Capítulo 4 - Arthur

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Droga mesmo!

Já é 1h47 e eu já estou atrasado para o meu plantão.

Ótimo, já estão me ligando.

- Fala Jessie.

- Para você é Jessica, e está atrasado! Cadê você?

- Exercendo minha função para a sociedade.

- Ajudando bêbados e moradores de rua de novo? Eles não vão pagar o seu salário e nem garantir sua efetivação aqui no hospital! Você é só um estagiário, não se esqueça disso.

- Jessie minha querida, não se preocupe á toa. Eu vou me garantir, tenho um novo paciente.

- Mais um bêbado?

- Não.

- Um morador de rua?

- Não. Você é péssima em adivinhações.

- Okay, desisto!

- Hahaha! Você nunca vai acertar mesmo. Faz o seguinte...

- Nem vem não vou me meter em encrenca de novo não!

- Jessie, me escuta, agora é sério.

- Só acho sério se tiver risco de vida.

- Encontrei uma garota, ela estava caída naquela praça perto da universidade sabe, metade do corpo estava na rua, quase passei por cima...

- Que horror!

- Pois é. Enfim, ela estava sangrando demais, liguei para o siate e eles estão levando ela aí para o hospital.

- Tinha muito sangue?

- Cabeça e abdômen. Não sou especialista, e não queria mexer muito no corpo, mas tenho quase certeza de que ela deve ter sofrido um traumatismo craniano.

- Vai ficar com sequelas se sobreviver.

- Vai sobreviver! Eu quero te pedir, quando eles chegarem aí não perca tempo, mande ela direto pra uma sala de cirurgia.

- Eu não tenho autorização para isso Arthur!

- Eu estou te autorizando!

- Você sabe que não tem essa competência, não é?

- Eu sou filho dos donos, e daqui alguns anos posso vir a ser o seu chefe, então se eu fosse você eu obedeceria, só para garantir, entende?

- O que eu não faço por você!

- Obrigada Jessie, melhor irmã postiça do mundo!

- Argh! Isso foi muito gay Arthur. Você tem noção de que eu posso perder meu emprego né? A chefa ainda é sua mãe.

- Eu sei. Se algo der errado pode colocar a culpa em mim. Mas relaxa, eu já estou chegando.

- Você é um chato, mas tem bom coração.

- Eu tent...

Desligou na minha cara!

- Mal educada! – balbucio consternado com a ousadia da garota.

- Anda falando sozinho agora? – enquanto estou parado no semáforo escuto alguém gritar da moto ao lado. – Surpreso em me ver?

- Heloise?

- A própria.

- Caramba, você me deu um susto!

- E você deveria saber que não se para em semáforos durante a madrugada, com as ruas desertas, ainda mais dirigindo um Porsche Panamera, igual esse seu, com os vidros todos abertos.

- Nossa, falou igual meu pai agora. Mas me diz, o que a senhorita está fazendo na rua á essas horas?

- Estou indo para o hospital. Minha avó piorou. Aliás, você não devia estar de plantão agora mesmo?

- Obrigado por me lembrar. Bye! – ergo os vidros e arranco o carro, deixando ela pra trás. Pelos retrovisores a vejo me olhando incrédula e colocando o capacete, não demora muito para ela me alcançar e passar a minha frente.

Típico de Heloise. Não suporta ser deixada para trás.

Tento acompanha-la, mas deixo quieto, o Hospital já era na próxima esquina, e acredito eu que os pacientes não estariam tão a fim de terem seus sonos interrompidos por roncos de motores.

Ela estaciona a moto dela e vem vindo em minha direção.

- A entrada do Hospital é para o outro lado. O que esta fazendo vindo para outra direção?

- Estou querendo te ajudar seu ingrato. Pula desse carro e corre lá pra dentro, eu sei que você está muito atrasado, deixe que eu coloque o carro pra você lá na garagem.

Saio do carro correndo.

- Muito obrigado Helo! Te devo uma. Só não vá deixar as chaves com a Jessie, ela está possessa hoje.

- Obrigada você por me avisar, é com ela mesma que vou deixar! – com uma piscadinha de olho ela sai cantando pneu até o portão da garagem dos funcionários.

Começo a caminhar rápido quando entro no Hospital, torcendo para que nenhum dos meus pais esteja de plantão hoje.

Traço uma linha reta até o balcão da recepção e chego até a Jessica.

- O senhor deseja alguma coisa?

- Não me chame de senhor, eu só sou apenas cinco dias mais velho que você.

- Como o senhor desejar. – ela exibiu um sorrisinho cínico e venenoso em minha direção.

- Se você soubesse o quanto é sortuda por eu gostar tanto de você... Mas enfim, o siate chegou?

- A garota já está em sala de cirurgia. Aparentemente tudo corre bem, embora o caso dela seja grave e o do bebê seja gravíssimo.

- Bebê? Estamos falando da mesma garota? – levo um sobressalto.

- Estamos sim. E sim, um bebê. Ela estava de seis meses aproximadamente.

- Mas ela nem tinha barriga! – digo indignado.

- Acontece em alguns casos. Muita sorte a dela, magrinha e ainda grávida não apresenta barriga.

- Já deu. Agora eu preciso saber, meus pais estão aqui?

- Pra tua sorte não. Mas ás 8h tua mãe vem para uma reunião.

- Até lá a cirurgia já terá acabado?

- Quem está se formando em medicina aqui é você.

- Custa me responder? Você tem todas as informações aí que eu sei.

- Eu não sei dizer com precisão. Eu disse que o caso dela é grave. Ela passou pela radiografia, pela tomografia e fez até ressonância magnética, posso lhe assegurar que os resultados não foram nada bons.

- E o bebê? – meio com medo acabo perguntando.

- Logo que ela chegou aqui eles já perceberam a gravidez. Fizeram uma cesariana enquanto estabilizavam-na. Ele saiu ileso, embora eu acredite que ela vai ter que gastar rios de dinheiro com cirurgias plásticas se for querer exibir a barriguinha em um biquíni.

- Como?

- Ela tinha três cortes profundos na região do abdômen e embaixo da costela direita. Chegou a me parecer que quem fez essas perfurações queria acertar o bebê.

- Impossível. Isso é muita crueldade, ninguém seria capaz!

- Você trabalha em um Hospital, e continua acreditando que o mundo não é cruel? Santa inocência Arthur!


O Piano BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora