Capítulo 11 - Dia dos Pais Mal-Assombrado

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Minhas férias estavam arruinadas a partir do momento em que eu subi no ônibus. Minha mãe deixou para fazer as perguntas quando eu estava em casa, mas eu não estava em estado emocional de responder.

Passei dias chorando e ignorando ligações. Depois de um tempo, eu não atendia mais nenhuma, não importava que número aparecesse no identificador de chamadas. Eu simplesmente queria ficar quieta, na minha, em casa enquanto ainda podia.

Porque logo, eu teria que voltar pra escola. Eu estava considerando mudar de escola, de cidade, de país naqueles dias, mas sabia que não ia rolar. Eu estava condenada a voltar pro Santa Rita em algumas semanas e encarar tudo de que eu estava fugindo: meus amigos, minhas primas, e, principalmente, o Edson.

Como ele tinha feito aquilo comigo? Depois de tudo? Depois do que ele me disse, depois da nossa conversa, depois do nosso dia juntos? Depois de tudo ter começado a dar certo, como ele tinha tido coragem de estragar tudo de novo?

E pior, como eu ia agir quando o visse de novo?

Eu estava certa de que não tinha condições de me segurar quando isso acontecesse. Porque, por mais que eu estivesse magoada, eu gostava dele o suficiente pra simplesmente... me atirar nele assim que o visse. Eu sei. É patético. Mas acho que quando a gente gosta de alguém, não tem limite entre o que é racional e o que o coração manda. Só se faz e ponto.

E eu realmente não queria ultrapassar minha barreira racional e fazer algo de que eu pudesse me arrepender.

O primeiro dia de aula do segundo semestre chegou, e eu não estava preparada psicologicamente para ele. Respirei fundo quando o ônibus chegou, já sabendo que teria que enfrentar uma Bela furiosa por eu não atender nem retornar suas ligações, e por ter que passar pelas minhas primas, que já deviam estar no ônibus.

Pra minha sorte, a Bela tinha pego o terceiro assento pra nós. Me joguei e afundei, antes que ela pudesse dizer (ou gritar):

- ONDE VOCÊ ESTEVE?

Em casa morrendo? Aproveitando minha própria tristeza e solidão? Sucumbindo à minha loucura interior, depois dos piores, e também melhores, quatro dias da minha vida?

Tudo isso seria resposta, mas duvido que fosse uma que a Bela fosse aceitar.

- Desculpe. – pedi, então, tão baixo que ela poderia não ter me escutado – Eu tive um mês difícil.

- UM MÊS DIFÍCIL? – acho que ela não conseguia escutar a própria voz. Ou não percebia que pessoas ali dentro estavam ouvindo – VOU TE CONTAR O QUE FOI UM MÊS DIFÍCIL! VOCÊ TEM IDÉIA DO QUANTO EU PRECISEI DE VOCÊ?

Eu não estava triste demais pra ficar indignada, contudo.

- Desculpe, Belatriz Fernandez da Costa, mas você não foi a única a precisar de alguém, certo? – eu não estava gritando, mas quase. Todo mundo no ônibus tinha parado de respirar pra nos ouvir, o que não era difícil – É uma pena que você seja egoísta demais pra entender que o mundo NÃO GIRA EM VOLTA DE VOCÊ, droga!

Então me levantei e mudei de banco.

Será que você pode me desculpar? Eu fui uma idiota.

Você é sempre uma idiota. Bela. Me deixa em paz. Eu preciso ficar quieta.

Lolita, é a quinta aula e você não abriu a boca ainda. Todo mundo já tentou falar com você. Dá pra ficar mais quieta que isso?

Amassei o papel e deixei-o de lado na mesa.

Contive uma lágrima a tempo e me segurei. Eu não precisava dar escândalo. Não depois da minha manhã turbulenta no ônibus, onde eu já tinha virado assunto pra todo mundo.

O Diário (nada) Secreto - vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora