Capítulo 16 - As luzes de São Paulo

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- Mãe, eu preciso que você assine meu boletim.

Aquelas foram as palavras que eu mais sofri pra dizer.

Depois de voltar do cinema, passei metade da noite em claro tentando pensar num jeito de escapar da minha mãe. Eu poderia falsificar a assinatura, entregar o boletim, e fazer todas as recuperações sem que ela soubesse.

Nada disso. Não tinha a menor chance da minha mãe não perceber que eu estava me matando de estudar logo no fim do ano e que eu chegaria tarde praticamente todos os dias, ficando até pelo menos cinco horas na escola pra fazer as provas de recuperação.

Ou eu podia simplesmente virar pra ela e dizer as palavras acima, precedidas de um “mãe, por favor, não fica brava!”

Como se fosse adiantar muita coisa. Ela ia ficar brava independente do que eu argumentasse. E eu não tinha argumentos. O que resultava numa Lolita-no-espeto como prato principal.

Me lembrei da fúria dela quando eu cheguei completamente bêbada em casa e dormi no sofá. Me lembrei dos meses de castigo, da bronca que eu levei. Me lembrei que por causa dessas festas eu tinha deixado de estudar e tinha me ferrado em todas as provas.

Parabéns, Lolita. Agora, a fúria da mamãe não vai chegar nem perto de ser tão suave. Ela vai pegar uma serra elétrica, cortar seus braços e acender uma fogueira pra queimar você viva quando perceber que, ei, sua filha única, pra quem ela paga um colégio católico privado nada barato, está repetindo de ano!

Eu sou de longe a pior filha do mundo.

Por isso, depois de tanto dizer aquela frase simples e sofrida em frente ao meu espelho, eu precisei de uns bons três minutos em frente à minha mãe, sem ar, sem voz e sem coragem, até conseguir fazer a fala sair e dizer:

- Mãe, eu preciso que você assine o meu boletim.

Ela estava comendo iogurte e assistindo “Sexta-Feira Muito Louca” no Disney Channel quando eu disse isso. Me olhou com aquela cara suspeita, e eu entreguei o boletim pra ela.

Me sentei, assistindo seu rosto e suas expressões mudarem. Ela foi de desconfiada a pasma, então ficou furiosa, e logo parecia completamente inconformada.

- Lolita! – ela exclamou, num tom inconformado, misturado com decepção – Filha, o que é isso? O que são essas notas?

- Eu sei... – meus olhos se encheram de lágrimas. Como se eu já não estivesse emotiva o suficiente desde ontem!

- Carlota, você vai repetir de ano! – ela quase gritou, chacoalhando o papel na minha frente, e o fato de estar usando meu nome só me deu a certeza do quão brava ela estava – Você precisa fazer recuperações pra praticamente todas as matérias! Como você deixou as coisas chegarem nesse ponto?

- Eu não sei! – ainda me atrevi a responder, começando a chorar, com todo aquele peso, somados aos demais, parecendo afundar meu cérebro e tirar tudo de dentro dos meus dutos lacrimais – Eu não liguei, eu dei mais importância pras outras coisas...

- Claro! Porque festas e namorados são realmente mais importantes do que o seu futuro! – ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro – Eu não acredito que você está fazendo isso com você mesma! Fazendo isso comigo! Depois de tudo o que eu sofro pra te manter naquele colégio, pra não estragar a sua vida, pra te deixar num lugar que você goste...

- Me desculpe!

- NÃO! – ela atirou o pote de iogurte no chão, fazendo o conteúdo decolar e atingir a porta da sala e as paredes, manchando o carpete. Mamãe pôs a mão na testa, tremendo – Quantas vezes você já me pediu desculpas, Carlota? E quantas vezes você já errou de novo? Olha pra esse boletim, você acha que eu vou te perdoar por isso?

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