Corri os olhos, apressada, pelo depósito pela primeira vez e vi que lá existiam só caixas, todas arrastadas e empilhadas de encontro à parede e, por algum motivo estranho, um altar. Era como um altar de igreja, mas escuro e estranho.
O barulho do arrastar agora era audível, não mais uma simples vibração no piso. Tentei me arrastar com os braços até o altar, talvez se eu me escondesse atrás dele o homem pirâmide não me visse, mas... Era muito difícil! Minhas pernas eram um peso morto e eu pouco conseguia me mover usando só os braços.
Estava próxima à frente do altar, exausta, quando com um estrondo a porta do depósito se escancarou, batendo tão violentamente contra a parede que se envergou e rachou a madeira.
Constatei, horrorizada, que meus medos tinham fundamento. Ali estava ele, arrastando a espada que agora se encontrava horrivelmente ensanguentada. Forcei meus braços até o limite, tentando me arrastar para longe, chorando, pois sabia que ia morrer e que seria horrivelmente. Eu deveria ter terminado tudo eu mesma quando tive chance!
Senti meus braços enfraquecerem, e cai com o rosto de encontro ao chão, a última coisa que consegui fazer foi virar meu corpo de forma que eu encarasse o teto e assim ficar, como uma boneca de trapos jogada no chão.
Não podia mais me mexer, meus braços estavam na mesma situação que minhas pernas agora. Senti gosto de sangue na boca, parecia que o veneno queria competir com a espada pelo prêmio final, mas não houve mais tempo.
Paralisada como estava, foi indescritível a sensação de impotência e pavor ao ver a espada que descia veloz ao encontro do meu corpo. Dessa vez não houve sorte, não houve desvios. A espada me atingiu, violenta e precisa, na altura dos quadris, logo abaixo do ventre.
Gritei, o que sabia ser meu último grito, sentindo a lâmina eficiente cortar através de minha pele e minha carne, quebrando e esmagando parte dos ossos abaixo do quadril e, certamente, separando minhas pernas do meu tronco. A última coisa que senti foi o cheiro do meu próprio sangue e a sensação de que alguém sorria ao meu lado. Ao som do que pensei ser uma espécie de cântico, mergulhei na escuridão.
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Subconsciente: A origem do medo
HorrorA narradora possui uma rotina estressante fazendo-a desejar sumir, até que um acontecimento muda sua vida e faz com que a moça tenha o desejo profundo de voltar ao mundo real.