(Amar)elo

5. Sua falsidade

           

Bruno se mexia pelo quarto de maneira silenciosa, não queria acordar ninguém – muito menos Paula, que dormia calmamente em sua cama.

O dia anterior tinha sido maravilhoso, ele sentia ainda alguns pedaços de felicidade que sentiu naquela praia. O dia tinha sido tão bom que, mesmo a noite sendo um horror, ele não conseguia parar de sorrir feito um adolescente apaixonado que trocara mensagens com sua paixão durante a madrugada. Não, ele não tinha feito nada disso, não tinha nem pegado o número dela (e se arrependia eternamente disso). Mas a presença daquela menina de cabelos vermelhos fazia com que ele se sentisse tão leve quanto uma pena.

Chegara em casa após um dia exaustivo, mas maravilhoso, e tudo que ele queria era tomar um banho gelado e se jogar em sua cama, sozinho. Não tinha lembrado da tal namorada em momento nenhum após aquela briga (um dos poderes que Monalisa tinha: quando você está com ela, só sabe pensar na garota maravilhosa que está a sua frente, ninguém mais passa pela sua cabeça). Toda felicidade que passava pelo sangue de Bruno, que iam de todas as artérias e chegavam ao coração, sumiu assim que ele ouviu aquela voz aguda e fina da namorada – aquilo nunca tinha sido um problema, mas agora todas as características negativas de Paula estavam mil vezes piores. Ele esperava encontrar até o Papa em seu sofá, mas não sua namorada.

Pior do que ele ficou se sentindo, somente Ana Júlia, que viu toda a esperança que tinha de o irmão terminar com Paula e se casar com Monalisa no dia seguinte, sumiu em um passe de mágica. Ela se sentiu extremamente realizada ao ver a cara de bobão que o irmão mais velho fazia em todas as vezes que a sua professora falava diretamente com ele, riu dos momentos em que ele gaguejou e sonhou em ser madrinha de um futuro casamento. Mas, naquele momento em que viu Paula se jogar no colo do Bruno, ela sentiu dentro de si mesma que o irmão perdia aos poucos toda a força de vontade em terminar aquele relacionamento. Era óbvio que Paula faria o joguinho de namorada arrependida por qualquer que tenha sido o seu erro, e Bruno cairia igual a um patinho naquele teatro.

Luísa também estava no fã-clube contra Paula. Ela não gostava nem um pouquinho da namorada do irmão mais velho, e sabia muito bem que, se ela tinha aparecido ali de surpresa, era porque tinha feito alguma cagada com Bruno. E, logicamente, alguém que mexe com os sentimentos dos seus irmãos merece sua eterna raiva.

O resto daquela noite se arrastou. Bruno estava muito cansado e queria descansar, mas Paula fazia questão de ter uma DR naquele exato momento, como se brigar fosse resolver todos os problemas daquele relacionamento louco (o que, logicamente, era impossível, já que para aquele namoro ter futuro os dois precisariam mudar drasticamente a maneira de viver, e nenhum deles estavam dispostos a isso).

Só se lembrava de Paula falando que sim, ela tinha errado, mas que ele não colaborava em nada ao sair para ir à praia e dar "mole" para outras garotas. Aquela discussão poderia ter durado muito tempo, era capaz que Paula estivesse listando todos os seus defeitos até aquele exato momento se ele não tivesse dito "Sim, eu sou o culpado. Agora me deixa tomar banho" e entrado dentro do banheiro para fugir de todo aquele clima pesado que a namorada carregava por onde andava.

Bruno tentou esquecer ao máximo que ela estava há alguns metros de distância, mas nem no banho tinha sossego. Assim que ele passou o shampoo no cabelo, viu sua namorada entrar dentro do box para dividir aquele lugar apertado com ele.

- Estava com saudades disse – ela disse, e juntou seu corpo magricela ao dele (que ainda estava com vestígios de areia).

Logicamente ele não pode negar nada. Ela já sabia que ele estava estranho de alguma maneira, que alguma coisa tinha acontecido. Se Bruno negasse sexo no chuveiro, Paula surtaria e começaria a perguntar todas as possíveis perguntas até encontrar o problema. Ele não queria que ela soubesse da existência de Monalisa. Primeiro porque Paula teria um surto de ciúmes, segundo porque iria até o inferno para saber tudo sobre a ruiva – e quando descobrisse a aparência e o jeito encantador que ela tinha, provavelmente aconteceria a terceira Guerra Mundial.