Sob a penumbra da luz piscando, vi que as criaturas tinham me cercado. Eram bastante altas e estavam nuas da cintura para cima, embora eu não saiba bem dizer se usavam algo nas partes baixas ou se aquilo fazia parte de seus corpos luzidios. Pareciam ter seios rudimentares, de onde escorria sangue ou qualquer coisa escura. Seus cabelos eram um emaranhado negro e os fios colavam-se em seus rostos e por cima das órbitas vazias que ostentavam no lugar de olhos. Não havia boca aparente.
Procurei pelo chão por algo que pudesse me defender, ao mesmo tempo em que me ocorria que era uma tentativa inútil. Estava numa desvantagem de seis para um, na penumbra e cercada. Além disso, nunca tivera qualquer treinamento de combate!
Os sussurros estavam me deixando louca. As "criaturas mulheres" tremiam como se estivessem em convulsão, mas não avançavam, talvez estivessem me avaliando. Resolvi que investiria mais uma vez contra a porta, sendo que para isso teria que empurrar uma das criaturas.
Tomada de uma coragem que não sabia que possuía, disparei pra cima de uma das criaturas, procurando empurrá-la pelos ombros, mas ela, numa agilidade que me foi totalmente inesperada, parou de tremer e agarrou meus pulsos, com força.
A sala se encheu de risos, e a criatura ainda me segurava. Vi com crescente nojo e pavor uma fenda se abrir, como se estivesse sendo rasgada, no rosto desta que me imobilizava.
Tentei inutilmente me livrar dos braços da criatura, com especial fervor uma vez que vi que algo saía de sua boca. Gritei com mais vontade que nunca quando percebi ser uma serpente, que ondulava em frente ao meu rosto como uma língua comprida e sibilante.
Alguém puxava o tecido da minha blusa. Senti um puxão especialmente forte em minha calça e com ainda outro minha bolsa me foi arrancada. Eram as outras, eu sabia mesmo sem poder me virar. Senti que minhas roupas estavam sendo puxadas para todos os lados, agora com maior violência, e que eram rasgadas com suprema eficiência enquanto eu me debatia!
Nua e desesperada, puxei meus braços com toda força que me restava e para minha surpresa a criatura me soltou. Pela força que fazia, fui parar no chão novamente, tendo batido dolorosamente a cabeça no piso de metal.
Tive apenas um segundo para, como dizem, ver minha vida passar diante dos meus olhos. As seis criaturas estavam em círculo ao meu redor, rindo e olhando para baixo, cada qual com sua "língua serpente" que, subitamente, investiram contra mim.
Senti uma dor incrível, e o pavor da consciência de que havia seis serpentes com as presas cravadas em meu corpo. Uma em meu pescoço, uma em meu seio esquerdo, uma no meu braço direito, outra em minha cintura, outra em meu baixo ventre e por fim uma em minha perna esquerda. De cada uma emanava a sensação de que água fervente corria por minhas veias e, por puro horror, perdi a consciência.
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Subconsciente: A origem do medo
HorrorA narradora possui uma rotina estressante fazendo-a desejar sumir, até que um acontecimento muda sua vida e faz com que a moça tenha o desejo profundo de voltar ao mundo real.