O Piano Branco

Capítulo 26 - Sophie

- Só eu achei o Arthur meio estranho?

- Todo mundo acha isso. Não se preocupe tanto. – Felipe responde prontamente.

- Eu não estou falando nesse sentido Fe. É sério. Ele anda muito esquisito. Não concordam? – Encaro os dois, e apenas o Hayato acena com a cabeça.

- Eu acho que ele está apaixonado. Está com a cabeça na lua, não para de beber, fica divagando o tempo todo. E também... Deixa pra lá. Melhor ficar quieto. – Hayato começa a tagarelar, para a minha surpresa.

- Agora continua. Por quem acha que ele está apaixonado? – Felipe pergunta ao mesmo tempo em que me dirige um olhar, digamos assim, um tanto acusatório, com um "quê" de "eu não disse para você?".

- Por quem? E não é óbvio?

- Não. – respondo na lata, devolvendo o olhar intenso para o Felipe. Aquilo estava sendo mais engraçado do que qualquer outra coisa.

- Ele está apaixonado por você bobinha. A vida dele está girando em torno de "Sophie está brava comigo", "Sophie não quer mais fazer tratamentos", "Sophie não se alimentou pela manhã", "A Sophie não quer mais olhar na minha cara". Enfim, deu para entender que a cada dez palavras que ele fala, nove tem haver com você.

- E como é que você sabe de tudo isso? – Agora quem estava impressionado com a tagarelice do japonês/coreano/italiano, era o Felipe.

- Não me olhem com essas caras. Eu me senti na obrigação de falar isso para vocês, porque eu também estou me saindo prejudicado nessa equação. Ele não para de pedir conselhos para a Lara. São três horas da manhã, e ele não sai lá do quarto. É irritante. E está na cara que vocês dois – ele aponta o dedo para mim e para o Fe – estão tendo um lance. – ele termina de falar dando uma piscadela.

- Agora tudo faz sentido... – comento baixinho no ouvido do Fe.

- Eu estava certo. O Arthur estava querendo te conquistar.

- Não é disso que eu estou falando. – dou uma beliscadinha no braço dele, o repreendendo. – Estou falando de a Lara namorar o Hayato. Bem que eu achei estranho, ela toda "pra cima" e falante, e ele sempre caladão. Agora sabemos que ele não é caladão.

- Nem um pouco caladão. Entregou o cunhado sem rodeios. – O Fe começou a rir, me fazendo rir também.

- Fiquem quietos vocês dois. Eu quero assistir o videoclipe.

Nos comportamos e voltamos nossa atenção para o palco, onde o videoclipe estava passando.

Eu estava feliz. Um pouco confusa, muito na verdade, mas estava feliz. Eu sentia que a vida realmente estava me dando uma chance de seguir em frente, sem arrependimentos e sem passado. Pelo que chegou aos meus ouvidos, através do mentiroso do Arthur, eu não tinha perdido nada além de um namorado sem escrúpulos, um pai ausente e uma vida tediosa de contratos bilionários.

Também tinha o lance do ballet. Pesquisei sobre a "Angel", que pelo que ele me disse era o meu nome artístico, e não encontrei muitas coisas. Talvez eu não fosse tão famosa quanto ele pensava.

Sinto o Felipe segurar minha mão fortemente. Até olho para baixo, para ver se não tinha nada, mas só vejo os dedos dele se fechando mais ainda.

- Ai! Está doendo! Não aperte minha mão assim. Credo. – Mas ele nem me dá moral, estava com os olhos vidrados no palco, como se fosse a final da copa do mundo.

Resolvo a assistir também, já que todos ali pareciam estar hipnotizados com aquele videoclipe.

A música era boa. Falava sobre como decidir entre dois amores.