"Por favor, não!"
Bang, bang.
Acordei com um salto. Ainda estava no Quinjet, mas não me lembrava de ter deitado. Talvez tivesse desmaiado, mas era pouco provável. Alguém tinha me embrulhado com um cobertor, e nem estava tão frio assim. Há quanto tempo eu estava dormindo? O que estava acontecendo na Alemanha agora?
As ideias me deixaram aflita. E ainda tinha aqueles malditos pesadelos! Como se eu já não tivesse problemas o bastante quando estava acordada. Esfreguei o rosto tentando manter o foco.
-Um dólar por seus pensamentos – Bucky senta do meu lado no chão e me assusta.
-Como se valessem tão pouco... – comento.
-Não conheço o bastante da nova você pra saber se está escondendo um segredo ou não – permaneço calada. Suspirando, Bucky parece decidido a me fazer falar – Steve disse que não estava conosco por causa do filho de vocês. Mas você está aqui agora. O que mudou?
Esfrego o rosto mais uma vez. Tinha se tornado um hábito nervoso, praticado sempre que eu sentia estar perdendo o controle.
-Quando eu voltei e me fizeram lembrar quem era Katherine, Nicolle ficou martelando na minha cabeça, querendo sair. Foquei no trabalho, na família, e em qualquer outra coisa que me distanciasse dela.
Falar aquilo em voz alta revelava pra mim que os últimos dois anos haviam me tornado numa mentira, e que finalmente a Katherine estava sendo apresentada ao mundo. Como uma boneca russa, criei tantas camadas de proteção que me afastei de quem eu realmente era. Jason e Anthony, às vezes, conseguiam penetrar uma camada ou outra. Bucky parecia ser capaz de atravessar todas elas sem o menor esforço.
Ele prestava atenção nas minhas palavras. Me perguntava se ele estava comparando nossas decisões pra esquecer do passado.
-Mas então me falaram de você. E cada vez que eu escutava seu nome, que eu via ou ouvia você, fui ficando menos estável. Me fazendo lembrar de coisas que eu nem sabia mais que tinha vivido. E eu me dei conta que Nicolle é uma parte terrível de mim, e que nunca vou me livrar dela – encosto a cabeça na parede atrás de mim e estico as pernas – Eu sei do que ela é capaz, e aqueles soldados são capazes de mais. Decidi que não quero esse mal no mundo. Porque se permitirmos, não importa o que eu tenha perdido no processo.
Bucky pareceu entender, mas eu ainda me sentia inquieta.
-Como você consegue olhar pra si mesmo sabendo que ele está aí dentro? – sussurro. Um bom tempo de silêncio passa antes que ele responda.
-Não adianta negar que ele está lá, porque todo mundo sabe e não vai me deixar esquecer. A diferença é a importância que eu dou pra ele na minha vida. O que ele representa pra mim. Posso ver o copo meio cheio, ou deixar ele me transformar no copo meio vazio. Apenas... seja aquilo que quer que lembrem de você.
Concordo em silêncio e me perco em pensamentos, achando que a conversa tinha acabado. Com a mão de metal, Bucky segura a minha e entrelaça os dedos nos meus. Estranhando a atitude, eu o encaro.
-Por favor, seja o copo meio cheio – murmura – É o que eu tento ser.
Era fácil entender Bucky, porque era muito parecido comigo. Talvez pelas experiências, eu não sei. No entanto, Bucky parecia não entender ele mesmo. Aparentava estar sempre com medo, assustado e sofrendo; mesmo que não quisesse demonstrar isso. Bastava observá-lo por alguns segundos e perceber a confusão estampada no seu olhar.
Bucky era mais do que achava e eu não sabia como fazê-lo entender que era especial pra mim. Como alguém tão partido e confuso podia me fazer tão bem?
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Pequena Stark II
FanficUm ano e meio na Hidra banhando sua vida em suor e sangue. Nicolle Murray não criava expectativas sobre coisa alguma e nem precisava delas, sabia que não tinha escolhas. Era uma soldada exemplar, até que seu melhor (e único) amigo é forçado a esquec...