Capítulo 30

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- Não vai...

Puxo Eadlyn de volta para o colchão e  faço cair ao meu lado. Ela sorri e me beija.

- Eu queria tanto uma lua de mel de verdade. - Diz depois. - Viajar. Ficar na cama.

Afundo o nariz no cabelo dela, ela já tem cheiro de banho tomado, o que quer dizer que está indo. Faz três dias que nos casamos, e ela não tirou nenhum dia de folga, nós apenas continuamos nossa vida normalmente.

- Você é a rainha. - Murmuro em seu cabelo. - Sabemos que isso significa muito tempo trabalhando.

- E pouco tempo com meu marido. - Ela rebate.

- Digamos que qualidade importa mais que quantidade.

A batida na porta nos diz que é hora de nos afastarmos, é Eloise batendo na porta de ligação. Ela não deveria estar no meu quarto de agora, se seguissemos as convenções, deveria ter passado pela porta e ocupado seu quarto, mas sou incapaz de deixá-la ir.

- Avise que a rainha foi sequestrada e está sendo mantida em cativeiro no quarto! - Exclamo para a porta fechada.

Eadlyn dá um soco de leve em meu braço antes de eu escutar a risada de Eloise do outro lado.

- Quieto! - Eady me repreende. - Estou indo Eloise.

- Ok senhora Woodwork. - Respondo.

Ela se levanta e ajeita seu vestido e seu cabelo.

- Eu amo ser uma Schreave, mas também amaria ser chamada de Woodwork. - Fala. - Preciso que esteja em casa as cinco, vou falar ao vivo no jornal. Illéa vai conhecer seu novo príncipe.

- Sim.

É tudo que digo. Não sei o que dizer, qualquer coisa pode fazer ela tirar a conclusão errada. Eu não concordo em termos casado tão rápido, mas agora já fizemos, então eu vou estar aqui as cinco.

- Vem aqui.

Sento na beira da cama e a puxo.

- Kile você já se despediu de mim.

- E quem disse que vou me despedir de você?

Aproximo meu rosto da barriga dela.

- Ei faça companhia para a mamãe enquanto eu estiver fora. Amo vocês dois, ou vocês duas. - Converso.

Sinto a mão de Eadlyn em meu cabelo.

- Você disse mamãe. - Ela comenta. - Me assusta muito pensar nisso, mas eu gostei.

Beijo sua barriga por cima do vestido.

- Está indo trabalhar? - Eady pergunta.

- Meu último dia sendo arquiteto em tempo integral.

Nós dois nos olhamos por um instante, eu a conheço o suficiente para saber que ela está procurando algum sinal de que estou falando isso de um modo ruim, mas ela não vai encontrar, porque não estou.

Quase a minha vida inteira eu quis ser um arquiteto, era tudo que eu queria, agora eu preciso de mais do que isso para ser feliz. Além do mais já tivemos essa conversa um dia antes do casamento. Eadlyn está quebrando o protocolo me permitindo trabalhar meio período com o que gosto, e só a outra metade do tempo ajudando ela em obrigações reais.

Meus pais sempre disseram que relacionamentos não são apenas sobre amar, são sobre ceder e encontrar caminhos, é o que estamos fazendo.

- Majestade eu sei que...

- Estou indo Eloise! - Eadlyn a interrompe. - Vejo você mais tarde.

Ela deixa o quarto correndo, e então estou sozinho e completamente atrasado. É impossível não deixar bagunça enquanto me arrumo, e são nesses momentos que começo a perceber que agora que não tenho mais um quarto só meu, deixar as criadas entrarem e fazerem seu trabalho é uma ideia fabulosa.

- Com pressa? - Josie pergunta quando passo pelo hall correndo.

- Atrasado! - Exclamo tentando não deixar as pastas cairem.

Josie balança a cabeça em desgosto.

- O que? - Pergunto a ela.

- Você não penteou seu cabelo direito e o colarinho da camisa está dobrado. - Ela nota. - Por favor, quando aparecer esta tarde esteja apresentável, como um príncipe.

- Eu sei, eu sei. - Digo. - Não vou desapontar ninguém.

Não vou mesmo. É só que acho que quero aproveitar para ser eu mesmo pelas próximas horas.

- Senhor Woodwork, eu recebi uma ligação do palácio pedindo para fazermos varias alterações na sua agenda. - É a primeira coisa que minha secretária fala quando piso dentro do escritório.

Provavelmente ela recebeu um telefonema de Josie ou Neena e está confusa. Bem vinda ao clube, acho que o país todo estará assim em breve. Particularmente para mim serão muitas mudanças, um guarda me acompanhando toda a manhã, novas obrigações, compromissos, horários.

- Faça todas as alterações que foram solicitadas. - Digo a ela. - Eu não posso dizer muito, mas amanhã conversamos para reorganizar tudo certinho. Algumas coisas vão mudar por aqui e eu ainda vou ter que conversar com o resto da equipe, pode marcar uma reunião com eles para amanhã as nove?

- Claro. Vou fazer isso.

- Obrigado.

Na minha sala eu me permito pensar no que os outros vão pensar quando souberem, se minha posição aqui já era vista com desconfiança agora mesmo que  vão achar o pior. Mas a novidade é: eu não me importo. 

Eadlyn está me deixando mestre nesse negócio de ser confiante e não me importar com os outros.

A manhã está quase no fim quando a secretária me chama por telefone.

- Desculpe interromper senhor Woodwork, mas entregaram um recado da senhorita Luca.

Alice? Achei que ela não estivesse na cidade.

- O que diz?

- Ela pergunta se pode ir até a casa dela no seu horário de almoço porque precisa de ajuda e não tinha mais para quem pedir.

- Ok.

Não sei ainda se é um ok eu vou, ou ok eu estou ciente do que ela me pediu. Talvez eu devesse consultar Eadlyn, mas me sinto idiota em ligar para ela para perguntar algo tão pequeno, principalmente se ela estiver em algo importante.

Eu vou. Alice não pediria ajuda se não fosse importante.

Deixo o escritório ao meio dia em ponto e antes do meio dia e quinze estou batendo na porta de sua casa.

- Kile, ainda bem que veio. - Ela parece aliviada. - Bom te ver de novo.

- Bom ver você também, só não esperava que ainda estivesse em Angeles. - Comento. - E precisando da minha ajuda.

Ela sorri sem jeito e faz sinal para entrar. Alice é uma pessoa muito fácil de lidar, tranquila, sem problemas, comum.

- Ok, não fique bravo comigo, talvez você ache que te chamei a toa, mas preciso de ajuda com isso. - Ela aponta as caixas no chão.

- Está se mudando?

Alice dá um leve dar de ombros.

- Coisas me forçaram a voltar para casa. - Diz. - Preciso colocar no carro, para partir ainda hoje, mas estão bem pesadas e como o único homem que conheci em Illéa foi você...

- Não precisa ficar sem graça.  - Digo notando a apreensão dela ao dizer isso. Entro mais na casa e olho as caixas. - Começo com alguma em particular ou posso só ir levando.

- Pode pegar.

Assinto.

- Sua mãe não está bem, é por isso que está voltando? - Pergunto.

- Mais ou menos. - Ela fala enquanto me agacho para pegar uma das caixas. - É hora de voltar, mas foi legal te conhecer, você é um cara legal, por isso sinto ter que fazer isso...

A fala dela está apressada, nervosa, é por isso que noto que algo está errado, tento deixar a caixa e me erguer para perguntar a ela, mas a pancada em minha cabeça vem de uma só vez, me apagando e levando minha consciência. 

A Verdade {fanfic de A Seleção}Onde histórias criam vida. Descubra agora