Em Ares Brasileiros

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- Atenção para a última chamada do vôo 257 com destino à São Paulo.
Olho para o lado e vejo minha mãe com seus olhos marejados. Aperto sua mão, entrego meu passaporte para o moço me deixar entrar e finalmente chego naquele imenso corredor. Aguardo minha mãe e saímos abraçadas pelo corredor, até entrarmos no avião.
Foram 19 anos morando na mesma casa, mesma cidade... Sempre fomos só nós duas. Minha mãe engravidou aos 18 anos e o imbecil do meu 'pai' não quis assumir. Jamais o conheci, mas tampouco quero ou quis. Éramos apenas nós duas contra o mundo. Ela foi transferida para São Paulo e eu não podia deixá-la ir sozinha, pois nós nos completamos e não vivemos sem a outra. Pedi transferência da minha faculdade ( Portland Community College ), e eles arranjaram uma vaga para mim em uma tal de USP, que, o Google me disse que é a melhor faculdade de São Paulo para estudar medicina.
- April! Está tudo bem?
- O que?
- Você estava encarando o ar. - ela disse rindo.
- Brisei, mãe - respondi rindo também.
- Aceitam algo para beber?
"Meu Deus de onde essa mulher surgiu?" pensei comigo mesma.
- Hummm.. Aceito um chá de pêssego, e você, Apes?
- Não quero nada, obrigada.
- Como anda seu português? - perguntou minha mãe, em sua desesperada tentativa de impedir que o silêncio predominasse ali.
- "Muito bom, Sra. Müller" - Aquele era o meu melhor português..

- BRI.. GA.. DEI... humm.. RO! - nós estávamos loucas para provar brigadeiro.
- Ai mãe, estou com tantas saudades do Matt..
Matt era meu melhor amigo que, há três anos havia se mudado para São Paulo. Desde sempre ele nos ajudou muito. Minha mãe conhece seus pais e eles são uns amores. Sem contar que tudo que eu sei de português, foi ele que me ensinou. Ele tem a minha idade, mas é como um pai pra mim. Minha mãe vive me atormentando dizendo que nós deveríamos nos casar, mas isso nunca vai acontecer, somos só amigos...
- Apes, o Matt faz qual curso na faculdade?
- Não me lembro, só sei que ele disse que não via a hora de dizer 'bisturi, por favor', mas eu não entendi, porque ele falou em português.
- Já sabe quando vai vê-lo?
- Não, precisamos marcar ainda, mas acho que ele tem o endereço, e o conhecendo bem, acho que em breve ele vai passar em casa para nós ajudar com as coisas.
- Também não duvido nada.. - Ela disse enquanto ria.
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- Filha!! - sinto alguém me cutucar e levemente abro meus olhos.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa?- digo ainda meio grogue
- Sim, nós chegamos, April..
Esfreguei meus olhos, bocejei, olhei pela janela e "ai meu Deus eu estou em São Paulo!". Dei um mini gritinho e tirei meu cinto. Naquele momento eu nem lembrava mais que eu tinha que esperar as pessoas saírem do avião, eu simplesmente fui. Deu merda.. Eu peguei minha mala e saí feito louca para a porta. Na minha cabeça, era só abrir a porta, só havia me esquecido de um pequeno detalhe: tem uma rampa que te leva do avião até o chão, e naquele momento a rampa ainda não estava montada.. Minha mãe gritou 'April espera, cuidado a rampa ainda não está..' já era tarde demais.. '.. pronta..'. Sim meu povo, eu CAÍ! Causei uma ótima primeira impressão para os brasileiros que me viram cair e riram da minha cara.. Super educados eles.. De repente eu ouço uma voz conhecida vindo da porta. Era mais um grito, mas ok.
- Eu conheço aquela menina, e ninguém fez nada, deixe-me ajudá-la!
Mentira! Não pode ser quem eu acho que..

Bom gente, esse foi o primeiro capítulo e eu espero que vocês tenham gostado.. Comentem se vocês gostam e acham que eu devo continuar, ok? Um beijo meus amores.

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