Parte 17

158 10 10
                                    

Acordei com uma estranha sensação de formigamento nas pernas. Desta vez demorei um pouco para saber onde estava, me sentia um pouco tonta. Agarrei-me em uma das pias, usando-a de apoio para me levantar.

Dei de frente com um espelho rachado e por uns segundos pensei estar encarando mais uma daquelas criaturas estranhas. Meu reflexo estava um horror!

Meus cabelos nunca estiveram tão rebeldes, meus lábios estavam adquirindo uma cor escura e meus braços apresentavam manchas por toda a extensão. Minha pele descamava em algumas partes. O formigamento nas pernas me fez fazer uma careta, eu estava cada vez mais fraca... Certamente estava morrendo lentamente por causa do envenenamento.

Abri um pouquinho a porta do banheiro de forma a espiar o corredor. Não tinha ninguém lá. A porta da sala de apresentações estava mesmo destruída e lá entrei, receosa.

Abafei um grito com as mãos e só tive tempo de virar para o lado antes de vomitar... De novo. A sala estava banhada em sangue, e partes humanas estavam aqui e ali. Reconheci um punhado de cabelos ruivos e não quis mais reconhecer coisa alguma, saí apressada.

Estava em choque, mas não tinha mais lágrimas para chorar. Me deixei escorregar pela parede até o chão. Do que adiantaria entrar nessas salas? A passagem exterior estava bloqueada, não dava pra chegar na saída... Mas... E se tivesse alguma janela ou porta que desse para a direita? Eu poderia acessar o prédio ao lado e talvez...Talvez do mesmo jeito sair, ultrapassando o bloqueio...!

Me forcei a levantar. Se fosse para morrer que fosse nas minhas últimas forças. Resolvi tentar as salas na ordem que apareciam e a primeira em minha frente era a sala do Colegiado.

Bloqueada. Tudo bem, a próxima...

Passando pelo painel de avisos ao lado do banheiro masculino, percebi algo escrito em vermelho. Que engraçado, por que não notei antes? Dizia:

"Na cabeça, nos olhos e nos seios fluíam-lhe os venenos da serpente"

Estremeci. Era Cruz e Souza novamente, um trecho de um poema chamado "Dança do Ventre", mas parecia para mim de péssimo gosto estar ali considerando o estado em que eu estava. Tive de encarar que aquele poema, assim como o outro, estava ali, de fato, para mim, alguém estava orquestrando tudo, nada era por acaso.

Notei algo que pendia de trás do quadro de avisos, deixando uma pontinha à vista, uma folha de papel. Puxei a folha e a examinei sob a luz da lanterna.

Subconsciente: A origem do medoOnde histórias criam vida. Descubra agora