6. Sua antipatia

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Tinham completado quatro dias que Paula estava no Rio de Janeiro e Bruno estava praticamente surtado. Não conseguia vê-la com outros olhos que não fossem os de decepção: decepção por ela não ter aqueles cabelos vermelhos que Monalisa tinha, muito menos o sorriso cativante da garota. Ele costumava gostar bastante de todas as partes do corpo da sua namorada, mas nada tinha graça mais – não quando não era o que ele realmente desejava.

Bruno podia ser qualquer tipo de pessoa, mas ele não tinha problema em reconhecer que também estava errado. Nos momentos de raiva só olhava para os defeitos de sua namorada, mas ele sabia que tinha sim culpa em boa parte daquela bagunça que era aquele relacionamento. Bruno perdera o interesse por aquilo muito antes de ter conhecido Monalisa, ele não sentia aquela vontade louca por Paula; não queria discutir relacionamento mesmo que ficasse muito puto da vida com as injustiças que sua namorada fazia. Ele não sentia vontade de querer torrar todo o seu salário em passagens para Brasília, a ideia de viajar para o México com a namorada (planos que eles fizeram no começo do namoro) já não o animava, só de pensar ele sentia um enorme desânimo. Bruno não tinha um pingo de ciúmes pelas coisas que Paula fazia (raiva ele tinha, mas não ciúmes), e com certeza isso tinha sido influência direta para ela querer enlouquecer com ele.

Se seu namorado não liga para nada que você faz, tem alguma coisa errada. E ele sabia muito bem que o erro estava nele tanto quanto estava nela.

Amava muito Paula, mas não existia paixão em nada que fazia com ela. Agora ele tinha aquele amor que é mais carinho, que faz com que você se importe em não magoar os sentimentos dele. Só de ficar pensando em Monalisa ao ver algo que o fazia lembrar-se dela (leia-se tudo) ele sentia mais um peso em suas costas por estar enganando Paula.

Iria terminar com ela no minuto em que se despedissem, quando ela estivesse no aeroporto, dali há três dias, mas antes disso ele queria fazer com que ela aproveitasse o resto do Rio de Janeiro. Aquela cidade era tão amada para ele que não queria que a futura ex-namorada fosse embora odiando cada parte do Rio (e dele). Iria falar a verdade, contar que tinha conhecido outra pessoa e que aquela pessoa mexia demais com sentimentos que ele nem sabia que tinha.

Bruno queria muito que Paulo fosse feliz, que conhecesse uma pessoa que fizesse com que ela se sentisse uma pessoa completa, uma pessoa amada. Queria que quando ela acordasse se lembrasse daquele que a faria feliz e tivesse vontade de viver, alegria pela vida.

Era por conta de todo esse carinho que Bruno sentia por Paula que, em plena quinta-feira lá estava ele andando o Rio de Janeiro inteiro atrás de um cinema de rua que fosse do seu agrado.

Ela poderia ter escolhido qualquer shopping, ou o Roxy, que fica em Copacabana. Mas Paula insistia em dizer que eles eram extremamente clichês, ela queria andar pela cidade, sem rumo, até encontrar o cinema certo. Eles já tinham passado por, pelo menos, cinco cinemas diferentes, mas nenhum parecia ser o ideal para Paula.

Quando ele estava prestes a perder a paciência, sua namorada pediu para que ele parasse o carro: ela tinha escolhido o do Leblon – aonde já tinham passado, pelo menos, duas vezes.

Bruno estacionou em um dos milhares de estacionamentos privativos (já que nunca acharia vaga naquele horário – a vida só ajudava quando era para encontrar, acidentalmente, com ela).

- Você quer assistir qual? – Ele perguntou para Paula assim que chegaram no final da fila. Não tinham muitas opções, os que coincidiam com o horário deles eram duas comédias românticas, um filme infantil, um de zumbi e o outro de Adam Sandler, nada muito excitante.

- Aquele – Paula apontou para um que parecia ser legalzinho, mas demoraria muito para começar.

- Mas a sessão mais próxima é só daqui há duas horas.

(Amar)eloOnde histórias criam vida. Descubra agora