Capítulo 13 - Não aprendi a dizer adeus

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Setembro chegou. E com isso, eu sabia o que viria. Eu e Bela sabíamos.

Ela não mostrava, mas eu sabia que por dentro, ela estava acabada. Dava pra ver quando ela me olhava por tempo demais que tudo o que ela queria era morrer ou algo do tipo. Ela tinha esperado por tanto tempo pra conseguir – com uma ajudinha básica – o cara d quem ela sempre gostou, e agora ele estava indo embora.

E não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso.

Por mais que eu quisesse fazer com que ela se sentisse melhor, eu não conseguia. Tampouco conseguia sofrer com ela, quando tudo estava indo tão relativamente bem pra mim. Eu e o Edson com a nossa amizade retomada indo melhor do que nunca, Giovanna fora do meu pé, a Sabrina preocupada demais em escrever e cantar com o tal do Kauê e todos os meus outros amigos bem com as suas vidas. Até mesmo a Lana e o Diego tinham se resolvido – de novo.

Talvez eu fosse uma má amiga por isso. Por não compartilhar um pouco da dor dela, quero dizer. Eu sempre senti que amigas deviam dividir e sentir tudo ao mesmo tempo, mas como isso era possível quando eu estava feliz?

Isso não me impedia de tentar levanta-la, claro.

Nem de levar um “não” bem grande na cara cada vez que eu tentava.

Mas podia ser pior. Pelo menos eu tentava.

Até aquela sexta-feira fatídica em que eu subi no ônibus e ela estava com cara de quem ia explodir. Essa não.

- O que foi? – já fui logo perguntando. Era engraçado como a gente sabia quando a outra não estava legal.

Não que não fosse óbvio na cara dela naquela manhã especificamente. Na verdade, era tão óbvio que até doía.

- Amanhã vai ser a festa de despedida do William. – ela soltou, baixinho.

E antes que eu pudesse perceber, ela já estava no meu colo, chorando como um bebê.

Era meio... engraçado ver a Bela chorar. Não era algo que acontecia com muita freqüência, e eu achava meio comigo o jeito como ela fazia um beicinho e enrugava os olhos, e suas bochechas ficavam enormes e vermelhas, mais vermelhas que os seus olhos inchados.

Só que agora, não tinha graça nenhuma. Se antes eu me sentia ruim por não partilhar da dor dela, então agora eu estava recebendo um castigo. Toda a dor dela estava em mim, e eu queria chorar junto. Sem querer, me imaginei no lugar dela, se o Edson estivesse indo pra outra cidade, pra longe de mim.

Não. Não ia ser nada engraçado. Definitivamente.

E o pior era saber que nada que eu pudesse pensar em dizer ajudaria em alguma coisa. Não havia consolo – como geralmente não há. No fundo, a gente sempre sabe, quando está consolando alguém, que consolo é uma coisa inútil, e que a única solução é deixar que as pessoas chorem tudo o que precisem chorar e gritem e desabafem o que as está deixando daquele jeito. Palavras nessas horas não servem pra nada. Palavras não tiram a nossa dor.

Além de que é óbvio que, quando se trata da Bela, qualquer coisa que eu dissesse se transformaria num caminhão desgovernado aos seus ouvidos distorcidos pela tristeza. Se eu tentasse dizer algo do tipo “eu entendo”, talvez ela voasse no meu pescoço. É, com a Bela o melhor mesmo era ser um ombro amigo silencioso.

Então foi isso o que eu fiz. Deixei que ela chorasse. Quando chegamos à escola, ela parou e limpou na manga do casaco as lágrimas, deixando uns rastros de maquiagem borrada. Não estava muito bonita, mas não seria eu a dizer isso pra ela. Eu queria estar viva por mais algum tempo.

- Vai ficar tudo bem. – eu disse, automaticamente, e ela fungou e riu da minha cara.

- Não, não vai ficar nada bem. – discordou, com a voz meio rouca e sarcástica – Mas valeu a tentativa.

O Diário (nada) Secreto - vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora