Chegamos na sala de espera, e só então vi Karla sentada no canto de uma poltrona. Me aproximei para dar oi, mas então percebi que ela estava dormindo. Voltei para o sofá em que Matt estava, e fiquei lá por alguns minutos, até que Ben saiu de uma das largas portas de vidro com uma roupa de cirurgia e um prontuário na mão - e com aquele sorriso idiota - e veio em minha direção.
— Trouxe notícias! - Ele falou chegando cada vez mais perto de mim e de Matthew.
Levantei na hora, fazendo com que Matthew levantasse também sem entender as coisas direito.
— April, acho que esqueci de mencionar que trabalho aqui, né?
ELE O QUE?!
— Sim, acho que ocultou este fato...
— Hahaha, desculpe-me, na correria esqueci de dizer. Na verdade, sou estagiário. Como meu pai trabalha aqui, tive facilidade para conseguir um estágio nesse hospital. Eu curso o penúltimo ano de medicina na Anhembi Morumbi, e precisava botar em prática tudo que aprendi na faculdade até agora, por isso fui atrás de um estágio e consegui um aqui, mas em breve passo a fazer minha residência cirúrgica. Enfim, por conta do estágio eu tenho acesso ao centro cirúrgico e às salas de cirurgia, com a autorização do cirurgião, claro. E já que meu pai estava operando sua amiga, consegui entrar e ver de perto tudo que está acontecendo. Ele me pediu para vir aqui e conversar com vocês sobre o quadro dela, pois ele está com muitas coisas para fazer hoje.
Ainda estava analisando todas as informações. Então quer dizer que ele era mais velho que eu... e cursava a mesma coisa que eu mas em outra faculdade... interessante...
— O que eu perdi? - perguntou Karla em um tom meio elevado ao perceber que havia um projeto de médico em sua frente.
— Karla, este é Ben, ele mora lá no teu prédio, e acabei de descobrir que ele é estagiário aqui, e o pai dele é o médico da Hannah, mas ele não pôde vir nos contar sobre a cirurgia, então pediu para o Ben vir.
Os olhos dela brilharam ao olhar para ele e notar que ele estava sorrindo, e que aquele sorriso provavelmente vinha acompanhado de boas notícias. Eles se cumprimentaram e então a expressão dele tornou-se levemente séria, como a de um profissional.
— Bom, como vocês sabem, Hannah foi admitida com uma ruptura em seu apêndice, e por conta disso teve que ser operada com emergência. A operação ocorreu bem, e no momento ela está na UTI para total recuperação. Em poucas horas, na verdade, ela já vai poder ir para um quarto, e é previsto que daqui 24h ela receba alta.
Karla pulou no pescoço dele de felicidade.
— Moço, muito obrigada viu?
— Magina hmm... Perdão, qual é seu nome?
— Me chamo Karla, e o seu é Ben, né?
— Isso mesmo! Bom, se precisar de qualquer coisa, moro no terceiro andar, ok?
Ela sorriu pra ele e disse que com certeza chamaria caso algo acontecesse e que era muito bom saber que tinha um médico morando tão perto dela. Depois disso ele disse que levaria Karla até Hannah, e, virando-se pra mim, disse:
— Não ache que me esqueci do encontro que você me deve, ok? - me deu um beijo na bochecha, e se despediu de mim e de Matt.
Fiquei imóvel por um tempinho, eu podia sentir minhas bochechas queimarem. Notei que Matthew estava me encarando, então virei lentamente para ele.
— Tem algo que quer me contar, por acaso? - ele disse isso brincando, porém senti uma pontinha de ironia em sua fala
— Pensei que tivesse te dito isso Matt - comecei a falar tentando não gargalhar - Lembra do dia que você ficou preso no elevador? Então, eu corri até a portaria para avisar o porteiro, mas ele não estava lá. Daí eu fui procurar a única pessoa que eu conhecia de lá, que era o Ben.
— Você conhecia o Ben já?
— Sim, naquele dia em que brigamos, eu saí chorando do seu apartamento e desci as escadas até o terceiro andar, parei e comecei a chorar sentada, mas aparentemente Ben ouviu e foi até as escadas ver quem estava chorando daquele jeito, e então começamos a conversar. Enfim, por isso o conhecia e fui pedir ajuda naquele dia. E em troca, ele me pediu um encontro. Aceitei né.
Ele, então, começou a rir, como se eu tivesse lhe contado uma piada.
— Mas, então Apes, quando vai ser esse tal encontro?
— Ainda não sei, confesso que tinha me esquecido desse 'acordo'...
— Vamos achar minha mãe, ok?
E então fomos atrás da UTI, onde a Hannah e a Karla estavam. Conforme procurávamos o setor naquele hospital gigante que mais parecia um hotel, passamos por vários consultórios, salas de espera e até mesmo lugares restritos (não entramos, claro, mas vimos as portas escrito 'acesso restrito aos funcionários'), e ficamos imaginando como seria trabalhar lá. Depois de um tempinho rondando aquele lugar, finalmente achamos um "mapa" que ficava colado em uma das paredes, e indicava onde era a UTI, entre outros setores. Estávamos perto, então continuamos andando até chegarmos. Conforme nos aproximamos, ouvimos uma gritaria, pessoas correndo, outras gritando instruções, e, ao nos aproximarmos ainda mais, percebemos que todo aquele movimento estava vindo de onde Hannah estava. Nos olhamos por meio segundo e saímos correndo em direção ao leito.
— CARREGADO EM 200, CUIDADO! - ouvi um médico gritando. Entrei em desespero pois não conseguia ver o que se passava ali dentro, e porque assisti Grey's Anatomy em português durante os últimos meses para ir aprendendo termos técnicos, e tudo mais, e sabia muito bem que o que aquele médico havia gritado significava que estavam usando um desfibrilador ali!
Mas de repente, vimos Karla no leito do lado, segurando um copo d'água e com uma expressão assustada, porém não preocupante. E só depois de quase ter um ataque cardíaco ali no meio, percebi que aquele leito barulhento e com um desfibrilador não era o leito de Hannah. Corri em direção ao lugar certo dessa vez, e encontrei Hannah ainda inconsciente por conta da anestesia, com aquela face calma e angelical de sempre, sem nenhum desfibrilador ou médicos loucos em cima dela. Senti um alívio instantâneo, porém não durou por muito tempo, pois ao me ver, Karla pareceu estar mais assustada ainda, e tentou disfarçar, mas eu olhei para o que ela tanto encarava e senti meu mundo balançar mais uma vez.
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Lucky
Lãng mạnApril e sua mãe, Lana, se mudaram para o Brasil por conta do emprego de Lana. Matthew, melhor amigo de April havia se mudado para lá há 3 anos, e eles não se viam desde então. Ao matar a saudade, eles descobrem que talvez aquilo não seja só mais uma...