Jackson, Jackson Lomber

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   Em menos de dez minutos, vi Ben correndo em minha direção, com uma expressão de orgulho em seu rosto, como se ele tivesse descoberto um novo metal ou algo do tipo.
   – Ei, April! Achei a ficha dele! - ele disse gritando, se aproximando cada vez mais. E trazendo com ele aquele sorriso que desarmaria a mais forte lutadora de MMA.
   Ele chegou ao meu lado, e começou a ler a ficha que chegou com ele, ainda da ambulância.
   – "Paciente Jackson Lomber, socorrido após um acidente de carro (colisão entre seu carro e um ônibus), o paciente não estava embriagado, tampouco causou o acidente. Ferimentos na cabeça (fazer tomografia); abdômen rígido, possíveis ferimentos internos; nada indica dano cerebral; inconsciente; braço esquerdo debilitado; algumas queimaduras; paradas respiratórias durante o percurso." - ele terminou, com certa cara de decepção.
   – Que foi? Tem mais alguma coisa?
   – April, esse não é exatamente o prontuário dele, na verdade, deveria ser, porém está vazio, somente com essas anotações que vieram com a ambulância, acho que não são muito úteis. Mas fique tranquila, vou procurar por mais informações.
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   Cerca de uma hora depois, Hannah já havia acordado, e, por mais que eu estivesse aliviada por ela, parte de mim queria estar ao lado de Jackson naquele momento. Nós não tínhamos começado bem, sabe. Nunca conversamos. Mas ao ver ele naquele estado, ali, diante dos meus olhos, mudou algo em mim.
   Ben apareceu com uma expressão preocupada em seu rosto. Me levantei na hora.
   – O que aconteceu, Ben? - perguntei, sentindo minhas pernas bambas.
   – April, ele teve complicações e foi levado para cirurgia. Aparentemente os danos no fígado dele foram grandes. Vou entrar na cirurgia, ver se consigo pegar mais informações.. - pensei que ele tivesse acabado, mas notei que ele estava hesitando em me falar algo.
   – O que mais? - perguntei agitada
   – April, ouvi alguns médicos falarem que a família dele está a caminho... Ele tem família, talvez seja casado, tenham filhos, só não quero que seja um choque para você, ok?
   Balancei a cabeça afirmativamente. Será que eu tinha irmãos?! Me sentei ao lado de Hannah, que começou a brincar com a minha mão.
   – Apes, vai ficar tudo bem, viu? - Hannah disse, esperando me acalmar.
   Concordei com a cabeça e me aconcheguei na poltrona. Acabei dormindo, bem pesado.
   Depois de um tempo acordei com algumas vozes em volta. Percebi que eu estava deitada, e não estava mais na poltrona. Olhei ao meu redor, e vi que estava em um quarto de hospital, naqueles sofás para o acompanhante do paciente. Vi que Ben estava falando alguma coisa para Karla, reparei também que ele estava ensanguentado, com roupa de cirurgia ainda e aquelas tocas azuis que os cirurgiões do hospital usavam. Karla se virou para mim e pude notar uma expressão de pena em seu olhar, como se algo terrível tivesse ocorrido. Levantei em um pulo, já perguntando o que tinha acontecido.
   – April, olha, os danos foram muito grandes. Tentamos salvar o fígado mas não conseguimos. - antes que ele pudesse acabar, eu comecei a chorar. - Ei, calma! Ele está vivo... Ainda.. Nós o colocamos na lista de transplante, ele está em primeiro lugar, mas se não conseguirmos um fígado compatível em quatro horas, não sei se ele vai resistir.
   E então, sem raciocinar direito, e definitivamente sem ter a intenção de falar isso, as seguintes palavras saíram da minha boca:
   – Eu posso ser a doadora.
   Eles me olharam como se eu tivesse acabado de dizer que havia um alienígena do outro lado da sala. No segundo que ouvi essas palavras escaparem da minha boca, me arrependi um pouco, mas depois prestei atenção na minha própria ideia, e vi que eu estaria salvando uma vida. Não necessariamente meu pai, pois eu não o via como um pai ainda, mas sim uma vida. E eu só precisaria doar um pedacinho do meu fígado.
   – Fora de cogitação, você enlouqueceu? - perguntou Matt
   – Realmente não sei se é a melhor opção, April. A recuperação é difícil, e você é jovem ainda...
   – Exatamente gente! Eu sou jovem, me recupero rápido! E além de estar salvando a vida dele, vou salvar a de outra pessoa, que vai receber o fígado que iria para ele!
   Matt e Karla pareciam decididos com a opinião dele, no entanto, Ben analisou minhas palavras cuidadosamente,virou para eles e disse:
   – Gente, talvez não seja uma má ideia...
   – Se você está achando que eu vou deixar ela fazer essa cirurgia, você está muito errado! - Matt disse.
   – A decisão é minha! Não sua, e nem da Karla, MINHA! - eu disse, me sentindo irritada. 
   Eles me olharam espantados pelo meu tom, mas logo Karla disse:
   – Apes, você nem tem certeza se é compatível... E se a esposa dele quiser doar? Ou os filhos? Temos que ver tudo isso, vamos deixar seu fígado como plano b, pode ser?
   – Tudo bem, mas eu quero que façam os testes agora.
   Ben se aproximou e disse que eu deveria falar com a minha mãe antes de qualquer coisa, mas que enquanto eu fazia a ligação ele providenciaria os exames, e falaria com a família.
   Saí do quarto para fazer a ligação, e ouvi Ben falar para um dos médicos, que o esperava do lado de fora:
   – Talvez eu tenha achado uma doadora para o paciente. A família já está aí?
   O médico sorriu, e disse que ele deveria ver com a recepcionista, e ele ia preparar o paciente para o possível transplante.
   – Gostaria de verificar se a família de um paciente está aí.
   – Qual paciente, doutor?
   – Paciente Jackson, Jackson Lomber.  

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