Quando aquela simpática recepcionista acabou de falar, eu fiquei imóvel, paralisada. Não conseguia me mexer. Como assim Hannah estava em cirurgia? Assim, do nada? Ela estava bem da última vez que a vi! Como agora ela podia estar numa sala de cirurgia anestesiada, aberta na mesa? Esses pensamentos me deixaram tonta, precisei me sentar. Ben me segurou pela mão e deixou-me sentada em um banco.
– Ei, calma, ok? Vai ficar tudo bem, eu te levo até o Matthew, eu sei onde é.
Levantei a cabeça tentando fazer o mundo parar de rodar, e concordei com ele. Ele, então, me ajudou a levantar e me levou à sala de espera do centro cirúrgico. De cara, vi Matthew, e saí correndo para os braços dele. Mas meio segundo depois me afastei e comecei a gritar com ele, me segurando para não chorar.
– O QUE ACONTECEU?! COMO VOCÊ SAI SEM ME AVISAR E SEM ME DAR NOTÍCIAS? Eu... - De repente Matt pegou no braço, me fazendo olhar em seus olhos e ouvir o que ele estava prestes a dizer.
– Ei ei, calma Apes! Primeiro, claramente você está em choque, segundo, isso é um hospital, você não pode sair gritando por aí! Terceiro, vamos ali buscar um capuccino pra você e então eu te explico.
Eu realmente estava prestes a dizer que café não ia me ajudar, e sim me deixar mais agitada, mas resolvi deixar de lado, pelo visto seria um longo dia, e uma doze extra de cafeína poderia ser bem útil naquele momento.
Ele me guiou até uma cafeteria perto da sala de espera, e chegando lá pediu um chocolate quente e um expresso. Estranhei o fato de não ouvir a palavra "capuccino" saindo de sua boca, e acho que ele percebeu, pois virou-se pra mim e disse:
– Acho que cafeína não é a melhor opção pra você nesse momento, chocolate quente vai ser melhor.
Concordei, enquanto aguardava a explicação do que havia acontecido durante a madrugada. As bebidas chegaram e então nos sentamos em uma mesinha em frente à cafeteria.
– Bom, algumas horas depois que dormimos na rede, acordei com minha mãe cutucando meu ombro delicadamente porém com uma expressão preocupada. Poucos segundos depois, quando me lembrei onde estava e com quem estava, apenas olhei para o lado para ver se ela estava preocupada com você, mas te vi dormir feito um anjo, então anulei essa possibilidade. Mas antes que eu pudesse levantar, ouvi um grito vindo do banheiro da Hannah, e então levantei em um só pulo. Cheguei na porta do banheiro e a encontrei deitada no chão e se contorcendo de dor. Minha mãe, então, começou a me explicar que menos de meia hora antes, ela havia acordado aos gritos de Hannah, reclamando de uma dor abdominal muito forte, na região do apêndice, e na hora me lembrei da última aula que tivemos na faculdade, que falava exatamente sobre apendicite e seus sintomas. Agachei ao lado dela para ver se ela estava com febre, e pra minha surpresa, ela não estava só com uma febre simples e quase imperceptível, ela estava QUEIMANDO de febre! Na hora expliquei isso pra minha mãe, que se desesperou e disse que ia chamar uma ambulância. Porém me lembrei que estávamos muito perto do hospital e que talvez o SAMU demorasse pra chegar. Então apenas a coloquei no carro e saímos. Ah, e claro, escrevi pra você, para que não ficasse desesperada... Se bem que acho que não adiantou muito..
– Matthew, por que você não me mandou mensagem?
– Acabou a bateria do meu celular, Apes. Mas assim que ela saísse da cirurgia, eu ia pra casa te trazer pra cá.
– Há quanto tempo ela está em cirurgia? - perguntei, olhando para o visor do meu celular que marcava 11:36 a.m.
– A gente chegou no hospital lá pras 06:10 a.m, mas demorou um tempo até fazerem os exames, e tudo mais, então acho que ela entrou em cirurgia as 10:20 a.m ou algo do tipo. Por que?
– Matthew, são 11:36! Está demorando mais que o normal!
– April, de acordo com os exames, a Hannah tem apendicite há um certo tempo, mas ela sempre achou ser apenas cólica. Então essa "crise" toda foi porque houve o rompimento do apêndice, e por conta disso, o procedimento é mais demorado.
Antes que ele acabasse a frase, eu já estava chorando. Senti uma grande parcela de culpa por aquilo tudo. Digo, todo aquele negócio com Georde a deixou muito nervosa, e essa pode ter sido a causa do rompimento do apêndice assim, do nada. Quando acabei de explicar isso para o Matthew, ele apenas me abraçou e disse:
– Apes, não foi tua culpa, e nem dela, e nem do meu pai, e nem de ninguém. Ela ia continuar confundindo isso com cólica e eventualmente ia romper. Mas calma, o procedimento ainda é bem simples ok?
– E seu pai? Sabe?
– Sim, eu o avisei, ele está a caminho já, mas pegou trânsito na estrada.
Senti certo alívio ao saber disso. Ao menos Hannah acordaria com o pai ao seu lado. Levamos as canecas de volta ao balcão, pagamos e voltamos para a sala de espera.
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Lucky
RomanceApril e sua mãe, Lana, se mudaram para o Brasil por conta do emprego de Lana. Matthew, melhor amigo de April havia se mudado para lá há 3 anos, e eles não se viam desde então. Ao matar a saudade, eles descobrem que talvez aquilo não seja só mais uma...