1. A dor de cabeça que você me causa

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Bruno estava, mais uma vez, deitado em sua cama e se sentindo derrotado. Olhava para a tela do celular como se pudesse explodir aquela parte brilhante. Se fosse rico, ele provavelmente teria jogado o aparelho na parede, mas ainda não tinha ganhado na loteria e aquele aparelho tinha sido um presente de quando suas irmãs viajaram para a Austrália - era um aparelho chique e provavelmente mais caro que o seguro de vida dele, então seria melhor que cuidasse.


Ele estava puto da vida. Sentia seu rosto quente e suas mãos tremiam enlouquecidamente. Se Bruno tivesse a oportunidade de socar alguma coisa, ele com certeza socaria a cara de alguém ou jogaria um vaso de plantas (de vidro) na parede, e sentia prazer em ver todos aqueles cacos quebrados no chão. Precisava urgentemente comprar um saco de boxe e colocar no seu quarto para que quando tivesse uma dessas várias crises ele poder socar o couro até o nó das suas mãos abrirem e sangrarem.

Do lado de fora da sua porta a vida acontecia naturalmente. Ana Júlia estava presa em seu quarto escutando músicas na maior altura enquanto estudava para os vestibulares (ninguém entendia como ela conseguia focar em história com músicas gritando em inglês coisas sobre um romance acabado, mas cada doido tem sua loucura), Luísa devia estar em seu quarto com as costas tortas e focada na tela do computador - ou ela estaria escrevendo seu novo romance, ou pesquisando sobre alguma viagem louca (seu ritual para quando tinha um bloqueio criativo era pesquisar sobre lugares que ainda não conhecia, e planejava uma viagem inteirinha - mesmo que fosse para um lugar impossível de viajar) - e Bernardo, provavelmente, estaria do lado de fora, perto da garagem, aonde tinha construído um pequeno ateliê e agora, nos intervalos de uma capa que ele fazia para a editora, ele se aventurava pintando telas e na maioria das vezes eram desenhos de uma garota que se parecia muito com Luísa - a paixão entre eles dois nunca acabava, era tão doce que chegava ser enjoativa para quem assistia de fora.

Mas o problema mesmo estava na parte de dentro da porta. Aonde Bruno sentia vontade de gritar. Ele queria tanto ir conversar com as irmãs como sempre fazia quando se via em um momento de crise de raiva como aquele (sempre causados por sua namorada super ciumenta). Mas ele sabia que assim que começasse a falar sobre o que sua amada namorada tinha feito mais uma vez, as irmãs apenas falariam a mesma coisa de sempre: "você merece coisa melhor", "ela não te ama de verdade, Bruno" ou pior "ela é louca, só te faz sofrer. Definitivamente não mais entrará na minha casa nunca mais".

Já bastava a vontade que ele tinha de gritar com ela assim que viu aquela foto, não aguentaria suas irmãs falando mal dela também. Seria capaz de agir sem pensar e depois se arrependeria. Pensou que sua namorada poderia ser como ele: daquelas pessoas que pensam duas vezes antes de fazer alguma merda, para não se arrependerem futuramente.

Ele encarava o celular e via aquela foto ridícula, que sua Paula tinha postado. Sentiu uma risada raivosa sair da sua garganta. Bruno estava se sentindo o cara mais otário, burro e idiota da face da Terra. E tudo porque a namorada gostava de se vingar por ele ser um ser humano normal.

Se Bruno adicionasse alguma garota no facebook, lá vinha briga para mais de horas. Curtir a foto de alguém no instagram que não fosse Paula? Se prepara para sua morte. Uma foto em que ele estivesse lotado de caras, e uma (repetindo: uma única garota) era motivo para uma longa conversa de como as mulheres não respeitam nem quando os homens usam alianças enormes de namoro (o que era uma ironia, já que Paula era uma mulher e falava mal de outras como se todas garotas fossem daquele jeito - se incluindo naquela comparação sem noção).

Ele nem sabia o que tinha feito, talvez fosse uma nova amizade que ele aceitara em alguma rede social e que Paula ficou sabendo. Ele tinha que ter feito algo para que ele postasse uma foto daquelas. Não tinha motivo nenhum para ela ser tão insegura já que Bruno tinha olhos somente para ela, até há milhares de quilômetros de distância, mas ela agia de maneira mais louca e possessiva com coisas minúsculas e ridículas.

(Amar)eloOnde histórias criam vida. Descubra agora