Capítulo 2 - Andryl

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Só para constar, eu não curto musica clássica e muito menos balé e companhia.

Essas coisas não me interessam porem aquela bailarina me despertou um interesse surreal.

Depois de ter sido expulso de um reality show musical do meu país, por excesso de violência nos bastidores, eu fiquei transtornado.

Como parte do tratamento fui obrigado a começar frequentar espetáculos de musica erudita, como diz minha mãe: vai acalmar a tempestade da tua alma.

Tenho que dizer que não concordei com essa ideia retrógada. No entanto não me arrependo de ter entrado naquele teatro em Berlim, onde eu a vi pela primeira vez.

Lago dos Cisnes de Tchaikovsky. Sophie interpretava o papel de Odette, o cisne branco. Tinha algo de grandioso ao olhá-la dançar, a musica era muito dramática e parecia que seu corpo sentia o peso de cada nota que ela escutava, chegava a dar a impressão de que ela estava sentindo realmente a dor que a personagem passava.

No final do quarto Ato, fiquei esperando para conhecer quem ela era.

Não obtive sucesso. A única coisa concisa que consegui saber naquela época era que ela era brasileira e herdeira da Keller.

Logico que eu não sabia quem era Keller, mas depois de algumas pesquisas consegui chegar até o senhor Miguel Adans, marido da tão querida e estimada Suzane Keller, a melhor bailarina que Berlim já teve o prazer de formar.

Conheci o projeto do Instituto Suzane Keller, e decidi que já estava na hora de apostar de novo em minha carreira musical.

Quando finalmente cheguei ao Brasil me surpreendi em ver Sophie me esperando no aeroporto.

A probabilidade de eu ter encontrado ela era muito pequena, pra não dizer nula.

- É... Olá? Você por algum acaso é a garota que o senhor Adans disse que viria me buscar?

- Depende. Se esse "senhor Adans" for o meu pai, Miguel, e você for o britânico Andryl qualquer coisa, então sim, eu sou a garota.

- Eu pensei que bailarinas fossem mais educadinhas.

- Jura? Sua mãe nunca te ensinou a não julgar pelas aparências não?

- Você não vai encontrar pessoa mais superficial do que ela, acredite. Então não, ela nunca me ensinou.

- Nesse caso você está perdoado então. Mas vem cá, como sabe que sou bailarina? Meu pai te contou?

- Não, - comecei a rir sem graça – ficaria surpresa se eu te contasse que vi você dançando em um teatro em Berlim?

- Sim, eu ficaria muito surpresa, afinal você não parece fazer o tipo de pessoa que frequenta teatros e assiste peças de balé.

- "Sua mãe nunca te ensinou a não julgar pelas aparências não?" – falo imitando a voz e forma como ela fala causando uma explosão de gargalhadas por parte dela.

- Cara, isso teria sido bem mais engraçado se a minha mãe não tivesse morrido quando eu nasci. – Ela continuou a rir, já eu fiquei estático. – Relaxa um pouco.

- Eu não sabia me desculpe.

- Não teria como saber. Você é uma gracinha, acho que vamos nos dar bem Andy qualquer coisa.

- Eu agradeço pelo "gracinha", e é Evans, Andryl Evans.

- Sobrenome não é importante, mas tudo bem "Andryl Evans".

- É importante sim, ele identifica a família a quem pertence.

- Isso não tem real significância. Família são aqueles que estão sempre junto de você, te apoiando no que for preciso, laços de sangue não tem nada haver com isso. Ou seja, as pessoas usam os sobrenomes para exercer algum tipo de poder sobre as outras, nada a mais e nada a menos do que apenas isto.

- Uau! Deixou-me sem palavras.

- É eu costumo causar esse efeito nas pessoas. - ela ri brincalhona - Agora vamos para o carro, o pessoal que ficou em casa já devem estar ansiosos para te conhecer.

- Você mora com o pessoal do Instituto?

- Lógico, eu gosto de pensar que são eles que moram lá comigo, mas dá na mesma, não é mesmo?

- Você tem dinheiro, por que não mora em um lugar só seu?

- Viver sozinha e solitária? Não mesmo queridinho. Aquelas pessoas são o que eu tenho de mais próximo do que se pode chamar de família. Além do que, quando meu pai não esta no país eu que tenho que "gerir os negócios dele". Sendo assim, tenho que ficar de olho nas pessoinhas que estão enchendo os bolsos dele.

- Você fala como se não gostasse do trabalho dele.

- Eu gosto do trabalho dele, só não gosto do que ele fez com o nome da minha mãe. Ele transformou o que era pra ser um projeto de desenvolvimento da comunidade em uma maquina de fazer dinheiro. Entende agora?

- Na verdade não.

- Pra resumir a ópera, as chances de oportunidade para conseguir fazer parte do Instituto Suzane Keller são muitos desiguais. Se você souber só o mínimo você não serve e não passa nas audições. O nível técnico cobrado é muito alto, não é atoa que as bandas e os grupos que saem do Instituto façam tanto sucesso.

- Nossa, eu pensei que a gente iria aprender aqui, achei que o Instituto nos deixaria bons.

- Essa era a proposta inicial do projeto. Mas agora, para entrar vocês já tem que ser bons, o Instituto se encarrega de deixar vocês excelentes.

- Isso é o slogan do Instituto?

- É quase isso.

- Tem quantas pessoas atualmente morando no Instituto?

- Acho que somos em 23 pessoas agora, contando com você e tirando os funcionários.

- Por isso que você é tão maluca. – Digo em um sussurro, não tão baixo assim.

- Eu escutei isso hein. Vou baixar o seu salário, isso quando tiver um.

Quando conheci Sophie, ela era tão risonha que parecia ter sérios problemas mentais.

Seu senso de humor era demasiado elevado. Muito raramente alguém a encontrava triste e nunca ninguém a viu chorando, sempre com um sorriso no rosto.

Essa era a Sophie, minha garota surreal.

Fiquei surpreso por ela ser tão espontânea, usar roupas de estilo tão diversificado, nem eu usava all star rasgado.

Por ela ser bailarina eu esperava no mínimo que ela usasse saias rodadas e batom cor de rosa. A questão é que quanto mais eu a conhecia mais meu desejo de conhecê-la melhor aumentava o meu interesse.

Depoisde dois meses não perdi mais tempo e começamos a namorar.    

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