Capítulo 1 - Recepção Calorosa

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Ok, ai vão as razões pelas quais eu definitivamente detesto o mês de fevereiro:

a) Fevereiro significa que o verão está mais próximo do final, e logo vai começar a esfriar. E eu odeio frio;

b) Final das férias de verão;

c) Acordar às 6 da manhã é realmente estimulante;

d) Ver os professores gritando é ainda mais;

e) Lições, trabalhos, provas...;

f) Quer mais alguma coisa?

Agora, as razões pelas quais eu realmente gosto desse mês:

a) Fevereiro também quer dizer que eu tenho alguma coisa pra fazer, afinal, mesmo que seja chato;

b) Tem o carnaval;

c) E eu vejo o Ricardo;

d) É o mês mais curto;

e)  E eu vejo o Ricardo. Ponto.

Mas naquele ano, especificamente falando, eu tinha uma razão a mais para amar e odiar o início de ano.

Primas. Amadas primas.

Vamos colocar da seguinte forma: eu sou filha única de pais separados. Meu pai é filho único, e a minha mãe tem três irmãs e dois irmãos, sendo que uma tia e um tio meus são solteiros. Meu tio mais novo é casado e tem uma filha de dois anos com uma argentina, motivo pelo qual ele e a família haviam se mudado pra Buenos Aires e vinham pro Brasil somente em datas festivas. Minha tia mais velha tem três filhos, dois homens de 20 e poucos anos cada um e uma garota de uns dezoito, que não aparecia nunca há algum tempo. E a minha tia do meio tinha a Sabrina e a Giovanna.

Nós três éramos muito apegadas pela própria falta de parentes mais próximos. Quando crianças, nós brincávamos juntas, brigávamos e até viajávamos juntas, como uma família normal. A distância aumentou um pouco quando meu tio foi transferido pra sede da sua empresa em Minas Gerais, e passamos a nos ver somente nos feriados e nas férias durante os quatro anos que se seguiram. E agora que ele tinha sido transferido de novo pra São Paulo, elas estavam de volta.

E tão diferentes...

A primeira impressão que eu tive quando olhei para as duas, sentadas no sofá da casa da minha avó materna, era de que estava olhando pra duas estranhas. Sem chance que tivessem mudado tanto em tão pouco tempo sem nos ver, mas tinham. E como.

A Giovanna e a Sabrina eram ao mesmo tempo idênticas e opostas. O mesmo carisma, a atenção, facilidade pra lidar e encantar todo mundo, e aquele senso explosivo que é melhor não abusar. Os mesmos cabelos ondulados do meu tio, o mesmo formato da boca e o jeito de sorrir, a mesma palidez e o mesmo corpo magro.

Mas enquanto a Sabrina era dócil, meiga e paciente, calma como ninguém, com os cabelos tão castanhos que pareciam chocolate, a Giovanna era louca, impulsiva e enérgica, quase tão loura quanto eu. E, naquele tempo que eu havia ficado sem vê-las, as diferenças estavam ainda mais evidentes.

Nana (como nós chamávamos a Giovanna, apelido que ela odeia mais que tudo no mundo) era a mais velha, mas nunca tinha sido a mais alta. Nós três tínhamos exatamente a mesma altura desde sempre. Não agora. Ela tinha crescido uns quinze centímetros pra cima e mais alguns nas medidas laterais, criando formas de um jeito espetacular. Estava fabulosa. Mais do que eu me lembrava.

A Sabrina estava também mais bonita, mas de um modo mais delicado. Eu sabia que era cantora, que tinha sua banda lá pros lados mineiros, mas não sabia que ela só usava preto. Nem que as pontas dos seus cabelos estavam pretas. Nem que ela agora usava botas de plataforma pra ficar mais alta, porque tinha crescido tanto quanto eu em todos os sentidos e lados.

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