Capítulo 13 - Heloise

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Sempre tive que lidar com o desprezo. Nasci em uma família razoavelmente boa. Meus pais? Morreram de overdose em algum hotel no norte europeu. Minha avó era uma socialite, deu tudo o que os filhos queriam, uma quantidade enorme de dinheiro que deixa qualquer um cego para o que realmente é importante. Fato é, que a minha mãe afundou na vida e o meu tio, irmão gêmeo dela, fez do nome da nossa família o ponto inicial para o sucesso da sua carreira.

Quando minha mãe morreu, eu tinha só um ano e seis meses. Órfã nessa tenra idade, meu tio me adotou legalmente. Jovem, bonito, solteiro e de bom coração, não tardou muito para se casar. O único problema era que ele e a esposa quase não paravam em casa, e eles com certeza não queriam que eu crescesse sem uma boa educação estruturada; nunca verbalizaram isso, mas tenho certeza que não queriam que eu tivesse a chance de acabar como a minha mãe.

Resultado? Quando eles viajavam me deixavam com minha avó, isso até eles terem o próprio filho. Júnior nasceu eu tinha quatro anos.

Minha tia deixou de advogar para cuidar do filho, meu tio começou a mandar dinheiro semanalmente para minha avó pagar a escola e as outras despesas que ela tinha comigo.

No fim das contas ele me bancava, me dizia o que fazer, como, por exemplo, as aulas de ballet, as aulas de inglês e italiano, as aulas de etiqueta, ele ditava que tipo de roupa eu deveria vestir, como eu deveria me comportar, as pessoas de quem eu deveria me aproximar, tudo para não envergonhar o nome da família, como a minha mãe fez.

Hoje eu não acho isso ruim, ele gostava de mim e só queria o meu bem. Por causa dessa decisão que ele tomou naquela época, eu pude estudar em uma boa escola, onde conheci Arthur, Richard e Jessica. Comecei as aulas de ballet clássico aos cinco anos, graças a ele, e agora sinto que ele fez bem em impor tanta exigência na minha educação, pois se tivesse sido de outra maneira eu não sei onde eu estaria neste momento.

Conhecendo meu tio como o conheço, eu já esperava mais alguma ordem para quando minha avó se fosse. Uma semana depois do falecimento dela ele veio falar comigo em particular.

- Faz tempo que não passamos tanto tempo juntos, não é mesmo? - ele jogou ao acaso, se serviu com mais uma dose de whisky e sentou ao meu lado no sofá.

- Verdade. Desde que o Júnior nasceu para ser mais exata. - eu realmente não queria soar como "a garotinha que foi abandonada" naquele momento, mas as palavras praticamente saltaram da minha boca sem eu perceber. - Desculpe, não foi o quis dizer. Eu sou bem grata pelo que fez por mim tio.

- Tudo bem, eu entendo. Sei que você é grata, e sei também que você compreende o que o nascimento do Júnior representou na nossa família. Eu e sua tia os consideramos iguais, os dois são nossos filhos e tem os mesmos direitos. - mas é claro que ele iria tocar naquele assunto. - Você já vai terminar os estudos esse ano. Não existe mais nada que te prenda nessa cidade agora.

- A vovó morreu, mas os meus amigos não. - fui taxativa na resposta. Me repreendo mentalmente por ter feito isso.

- Eu sei. Você tem ótimos amigos, mas eles são apenas amigos. Você não é mais apenas uma garotinha curtindo a vida. Agora você tem responsabilidades.

- Quais responsabilidades? - aproveito que ele se levantou e estava de costas para mim, para então fazer a pergunta e uma careta de tédio e sarcasmo, que ele pode não ter visto, mas com certeza sentiu no tom da minha voz.

- Você tem duas escolhas. - ele pegou a garrafa de whisky e mais outra garrafa da qual eu não fazia ideia do que se tratava, levou até a mesinha no centro do tapete e se sentou novamente ao meu lado. - Sua tia conversou com os antigos colegas de trabalho dela, e eles ficariam muito contentes de receber você. Se quiser ela pode te colocar no escritório dela também, quando sair da faculdade poderá gerenciar o lugar, você será a dona. O escritório seria seu.

O Piano BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora