Quem passasse perto da mesa pensaria que ali habitava um casal que tinha acabado de brigar ou terminar. Monalisa e Bruno aparentavam estar destruídos, com uma aparência derrotada. Ele começara a chorar junto com Monalisa. Aquela reação da namorada era totalmente esperada, mas naquele momento ele estava se sentindo a pior pessoa do mundo. Ao mesmo tempo que precisava enlouquecidamente de um carinho e de uma palavra amiga, ele tinha que ser forte para dar forças para a namorada.
A mulher ao seu lado estava se desintregando em lágrimas, parecia que algum parente tinha falecido – mas talvez o que tinha morrido ali fora o relacionamento deles.
- Eu sei que parece algo muito maior do que é, mas eu acho que podemos conseguir conciliar nosso namoro junto com um bebê – Bruno disse, quase morrendo sufocando com a falta de palavras entre os dois. Monalisa apenas balançava a cabeça e coçava os olhos com as mãos, fazendo sinal de não.
- Por favor, amor. Nós vamos conseguir – Bruno falou bem baixinho, fazendo um carinho no braço dela. A puxou para o seu peito e ninou até que a ruiva se acalmasse e parasse de chorar.
Demorou muito para Monalisa voltar a ser ela mesmo e não passou de um fingimento para que o namorado se sentisse um pouco melhor. Mas por dentro seu coração estava aos pedaços. Logo com ela isso tinha que acontecer. Logo quando ela estava completamente entregue àquela paixão, surgia uma bomba dessas. Monalisa não podia acreditar.
Desde criança ela sonhara em ter uma família. Brincava com suas bonecas de casinha e era a mãe. Virou adolescente e se apaixonou por crianças. Se oferecia para cuidar das suas primas pequenas, adorava fazer esses programas infantis: leva-las para o parquinho ou clube, assistir filmes de desenho e comer besteira. Mas, ao completar seus 16 anos ela percebeu que nunca teria aquilo em sua vida. Passou por três médicos diferente e todos afirmaram um dos piores pesadelos para ela: Monalisa nunca teria um filho, pelo menos não um feito por ela mesma.
Então a ruiva encontrou abrigo trabalhando junto com crianças e adolescentes. Pode ver alguns alunos se formarem, outros viraram amigos íntimos (como Anajú), mas nunca nenhum seria dela. E isso doía tanto. Doía mais ainda saber que Bruno teria aquilo e não seria com ela, nunca.
Estar com seu namorado era como um refúgio, ela não pensava naquilo quase nunca. Bruno era seu ponto de equilíbrio, que fazia com que todos os problemas sumissem. Mas depois daquele momento tudo seria diferente, não existia mais lugar feliz.
- Não dá – a voz da ruiva saiu baixa e rouca. Doía tanto nela, tanto quanto doía nele. Aquela situação era horrível para os dois.
Bruno sentiu um gelo dominar todo o seu corpo, seus músculos se retraíram e as lágrimas ameaçaram cair novamente. Era o seu pior pesadelo acontecendo bem ali, na sua frente e com a pessoa que ele mais queria por perto.
Em um ato desesperado ele avançou na garota e roubou um beijo, querendo derreter aquele gelo de dentro do seu coração, mas a ruiva não reagiu a nada, ficou paralisada e sem colocar nenhum sentimento no beijo. Aquilo foi ainda pior para Bruno, toda aquela rejeição da garota que há menos de um mês tinha se entregado inteiramente para ele.
Seu corpo passou a ser uma Sibéria.
- Eu preciso pensar, preciso de um tempo só para mim – Monalisa falou, já em pé e com sua bolsa no ombro. Só queria espaço e um lugar com muito oxigênio.
- Eu vou entender qualquer decisão que você tomar, qualquer uma. Mas pensa com carinho na gente, por favor – Bruno, também já em pé, falou segurando bem forte a mão dela. Ele olhava fixamente para o rosto dela, mas a ruiva não aguentava olhar nos olhos dele e ficava desviando o olhar. Sabia que se olhasse verdadeiramente para ele iria dizer "sim" até para um pedido de casamento inexistente.
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(Amar)elo
ChickLitLivro 2 - Série 'Parênteses'. Para ler esse você NÃO precisa ler o primeiro, mas receberá alguns spoilers do que aconteceu em 'En(tre)cantos'. ∞∞∞∞∞∞∞∞ Dizem por aí que os opostos se atraem. E opostos é exatamente o que Bruno e Monalisa são! Ela...