TONY
A vida é mesmo uma passagem. A passagem em uma estrada longa e solitária onde você só pode finalizar o trajeto deixando tudo o que conquistou pra trás e carregando consigo a sua essência.
De que adianta ter milhões na conta do banco, casas, bens, poderes, se nada disso, absolutamente nada te fará viver nem que seja um segundo a mais quando for a sua hora de morrer?
Quando é a nossa hora, nada pode atrasar ou adiantar. É pra ser.
Assim que cheguei em Goiânia — Goiás e rumei ao hospital onde meu pai estava internado, meu coração palpitava de modo frenético. Era medo, tensão, saudade.
Sim. Eu sentia saudade do pai que eu tive antes da morte da minha mãe. Sentia saudade da nossa amizade, da nossa cumplicidade. Ele sempre sabia o que me dizer e me dava os melhores conselhos.
Daí que eu tirei a conclusão de que a morte não mata só quem se vai com ela. Mata quem se deixa morrer aos poucos por estar ao redor. Meu pai morreu há dez anos, quando o corpo da minha mãe foi enterrado. O pai que ele era, o marido, o homem se foi, ficando apenas a casca fria e vazia, que após anos de terapia conseguiu seguir "em frente", porém nunca mais foi o mesmo. É preciso dar um basta nisso e será hoje.
Não vou permitir que a morte leve meu pai sem que ele saiba o que sempre significou pra mim. Sem saber que eu ainda lembro o ser humano incrível que ele foi.
Ele precisava saber.
Chegando lá, um grupo enorme de repórteres e jornalistas aglomeravam-se em frente ao local e assim que eu saí do táxi, vieram direto até mim.
— Com licença. O que o senhor tem a dizer da internação de seu pai? O ataque cardíaco foi devido aos estresses da empresa?
Uma repórter começou a perguntar e eu senti vontade de lançá-la longe. Mas apenas meneei a cabeça, dando uma negativa, e adentrei o hospital.
Tem gente que não tem mesmo noção de que em certos momentos não se deve forçar serviço.
A primeira coisa que eu fiz, ao chegar, foi procurar o médico responsável pelo atendimento ao meu pai. Ele me mostrou em prontuários e explicações o seu quadro e disse que o pior já havia passado, mas que ele precisaria permanecer para um check-up e ficar em repouso por um tempo.
Segui até o quarto onde ele estava internado e toquei a maçaneta fria de inox da porta lentamente. Girei-a e abri a porta, colocando minha cabeça dentro do recinto antes de entrar, verificando se ele estava dormindo ou apenas repousando.
Estava dormindo.
Entrei e fui até ele.
— Ah, pai... — lamentei enquanto segurava sua mão ao lado da cama.
Puxei uma cadeira e sentei ao seu lado. Suspirei e depositei um beijo na sua mão frágil. Eu ainda não estava preparado para perdê-lo e, ao ouvir do médico que o pior já havia passado, um alívio imprescindível se apoderou de meu corpo.
— Queria que tudo fosse tão diferente, pai. Queria que jamais tivesse me afastado. Me rejeitado. Eu queria que você estivesse perto para ver o homem que seu filho se tornou. Tudo o que eu amadureci por todos esses anos — respirei fundo. — Mas ainda dá tempo. Você ainda está aqui. Podemos fazer certo dessa vez.
Senti sua mão apertar a minha naquele instante, então uma fina lágrima desceu de meus olhos.
— Sei que ainda está fraco. Mas eu estou aqui. Independente de tudo, pai. Não vou deixar você. Me lembro até hoje os momentos que passamos na minha infância. Sabe o dia em que aprendi a ler na escola? Lembra?
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1 - Inesquecível {VERSAO WATTPAD}
ChickLitVersão wattpad. Leia com bonus e epilogo na amazon! Série feelings 1 "Não são os grandes momentos que marcam uma vida, e sim os que acabam por se tornar inesquecíveis." Amanda sempre foi o tipo de mulher ideal. Boa esposa e mãe, dedicada à família e...