Amanda
Pedro aceitou ter a sobrinha nos fins de semana na casa dele, entendia que uma mãe precisava estar próxima de sua filha e facilitava para Clara ficar mais à vontade comigo sozinha.
Busquei minha filha na casa de Henri, o antigo lar onde eu morava. Chegando lá, fui recepcionada por um Henri manso, com uma ferida no rosto.
Os flashes de cenas da noite anterior insistiam em tomar posse de minha mente, um momento ou outro, mas não associei nada à ferida de meu ex-esposo quando o vi, imediatamente.
Clara ficou silenciosa por toda a viagem. Na realidade, após a separação, ela não falava mais com tanta frequência. Eu já a havia levado em um médico, mas era apenas uma fase, como todos diziam.
Sábado era um dia de descanso para Pedro. Ele ficava sempre em casa. Comprava comida pronta e jogava videogame — sim, ele ainda joga videogame com a idade que tem. — Eu e Clara passeávamos o dia inteiro pelo bairro. Íamos na pracinha, no shopping e no fim do dia Pedro nos levava à pizzaria. Era o momento do tio interagir com sua sobrinha. E como nos últimos sábados, aquele não foi diferente.
Após o almoço com Clara e Pedro, levei minha pequena princesa para a pracinha, no parque e, enquanto estávamos lá, tentei interagir com minha filha e fazê-la falar.
— Minha linda, como tem sido na escola?
— Bem — respondeu olhando para os pés.
— O que você tem aprendido?
— Muita coisa — murmurou inexpressiva, enquanto se balançava no balanço.
Fiquei ainda mais preocupada. Algo de errado estava acontecendo e eu tinha certeza disso.
Parei o balanço e agachei até ficar na mesma altura de minha filha.
— Filha, você está triste com a mamãe? Papai fica falando algo de mim para você?
Clara assentiu tímida e então abaixou seu olhar para os pés.
Meu sangue subiu. Se aquele imbecil tivesse contado alguma mentira para Clara...
— O que ele fala, filha? Me conta? — Tentei não transparecer raiva em minha voz.
Eu sabia que assimilar a separação dos pais aos quatro anos de idade nunca seria fácil, mas tenho tentado de tudo para me manter perto, levado-a no médico, sendo a mesma mãe que eu era, mesmo que longe. O meu azar seria caso Henri não fosse o mesmo pai e falasse alguma merda para ela.
— Se eu falar, você vai continuar brigando com ele e nunca mais vai morar com a gente de novo? — indagou com o olhar ainda em seus pés.
— O quê? Eu prometo não brigar com seu pai, mas preciso que me diga o que ele fala de mim.
Concentrei meus olhos nos dela, aguardando o som fino de sua voz entoar a justificativa.
— Ele diz que você foi embora porque eu falo demais e desobedeço.
Uma singela lágrima desceu dos olhos de Clara enquanto ela falava.
Mas que filho da...!
Fechei os olhos e respirei fundo. Odiava ter que discutir com Henri, mesmo não sendo mais mulher dele. No entanto, a cada dia se surpreendia com a capacidade dele ser um mau-caráter.
— Mas é claro que não é por isso, filha. Eu jamais deixaria seu pai por algo tão bobo. Vamos pra casa, eu converso com você quando chegarmos lá, te conto tudo e então você vai ficar mais feliz, ok? — Tentei acalmá-la mas, em meu interior, queria chorar com ela.
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1 - Inesquecível {VERSAO WATTPAD}
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