Capítulo 12 - Lara

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Tudo estava normal. A mesma rotina de sempre. Talvez o fato de naquele dia em específico eu não ter levantado na hora em que o despertador tocou ás 05:00 da manhã, não ter ligado a TV no canal de noticias mundiais, não ter feito minha caminhada matinal enquanto escutava a rádio local, tudo isso e mais algumas coisas que costumo fazer todos os dias, praticamente no piloto automático, deve ter contribuído para o que aconteceu.

Passei o ultimo mês viajando de Nova York para Londres, de Londres para Milão, de Milão para Paris, desfilando nas passarelas da Fashion Week, então resolvi quebrar a minha rotina, aproveitar que eu estava em casa finalmente, e descansar um pouco.

Dizem que ser modelo é sinônimo de fama e dinheiro fácil. Discordo. Não é tão fácil quanto as mídias anunciam.

Sua vida passa a não ser da sua conta, assim que você assina um contrato com alguma agência. Eles sabem o que é melhor para você, e se você é esperta e almeja o sucesso, você os escuta sem hesitar e questionar.

Não é qualquer um que sabe lidar com as adversidades e com a pressão que o mundo da moda exerce sobre você.

Com dez anos fui morar com meu pai biológico, Jimmy Hall. Ele morava, por assim dizer, no distrito de Haight-Ashbury em São Francisco na Califórnia. Digo "por assim dizer", pois ele é hippie e nunca morava por muito tempo no mesmo lugar.

Quando fui para lá, ele disse que tinha acabado de voltar para a cidade.

- Eu voltei pra cá, por que queria que minha filha visse e sentisse a vibração desse distrito. A cidade mudou um pouco, desde a ultima vez que estive aqui, mas continua com a mesma essência.

Eu sempre soube que Pablo Ferraz não era meu pai de verdade, ele sempre me tratou como filha dele, nunca fez nenhuma distinção entre mim e os filhos dele. Até que éramos parecidos, temos os mesmos olhos azuis e os cabelos lisos.

Diziam que eu era mais parecida com ele do que os próprios filhos biológicos. Arthur tinha a pele alva da minha mãe, junto com seu cabelo loiro e ondulado. Os olhos eram pretos como os da minha avó materna, mas quanto às feições estéticas, ele era a cara do pai. Richard era moreno e alto como o Pablo, os olhos eram cor de mel, iguais os da minha mãe e o cabelo preto e ondulado. Ele lembra muito a minha mãe.

O engraçado era o fato de Jimmy e Pablo serem parecidos. O cabelo liso, os olhos azuis, a altura acima da média, características essas que eu herdei. A diferença entre eles estava na cor dos cabelos. Pablo tinha os cabelos castanhos claros, enquanto os de Jimmy eram ruivos. Nessa parte eu fiquei meio a meio, eu sou uma ruiva aloirada.

Quando eu completei quinze anos eu deveria ter voltado para o Brasil, mas isso não aconteceu. Meu pai ficou doente então resolvi ficar com ele no acampamento.

Minha mãe surtou, mas Pablo me deu todo o apoio. Me mandou dinheiro para as despesas médicas, já que ele sabia que o estilo de vida de Jimmy era simples. Tínhamos apenas o necessário no trailer, e quanto ao dinheiro tínhamos só o necessário para não passar dificuldades.

Foi uma época difícil. Jimmy estava com sérios problemas cardiopulmonares, devido a uma pré-disposição genética e também ao fato dele ser fumante.

Só o dinheiro que chegava não era suficiente, embora a quantia fosse generosa, não estava dando conta dos custos com o hospital.

Com dezesseis tirei minha carteira de habilitação e comprei um carro confortável o suficiente para poder viajar com Jimmy sem o corpo dele sofrer tanto, tudo com o dinheiro da venda dos três trailers que o Jimmy tinha no acampamento.

O Piano BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora