Pequena Stark II

17 - Quando tudo começou a dar errado

Um ano depois: Abril de 2016

Cambridge, Massachusetts

Todos na plateia estavam quietos, ouvindo a mulher que cantava e tocava Try To Remember apaixonadamente ao piano. Usava roupas elegantes, um colar de pérolas e um coque simples. Tinha cabelo loiro e uma voz suave e cativante.

Foi a primeira vez na vida que eu vi a minha avó.

-Acorde querido, diga tchau pro seu pai – disse.

-Quem é esse mendigo no sofá? – pergunta meu avô, levantando um lençol sobre o sofá e revelando um Tony Stark bem mais jovem.

Meu pai usava um gorro de natal, uma calça de moletom e uma camiseta natalina qualquer. A conversa entre os três seguiu sobre natal.

Por um doce momento eu imaginei como seria ter participado da ceia natalina dos Starks quando criança. Correr pela casa aos seis ou sete anos, usando um vestido vermelho e bufante, com o cabelo em cachos que logo se desfariam com a correria. Então minha avó me pegaria no colo, dizendo que eu era a garotinha mais linda do mundo, ou qualquer outra coisa que as avós costumam dizer. Meu avô provavelmente me daria uma boneca maior que eu pra mostrar o quanto se importava, mesmo que eu só os visse em datas comemorativas. E meu pai estaria sorrindo à distância, encostado no console da lareira.

Em um universo alternativo, talvez.

Uma lágrima me escorreu e eu tratei de limpá-la, mesmo que o fundo do auditório estivesse escuro o suficiente para que ninguém fosse capaz de me enxergar conta a parede.

Aquele pensamento foi uma tolice. Não importava o quanto eu desejasse, aquilo jamais aconteceria. O passado não podia ser reescrito.

Anthony aparece, vindo do outro lado do auditório até mim.

-Achei você. Pensei que ia com o papai atrás do tal traficante de armas.

-Eu queria ir, mas Tony insistiu que eu viesse. Disse que ando trabalhando demais.

-Isso é bem verdade. Quando foi a última vez que você e o papai saíram?

-Tá falando do que? Nós vivemos saindo.

-Eu digo pra algum lugar onde ninguém saia sangrando ou inconsciente.

Penso por um momento.

-Acho que foi pouco antes de nos mudarmos pro complexo.

-Pois é, e já estamos morando lá há mais de um ano. Vocês precisam viver um pouco.

-O trabalho é mais importante do que qualquer filme bobo no cinema – expliquei – Os Vingadores estão desfalcados, não podemos nos dar ao luxo de férias assim do nada.

-Vocês nem parecem mais casados – comenta, finjo não ouvir.

-Tony disse que eu conheceria meus avós. Não imaginei que fosse isso.

-Então você não sabia? – indica o palco.

-Não. Mas estou feliz. Isso é muito... Emocionante.

Ele assente.

O Tony mais novo se encosta em uma parede, mais próximo da plateia. Entendi porque as mulheres sempre caíram aos pés dele. Tony não era só charmoso desde sempre, era lindo.

E minha reserva no inferno foi efetuada com sucesso.

Minha avó largou o piano e foi até ele, dizendo que ele iria sentir a falta deles pois era a última vez em que estariam juntos. Tony se vira para Howard.