Capítulo 7 - Quem tem medo do Lobo Mau?

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- Carlota Rodrigues Paes!

Meu Deus do céu, quem foi que ligou a voz da minha mãe em amplificadores e colocou vinte caixas de som de potência máxima bem no meu ouvido?

Abri os olhos, e dei de cara com o chão da sala. Eu não fazia a menor idéia de como tinha ido parar ali.

Opa, peraí, eu lembrava sim. O Edson tinha me levado até em casa, e eu deitei ali porque estava mais perto. Mas antes disso...

O gosto na boca me deu uma dica. Vômito. Muito vômito. E pela dor de cabeça, a minha noite tinha sido cheia.

Onde é que eu estava mesmo?

- Carlota, quer levantar e olhar pra mim? – minha mãe tornou a falar, cada palavra soando como uma orquestra inteira tocando bem na sala minúscula do nosso apartamento.

Levantei e logo percebi que aquele era um erro fatal. Minha cabeça girou e eu tombei no sofá de novo. Tive vontade de rir, mas me contive, porque eu tinha certeza de que a minha mãe não ia achar a menor graça. Ainda mais me vendo daquele jeito.

Eu estava de ressaca. Pela primeira vez, e era uma ressaca braba! Daquelas que torcem o seu pescoço e amassam o seu cérebro, que te derrubam por um dia inteiro. Era o tipo de dia que você deitava pra nunca mais levantar.

Mas era também uma segunda-feira, então eu estava ferrada.

- Você foi àquela festa, Carlota? – me perguntou.

A resposta mal educada estava na ponta da língua, mas não era hora pra isso. Eu já estava fudida o suficiente pra fazer algo que piorasse a situação agora. Eu podia muito bem ficar de bico calado.

- Fui. – respondi, e fiquei impressionada por quão rouca eu estava. Será que eu tinha gritado ontem?

- Você enlouqueceu? – começou a gritar, furando o meu crânio e explodindo meus ouvidos por dentro – Num domingo, sem a minha permissão? Você mentiu pra mim, foi numa festa e se embebedou sabendo que você tinha AULA no dia seguinte! Você não tem juízo, menina? Cadê a sua responsabilidade, as coisas que eu te ensinei?

Pronto. Ia começar. O despejo de mãe sofredora que batalha pra criar os filhos, que crescem e pisam em cima de tudo o que elas fizeram.

Todas as mães são iguais!

Bem, eu não era obrigada a ficar escutando aquilo, era? Achei que não. Fiz uma cara de “estou morrendo” – que era inteiramente verdadeira -, pus a mão na cabeça pra tentar conter a dor iminente e fui andando pelo apartamento até a cozinha. Minha mãe foi atrás, falando consigo mesma, enquanto eu caçava um remédio pra enxaqueca, ressaca ou qualquer outro comprimido que pulasse dançando na minha frente.

Engoli um comprimidinho branco simpático e fui pro meu quarto. Minha mãe ainda estava falando. Isso é que é energia! Peguei meu uniforme e uma calcinha e fui pro banheiro. Ela ainda estava discursando e me dando bronca enquanto eu tomava banho.

A água quente do chuveiro ajudou, mas não resolveu muita coisa. Mesmo depois de eu escovar os dentes, minha boca ainda estava seca e com gosto ruim. Minhas roupas fediam a vodca com fumaça de cigarro, e eu rezei pra não ter fumado enquanto estava... fora de mim. Além disso, nem um milhão de banhos seriam capazes de anular minha dor de cabeça e minha ânsia de vômito. Eu estava um verdadeiro caco.

Quando saí do banheiro, devidamente vestida, minha mãe havia parado de falar e estava na sala, com cara feia. Fui pro quarto, peguei a mochila e consultei o relógio. Atrasada pra pegar o ônibus, mas ainda não para a escola. Ótimo. Era, de fato, o melhor dia pra pegar carona com a minha mãe!

O Diário (nada) Secreto - vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora