Paciente Lomber

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   Quando dei de cara com ninguém menos que meu pai biológico ali, todo ensanguentado e lutando pela vida, trilhões de coisas se passaram pela minha cabeça. No primeiro momento, me veio uma vontade louca de o conhecer, e saber quem ele era, entende? Saber como ele foi parar ali, se ele é casado, tem família ou algo fo tipo. Mas depois de um segundo, tudo em que eu conseguia pensar era que ele não me queria; que ele jamais me quis, e que pra ele eu era um descuido, e pensar nisso me deixou com uma certa raiva. No entanto, vê-lo ali, indefeso e morrendo, me levou ao terceiro pensamento: ele precisava sobreviver, e eu precisava o conhecer, e poder jogar na cara dele tudo que eu já senti sobre "não ter um pai", e ao mesmo tempo deixá-lo explicar a versão dele da história.
– April? - ouvi Matt dizer, após alguns segundos me encarando.
– Matt esse é.. - antes que eu conseguisse acabar a frase, meus olhos se encheram de lágrimas e então eu simplesmente desabei. Talvez por estar de TPM, ou talvez por estar apenas cansada e com saudades da minha vida de antes, quando Matthew ainda morava em Portland comigo e nós íamos à escola juntos, todos os dias.
Ele me abraçou, e a cada frase desesperada que eu ouvia aqueles médicos gritarem - mesmo não entendendo nada - meus olhos voltavam a jorrar lágrimas.
Até que, em algum momento, eles pararam com a gritaria, e com a correria toda. Nessa hora, minha mente já se preparou para o pior e eu senti minha cabeça pesada, e me apoiei completamente em Matt pois estava completamente sem forças, como se a qualquer momento eu fosse apagar. E quando isso estava prestes a acontecer, senti uma mão em meu ombro, e ouvi uma voz distante porém conhecida perguntando algo pra Karla.
– O que aconteceu com ela? - pude ouvir Ben perguntar.
– Este homem aqui do lado é o pai biológico dela, ela só descobriu da existência dele há algumas semanas atrás, e eles não chegaram a conversar de fato.
Levantei a cabeça tentando olhar para o rosto dele. E, ao ver minha cara pálida e olhos inchados e vermelhos, ele correu para me acalmar e me abraçar.
   – April, por que está assim? Ele já está bem agora, passou, passou... - ele disse, enquanto fazia carinho em minha cabeça.
   Como assim "ele está bem agora"? Ele ainda estava vivo?! Levantei na velocidade da luz para ver se estava tudo bem. Acho que meus olhos brilharam ao perceber que toda aquela movimentação havia parado porque eles tinham conseguido salvá-lo. Comecei a sorrir feito uma idiota, sentimento um mix de sentimentos se formarem dentro de mim. Notei, porém, que alguns médicos ainda tratavam de seus ferimentos com atenção e cuidado. Ele estava inconsciente, e logo os médicos o levaram para fazer uma "head C.T", no Brasil é conhecida como "tomografia da cabeça ". E me virando para Ben, perguntei:
   – O que aconteceu com ele? Digo, por que ele está daquele jeito?
   – April, eu não sei, mas vou dar uma olhada no prontuário, ok? Talvez meu pai precise cuidar dele, enfim, vou dar um jeito de descobrir, e volto quando tiver informações, pode ser?
   O abracei, agradecendo mentalmente o fato que ele trabalhava lá e tinha acesso aos prontuários.

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