Capítulo 12 - Letra e Música

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Puxei meu telefone já no ônibus para casa. Eu tinha nove ligações não atendidas. Duas da Bela, sete da minha mãe. Não sabia para quem ligar primeiro, quem eu queria xingar mais naquele momento: minha Mãe por ter me metido em mais uma furada com o meu pai, ou a Bela pela sua grande amizade num momento de extrema necessidade.

Acabei discando o número de casa. Eu precisava tranqüilizar minha mãe, que provavelmente já tinha ligado pro meu pai e descoberto que nós não estávamos juntos, e devia estar como louca atrás de mim, já que já eram quase sete e eu ainda não estava em casa.

- LOLITA, POR QUE VOCÊ NÃO ATENDE ESSE TELEFONE? ONDE VOCÊ ESTÁ? EU FIQUEI TÃO PREOCUPADA...

Os gritos da minha mãe eram tão altos que todo mundo no ônibus ficou olhando pra mim. Esperei que o lapso dela passasse e voltei a encostar o fone na orelha.

- Não precisa gritar, eu estou te ouvindo muito bem. – bufei – Já estou no ônibus para casa.

- Por que você não me ligou assim que seu pai te avisou que não ia? – mamãe exigiu, parecendo uma ditadora usando aquele tom de voz sério-sem-gritar – Eu teria ido te buscar. Você tinha que ter me avisado!

- Mãe, eu estava brava, ok? – bufei de novo – Ainda estou muito brava com tudo o que aconteceu. Eu precisava de um tempo. Quando eu chegar em casa a gente conversa.

E desliguei na cara dela.

Então mandei uma mensagem pra Bela.

Amanhã, na sua casa, depois da escola, digitei rapidamente. Enviei, e menos de um minuto depois, a resposta profunda chegou, fazendo meu celular vibrar.

OK.

Maravilha. Talvez ela tivesse me ligado duas vezes só pra dizer algo ridículo como “ok”.

Ela ia se arrepender de ser tão negligente quando eu contasse tudo pelo que eu tinha passado.

Meu celular vibrou de novo e começou a tocar. Olhei, e não era minha mãe. Era a Sabrina. Atendi.

- Alô?

- Lolita, você viu meu caderno de músicas? – ela disparou, e eu gostaria que ela pudesse ver minha careta numa hora dessas.

- Oi pra você também. – resmunguei – E não. Eu nem sabia que você tinha uma!

- Claro que sabia! – minha prima exclamou, agitada com alguma coisa do outro lado da linha – Um caderno preto que eu colei umas estrelas adesivas brilhantes na aula de geografia, lembra? Que você desenhou na contracapa?

Ah, agora eu sabia do que ela estava falando. No meio de uma aula de geografia, há mais ou menos dois ou três meses, eu estava fazendo dupla com a Sabrina pra fazer uns exercícios, mas ao invés de responder questões eu fiquei desenhando naquele caderno enquanto ela dormia. Eu tinha achado o tempo todo que era o caderno de geografia dela.

- Eu não vejo esse caderno há uns três meses desde que eu desenhei nele. – respondi, então – Você perdeu?

- É, eu levo ele pra escola todo dia, ele vai comigo pra onde eu vou, mas eu não faço a menor idéia de onde ele está! – pela voz, parecia que ela tinha perdido um filho, não um caderno – Todas as minhas músicas estão lá, algumas tem até as cifras, droga!

- Onde mais você foi esses dias, além da escola? – perguntei, então, me sentindo até mais feliz com toda a confusão da minha prima e seu caderno desaparecido.

- Eu tive que ir no shopping ontem comprar um presente, mas... – a voz foi morrendo, e então apenas silêncio – PORCARIA! DROGA, DROGA, MELECA, MERDA, AAAAAH!

O Diário (nada) Secreto - vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora