo 4

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Papai almoçou conosco e depois foi trabalhar.
Fiquei pensando o motivo de Mag ter ficado estranha, foi logo depois de ter contado que beijei Martin. Será que ela ficou interessada nele e achou que eu a tivesse traído? Ela ficou bastante eufórica com a chegada dele na classe, talvez queria ter uma chance com ele e eu estraguei tudo.
Não estava disposta a perder minha amizade por causa de Martin, se esse fosse realmente o motivo de ela estar estranha comigo, eu me afastaria dele. Sabia que seria difícil, pois ele estava me mostrando um novo mundo, com novas pessoas, mas minha amizade com Mag era mais importante.
Liguei para Petterson, queria saber se ele já tinha conversado com Mag.
- E aí? Falou com ela?
- Sim. Ela disse que estava chateada com você, mas não quis dizer o motivo. Mas eu posso adivinhar.
- É. Eu também posso. Martin!
- Olha, Ally. É uma situação bem difícil, eu sei. Mas...
- Não, não é difícil. Eu vou me afastar de Martin. - Interrompi Petterson.
- Você não acha precipitado?
- Não. Mag é minha melhor amiga, e não quero perdê-la por causa dele.
- Sim. Só que você está se sacrificando enquanto ela age feito criança.
- Não é sacrifício.
- Ally, como não? Você não dava chance pra nenhum rapaz se quer se aproximar de você. Agora que deixou, você vai abrir mão e me dizer que não é nenhum sacrifício. Desculpa, mas não acredito.
Respirei fundo, sabia que Petterson estava certo. Ele me conhecia muito bem, parecia que lia meus pensamentos.
- Tá. Admito que estava gostando de ter Martin por perto. Mas a minha amizade com Mag é mais importante.
- Tudo bem, Ally. Nós nem sabemos se foi realmente isso que a deixou chateada. Só peço que espere para não se precipitar.
- Ta bom.
Petterson tinha razão, tinha que conversar com Mag antes de tomar qualquer atitude. Então resolvi ligar pra ela. Chamou e caiu na caixa postal.
- Allysson? - Minha mãe bateu na porta do quarto.
- Entra.
- Tem um rapaz lá fora. Acho que é o filho da diretora.
Dei um pulo da cama, o que Martin queria que não podia falar por telefone? Ajeitei meu cabelo que estava um horror, troquei minha roupa de mendiga e disse para minha mãe deixá-lo subir.
Ele apareceu na porta do meu quarto, muito sexy. Eu nunca me acostumaria olhar pra ele e não paralisar.
Fiz sinal pra que ele entrasse e sentasse em uma das poltronas que havia do lado da minha cama.
- O que te traz aqui?
- Ally, aconteceu algo. - Só então reparei que seu olhar era de preocupação.
- O que?
- Sua amiga, Magda, me ligou dizendo um monte de besteiras. Eu não sei como ela conseguiu meu número.
- Não foi eu quem dei. O que ela disse?
- Que eu tinha que ficar com ela, não com você. Que você não passa de uma garota chata e mimada que só sabe desprezar os caras. - Ele passou as duas mãos no joelho. - Ally, eu não entendi nada.
Fiquei sem reação. Ela era minha melhor amiga, como podia dizer coisas horríveis de mim?
- Desculpa está fazendo você passar por isso. Eu vou me resolver com ela.
- Ally, não se afasta de mim por causa disso. Só me promete isso.
- Ela é minha melhor amiga, Martin. Infelizmente não posso te prometer nada.
- Ally, ela falou coisas horríveis de você.
- Tá, com certeza foi em um momento de raiva.
- Ela me pareceu bem calma na ligação.
Aquilo me doeu bastante. Mag estava me apunhalando pelas costas. Mas mesmo assim, não podia deixar que se afastasse de mim.
- Me leve a casa dela. - Levantei decidida.
- Quê? - Martin permaneceu sentado.
- Eu preciso conversar com ela. Vou com ou sem você. - Saí do quarto e desci as escadas.
- Espera! - Ele me alcançou em fração de segundos e me agarrou pela cintura. - Eu vou te levar.
Pedi permissão à minha mãe e disse que não iria demorar.
Disse para Martin ficar no carro, se Mag o visse comigo só iria piorar as coisas.
Sua mãe, Dona Lia, me atendeu, educada como sempre, e pediu para que eu fosse até o quarto de Mag.
Estava sentada na cama escrevendo algo em um papel, ela me olhou e continuou escrevendo.
- Não devia estar aqui.
- Mag, a gente tem que conversar. Você não acha?
- Não, não acho. Você não quis conversar comigo quando resolveu beijar Martin.
- Meu Deus, Mag. Como eu iria adivinhar que você estava interessada nele?
Ela não respondeu, continuou escrevendo como se eu não estivesse mais ali. Me aproximei e sentei ao seu lado.
- Eu me afasto dele. É isso que você quer?
- Agora não adianta, ele já está apaixonado. - Dava pra ver nos seus olhos que ela estava me odiando muito.
- Quê? Não! Eu vou me afastar dele, não tem...
- Droga, Ally. Ele falou pra mim. Ele me falou, ok? - Ela levantou e apontou para a porta. - Agora vai embora.
Por que Martin falaria pra ela que estava apaixonado por mim? Era impossível ser verdade. O cara me conheceu não tinha nem uma semana.
Fui embora, fiquei triste em saber que Mag estava me odiando tanto. Não queria vê-la sofrer, mas eu também estava sofrendo demais.
- Como foi?
- O que disse à ela?
- Como assim?
- O que você falou pra ela quando ela te ligou? - Ele ligou o carro e arrancou. - Reponde, Martin.
- Responder o que se ela já te falou?
- Que droga, Martin. Ela está arrasada.
- Eu lamento muito, Ally. Mas não temos culpa. - Ele era ainda mais sexy dirigindo. Manuseava o volante com muita leveza.
- Ela é minha melhor amiga. Não posso perdê-la por isso. Não posso!
Quando me dei conta, minha voz estava embargada e eu estava aos prantos. Quando Martin percebeu que eu estava chorando, rapidamente parou o carro no acostamento.
- Meu Deus, Ally. Pare de se torturar por isso. Você não tem culpa de nada. - Ele chegou mais perto e acariciou meu rosto. - Não chore!
Aos poucos ele conseguiu me acalmar. Demos várias voltas no quarteirão da minha residência, ele só me deixou em casa quando se assegurou de que eu estivesse mais calma.
A primeira coisa que fiz quando entrei no meu quarto foi ligar pra Petterson, tinha varias chamadas perdidas dele.
- Oi.
- Eu fui na casa dela, Petterson. Ela está arrasada. - Chorei de novo.
- Calma, Ally. Pelo visto você também está.
- O que eu faço? Martin não quer que eu me afaste, eu também não quero. Mas não posso deixar que Mag sofra e me odeie.
- Esse assunto é muito delicado pra tratarmos por telefone. Meu pai está viajando a trabalho, você pode vir aqui amanhã? Peço o motorista para lhe buscar.
- Tudo bem.
Alfredo era o motorista particular da família de Petterson, ele era muito gentil e prestativo. Petterson não tinha mãe, ela morrera quando ele tinha 3 anos, num acidente de carro. Desde então, era só ele, seu pai e o irmão mais velho, Caio. Mas ele morava fora do país, só vinha em temporadas.
Era à tarde quando minha mãe estava arrumando as malas para a viagem. Ela pediu minha ajuda para arrumar as coisas de Patrick. Ele ainda insistiu para que eu fosse, me deu uma pena, mas não gostava de praia e nem de sol, seria um saco pra mim.
Quando papai chegou já estava tudo pronto para eles seguirem viagem. Nós ainda jantamos juntos.
- Filha, você vai passar a noite sozinha e amanhã vai para a casa de Mag? - Meu pai perguntou preocupado.
Só então me dei conta de que estava brigada com ela e não poderia ficar na sua casa.
- Posso ficar na casa de Petterson? É que eu e Mag não estamos muito bem.
- Tudo bem, Petterson também é uma boa pessoa. Mas por que brigou com Mag? Ela é uma ótima menina.
- Coisa boba, daqui a pouco a gente se resolve.
Mandei uma mensagem para Petterson perguntando se eu podia me alojar na casa dele até terça, ele adorou a ideia e disse que íamos nos divertir muito no final de semana. Ele pediu para que quando Alfredo fosse me buscar, que eu levasse minhas coisas.
Me despedi dos meus pais e de Patrick. Minha mãe perguntou diversas vezes se eu iria ficar bem dormindo uma noite sozinha, disse para eu fechar tudo e ligar se precisasse de algo. Parecia meio paranóica, acho que se devia ao fato de eu nunca ter dormido sozinha, nem mesmo quando ela estava doente. Papai contratava uma babá nos dias que precisava dormir no hospital com minha mãe. Foi assim por uns dois anos até minha mãe se recuperar do câncer.
Fechei todas as portas e janelas, deixei o alarme ligado e fui para o quarto, tinha que me precaver.
Como no outro dia seria sábado e eu não teria aula, aproveitei pra ver episódios de Criminal Minds até tarde.
Meu celular vibrou em cima de cômoda. Era Martin.
- Oi.
- Não é seguro uma menina dormir sozinha em casa.
- Quê? Como sabe que estou sozinha?
- Vi seus pais e seu irmão saindo com malas. Vão viajar?
- Está me vigiando, Martin? - Disse num tom de reprovação.
- Não, eu estava passando. Não fique brava e responde minha pergunta.
- Hum, sei. Eles vão viajar sim.
- E por que não foi também?
- Eles vão para nossa casa de praia no litoral. E eu detesto areia e sol.
- Bem o seu tipo mesmo. - Ele riu. - Vou ficar daqui te vigiando essa noite, só pra garantir sua segurança.
- Oi? Me vigiando de onde?
- Olhe da varanda do seu quarto.
Me levantei e fui até a varanda, vi o carro de Martin parado do outro lado da rua. Ele abaixou o vidro e me mandou um beijo, minhas pernas bambearam e meu corpo perdeu o equilíbrio, tive que me segurar na sacada da varanda.
Ele era louco. Iria passar a noite toda ali, me vigiando. Será que realmente ele estava apaixonado por mim? Não, não dava pra acreditar, não em tão pouco tempo.
Fiquei na varanda por algum tempo, conversando com ele por telefone e o olhando sem parar para o outro lado da rua. Estava um pouco longe, mas dava pra observar sua pele corada, seu cabelo macio e sua boca carnuda, ele era magnífico, respirava beleza e sensualidade.
Por volta das 10:00, fui acordada com a ligação da minha mãe.
- Allysson, está tudo bem?
- Sim, mãe. E com vocês?
- Também. Chegamos aqui por volta das 04:00 da manhã. Patrick ainda está dormindo, ficou muito cansado. Quando ele acordar vamos até a praia.
- Que bom. Se divirtam.
- Era pra você está aqui também, meu amor. - Sua voz ficou um pouco triste.
- Já prometi que na próxima eu vou.
Olhei da varanda e Martin ainda estava lá, troquei de roupa e quando olhei de novo, já tinha ido embora. Pensei em ligar para agradecer, mas achei melhor não.
Tomei um café nada saudável, batata frita e frango empanado.
Petterson me mandou uma mensagem às 11:00 dizendo que Alfredo estava indo me buscar. Corri para arrumar minha mala, não levei muita coisa, só o essencial, e botei algumas peças de roupas de sair, não sabia se Petterson iria querer passear no fim de semana.
Alfredo chegou alguns minutos depois, me cumprimentou e me ajudou com a mala.
Quando estávamos no carro, à caminho da casa de Petterson, Martin me mandou uma mensagem dizendo que queria sair comigo à noite. Não respondi, não sabia o que mandar. Tinha que resolver minha vida com Mag, pra depois pensar se poderia continuar me encontrando com ele
Petterson me recebeu muito bem, perguntou se eu preferia dormir no quarto de hóspedes ou no seu quarto, achei melhor no seu quarto. Então ele guardou minhas coisas lá.
A casa de Petterson era luxuosa, seu pai tinha bastante dinheiro, era empresário de grandes bandas. Eles tinham diversos empregados. Mas nunca deixaram de ter humildade.
Almoçamos, a comida estava ótima.
Petterson me convidou para passear no seu jardim para ficarmos mais à vontade para conversar. O jardim era bastante florido e cheiroso, sentamos em uma das cadeiras que havia lá.
- E então, como está se sentindo?
- Péssima. Não sei o que faço.
- Eu entendo, Ally. Não queria estar no seu lugar. Mas você ainda está disposta a se afastar de Martin?
- Não sei.
- O que conversou com Mag?
- Eu fui na casa dela, porque Martin veio me dizer que ela disse coisas horríveis de mim.
- Meu Deus, o que ela disse?
- Que eu não o merecia, que eu só sabia desprezar os caras e quem tinha que ficar com ele era ela.
- Nossa. O que ela fez foi muito grave. - Petterson ficou muito chateado.
- Mas ela está certa.
- Não está. Ally, você é uma menina incrível e foi magoada por um idiota. Você só não queria sofrer de novo e se afastava dos rapazes que chegavam em você. E agora está agindo diferente com Martin porque ele está sendo um cara legal. Não tem mal nisso.
- Eu sei. Mas Mag gosta dele, e está sofrendo por isso. Talvez seja melhor eu me afastar dele mesmo.
- Ally, vocês duas são minhas amigas. Não quero ter que escolher um lado para ficar, mas você acha justo se sacrificar por Mag, enquanto ela age feito uma menina mimada?
- Mas como vou deixar que ela sofra e me odeie ? - Procurei respostas nos seus olhos, nas não encontrei. - E Martin ainda disse a ela que estava apaixonado por mim.
- Ele disse isso? - Petterson afastou os óculos.
- Sim. Claro que não é verdade. Mas isso com certeza ajudou Mag a me odiar mais.
- Allysson, seja sincera comigo, você está gostando de Martin?
Pensei em mentir, mas não adiantaria, Petterson me conhecia muito bem.
- Que droga, ele está me fazendo um bem danado. Não é paixão, não tem nem uma semana que nos conhecemos, mas eu gosto de estar com ele, de falar com ele. - Passei a mão nos meus cabelos com violência. - Mas que merda!
- Então pensa bem. Porque você parece estar gostando dele e ao que tudo indica, ele também. Vai valer a pena largar isso?
- Mas e Mag? Não posso deixá-la sofrer.
- Não passa pela sua cabeça que Mag também está sendo muito egoísta? - Ele sentou mais perto de mim e pegou minha mão. - Ela só está pensando no lado dela, não vê que você também está sofrendo. Se ela realmente te tem como melhor amiga, deveria conversar com você à respeito disso e não agir feito uma menina de 7 anos.
- Eu sei. Mas...
- Não tem mas, Ally. Para de inventar argumentos para defender alguém que não está nem aí pro seus sentimentos. - Ele apoiou uma das mãos na cabeça. - Tá vendo?! Acabei escolhendo um lado pra defender.
Fiquei pensando no que Petterson me disse, ele não estava errado. Mag não se importou em pensar que eu também estaria sofrendo e ainda disse coisas horríveis de mim para Martin, uma verdadeira amiga nunca faria isso. Não queria perdê-la, mas Petterson me mostrou que eu não podia sacrificar minha felicidade, enquanto ela me ignorava e se comportava como uma egoísta. Decidi não me afastar de Martin, Petterson aprovou minha decisão. Sabia que era difícil pra ele escolher um lado pra ficar, mas ele estava disposto a comprar minha briga se fosse preciso.
Respondi a mensagem de Martin, perguntei onde iríamos a noite. Ele respondeu dizendo que era aniversário da Bea, sua melhor amiga, e que ela convidou eu e Petterson. Iria nos buscar às 20:00, disse à ele que estava na casa de Petterson, passei o endereço e pedi para que nos buscasse lá. Ainda bem que botei algumas roupas de sair na mala.
Perguntei se Petterson estava afim de ir, ele concordou, disse que os amigos de Martin eram legais e que o tratou muito bem.
Passamos a tarde vendo shows das nossas bandas favoritas, uma inclusive era empresariada pelo pai de Petterson, The Splinters .
Às 20:00 Martin mandou uma mensagem dizendo que estava lá fora e que era pra sairmos. Usei uma saia azul marinho de cós alto com uma blusa branca de alcinha, Petterson que escolheu, até que tinha gostado. Petterson estava com uma blusa pólo cinza, calça jeans e tênis, também estava um charme, meu amigo tinha uma beleza bem exótica.
Entramos no carro de Martin, ele estava maravilhoso, vestia calça jeans, uma blusa social preta, aberta até o peito, o que dava um ar mais despojado e sedutor, seus cabelos estavam penteados para o lado, iguais da primeira vez que o vi.
A festa era em uma boate no centro da cidade, mas ela estava fechada apenas para os convidados de Bea, o que me fez perceber que provavelmente ela era rica.
Quando chegamos ela veio logo nos cumprimentar, agradeceu muito por termos ido, era muito simpática, sabia que íamos nos dar muito bem.
Sentamos em uma mesa no fundo da boate, mais dois amigos de Martin se juntaram a nós. Eles conversavam sobre carro, esporte e garotas, Petterson também entrava no assunto, apesar da sua opção sexual ser diferente da deles. Isso parecia não importar, pois os meninos faziam questão que Petterson se enturmasse, isso me deixava muito feliz. Eu só ficava ouvindo e dando gargalhada das histórias que contavam.
Algumas meninas que eu conheci na social de Martin estavam lá e vieram me cumprimentar, até me perguntaram se eu queria sair de perto dos meninos e sentar com elas, mas não quis, estava adorando ouvir a conversa deles.
Quando começou tocar músicas mais animadas, as pessoas foram para pista de dança. Petterson foi com os meninos, mas Martin ficou comigo.
A mesa tinha poltronas acolchoadas ao seu redor, então Martin chegou mais perto.
- Pensei que não iria mais falar comigo quando não respondeu minha mensagem. - Ele falou no meu ouvido, pois o som estava muito alto.
- Até pensei. Mas Petterson me deu ótimos conselhos.
- Que bom. Pois não suportaria perder você. - Ele passou os braços pelas minhas costas.
Aquelas palavras me atingiram como fogos de artifício. Sua voz me arrepiava dos pés a cabeça. Por muito tempo me fechei para o mundo, mas Martin chegou para me tirar do escuro.

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