Bruno poderia dizer para quem quisesse que tinha tido uma maravilhosa noite de sono, que, mesmo dormindo no sofá, conseguiu sonhar com pôneis malditos, suas coisas preferidas no mundo e alguns fios de cabelo da cor vermelha. Ele poderia falar em alto e bom som que o término com Paula não influenciara em nada no seu humor, ou até que ele realmente tinha ficado triste, mas sabia que ele era o certo. Bruno poderia mentir o quanto quisesse que no dia seguinte as coisas estariam muito mais fáceis, ele correria atrás de Monalisa e a pediria em casamento. Depois de uma semana eles estariam em Las Vegas, casando com um padre a lá Elvis Presley e carruagem em forma de cebola.
Seria um sonho.
Mas era tudo mentira. Ele poderia falar o que quisesse, para quem quisesse, mas ninguém acreditaria.
As olheiras escuras denunciavam a falta de sono durante a madrugada, a falta de sonho (ou até pesadelo), as dores nas costas e no pescoço denunciavam que o sofá – mesmo que enorme – da sua casa não era nem um pouco confortável. Doía o corpo inteiro, para dar dois passos ele precisava fazer mais esforço do que para correr a meia maratona do Rio de Janeiro. Por mais que doesse assumir aquilo, ele não podia negar que aquele término tinha tido suas consequências, e ver Paula indo embora durante a madrugada, em silêncio para não acordar ninguém da casa, fez seu coração se encher de lamento.
Bruno não queria que Paula sofresse, foram anos de namoro e com aquele tempo ele aprendera a amar os defeitos da ex-namorada. Agora não era algo que ela não conseguisse viver sem, mas ainda sim doía vê-la sofrendo.
Por mais enlouquecido que tivesse por Monalisa, não tinha coragem nenhuma de ir atrás dela no dia seguinte. Não depois da cena digna de um Oscar em drama que eles fizeram parte naquela lanchonete. Não tinha coragem de olhar para ela e dizer "ei, estou solteiro. Quer sair comigo? ". Bruno poderia parecer que não tinha caráter, mas ele tinha sim, e ainda de quebra muita vergonha na cara.
Em meio a um turbilhão de pensamentos, Bruno rolou de um lado do sofá para o outro durante toda a noite, madrugada e começo da manhã. Entre cochilos picados e mal-estar, ele ouviu os passos quase silenciosos de Paula. Pensou em se despedir, em pedir mais uma vez que ela esperasse a manhã chegar para ir embora, mas logo desistiu ao perceber que seria melhor que ela chegasse em Brasília logo de uma vez.
Que aquela porta daquela vida, daquela fase de Bruno, fosse fechada de uma vez e que ele pudesse começar de novo. Um passo de cada vez.
Quando o Sol já saia pela janela e ele ouvia alguns barulhos na cozinha, Bruno desistiu de ficar deitado naquele sofá desconfortável e levantou para tomar um café preto e forte para ver se acordava de uma vez.
- Cadê a senhorita Paula? – Anajú perguntou assim que avistou o irmão. Mal estava acordada e já jogava um bom e velho veneno por aí.
- Bom dia para você também, Ana Júlia. Dormiu bem? Eu não dormi tão bem, não aconselho vocês a passarem horas no sofá – Bruno fingiu que não escutou a pergunta da irmã e começou a tomar seu café da maneira mais forte que aguentava. Sua cabeça latejava e seus olhos pareciam ter quilos a mais, mas ele tinha certeza que se encostasse na cama, todo o sono sumiria.
- Bom dia – Luísa, ainda sonolenta, respondeu o irmão e levantou sua xícara com água com gás. Ela não gostava de café e se recusava a beber aquele líquido escuro, então se viciava em água com gás, suco natural e outras coisas.
A irmã mais velha não se importou com o que Anajú estava dizendo para Bruno, ela suspeitava o que tinha acontecido ao escutar a briga do casal e alguém indo embora pela madrugada. Queria apenas que o irmão estivesse bem e que o fim do namoro não tivesse mexido tanto assim com o coração bondoso dele.

VOCÊ ESTÁ LENDO
(Amar)elo
ChickLitLivro 2 - Série 'Parênteses'. Para ler esse você NÃO precisa ler o primeiro, mas receberá alguns spoilers do que aconteceu em 'En(tre)cantos'. ∞∞∞∞∞∞∞∞ Dizem por aí que os opostos se atraem. E opostos é exatamente o que Bruno e Monalisa são! Ela...