Capítulo 16 - Richard

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Depois de 24 horas e 40 minutos, finalmente estou de volta em Copenhague. Não vou mentir, quase desisti e voltei pra casa enquanto esperava por 8 horas e 40 minutos no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, o próximo avião para meu destino final.

Eu agi por impulso na primeira vez em que vim para cá, e agora, na segunda, não foi muito diferente. O interessante é que nas duas vezes eu vim com uma justificativa de que estaria fazendo o certo, correndo atrás de um futuro promissor em alguma universidade estrangeira. Mas fato é: minha real intenção nunca foi intelectual, mas sim emocional.

Não suporto relembrar o que eu vivi com a Carol, e continuar fazendo de conta que nada aconteceu.

Ela está em todo lugar. Nas ruas daquela cidade, em seus edifícios monocromáticos, em seus parques, nos shoppings centers, nas lanchonetes de fast-food, nos restaurantes mais sofisticados, e é claro, ele também está na minha mente. A diferença é que eu não posso apagar uma cidade inteira, muito menos um país ou um continente, mas eu posso tentar apaga-la da minha memória.

Se eu vim pra Dinamarca só por que eu sei que ela nunca viria até aqui? Exatamente! Carol sempre dizia adorar o inverno, até que um dia em uma viagem para Toronto, no Canadá, ela teve que aguentar -10ºC durante 15 dias seguidos. Ela jurou que evitaria ao máximo ter que ir a lugares frios, mas pensando bem, ela também jurou que voltaria a me ver depois da turnê de lançamento dela. Acho que não posso confiar muito afinal.

Espanto esses pensamentos, aliás, estou aqui para esquecê-la. Pego minha mala e me dirijo até a saída do aeroporto. Decido pegar o transporte coletivo, ao invés de pegar um taxi. Quem sabe um caminho mais longo me faça bem.

***

Acabei saindo de casa sem explicar muito para ninguém. Contei para a Sophie apenas o que ela precisava saber, para evitar que meu irmão começasse uma busca incessante por mim. Talvez ele nem se importe, talvez Sophie conte pra ele o que conversamos, talvez ele tente entender ou talvez ele vá me questionar, assim que me ver novamente, quem é a Carol. Apesar de que nem eu sei mais quem é a Carol.

Me repreendo. De novo ela invade minha cabeça sem permissão, assim como ela invadiu minha vida.

Visualizo o hotel SKT Petri, estrategicamente localizado na quadra de trás da Universidade. A cidade está calma neste momento, quase como se estivesse me repreendendo por estar aqui novamente.

Olho a hora e vejo que são 15h48min. Com a diferença de fuso, deve ser quase onze da noite se minha irmã estiver em Chiba, no Japão. Ou quase sete da manhã se ele estiver em Los Angeles. De qualquer maneira nesses dois horários ela estará acordada, onde quer que esteja.

Eu mando uma mensagem para ela, só para ter certeza de que ela pode falar. Não demora muito e meu celular toca.

- Quanto tempo maninho. Achei que já tivesse se esquecido de mim.

- Ah, não seja modesta. É impossível de esquecer você. Colocaram um outdoor da nova coleção da Victoria's Secret na rua de casa. Advinha quem é a modelo gata?

- Não brinca? Jura? Achei que não ia ser reconhecida quando fosse para casa, mas pelo visto a cidade toda vai me reconhecer. Só por que desta eu queria um pouco de privacidade.

- Você vai ir para casa? Fazer o que? O pai está viajando a trabalho naquela pesquisa dele.

- Não é só para ver o pai. – ela faz uma pausa, consigo ouvir ela cochichando com alguém do outro lado da linha. Reconheço algumas frases como "está tarde", "você vai acordar ela".

O Piano BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora