Gisele estava de pé na bela sala de Siena Milles. As duas estavam acompanhadas por um amigo, George. O homem não parava de olhá-la em momento algum. Violet já havia percebido, mas demorou até que se manifestasse.
- Gosta do que vê, George? - Ela perguntou, com um sorriso maléfico nos lábios.
- Sem dúvidas é muito bonita, apesar do cabelo curto demais. - o homem praticamente a devorava.
- Eu tomei a liberdade de apará-lo. Atrapalhava que ela fizesse suas obrigações... - acomodou-se melhor no banco de madeira. - Diga-me, deseja possuí-la?
O comentário ousado de Violet chocou a todos na sala, Siena soltou uma risadinha debochada após o choque.
- É a prostituta de meu irmão, mas com a partida dele para Ashmore ela ficou incontrolável, como uma cadela no cio. Realmente precisa de alguém que a acalme.
o homem levantou-se, indo em direção a Gisele, que já olhava apavorada para Violet, numa súplica silenciosa.
- Então, posso prová-la? - Ele quase babava.
- Mas é claro, vá em frente! - Violet fez um sinal, indicando a menina apavorada.
Gisele saiu correndo apavorada gritando pelos corredores da casa labiríntica, com George em seu encalço. Não demorou muito para que ela entrasse em um cômodo sem saída. George avançou sobre ela, agarrando-a pelo braço e a jogando no chão.
- Acalme-se. Prometo ser carinhoso. - O homem disse, subindo sobre ela e lhe levantando as saias.
Gisele apavorou-se com a visão do órgão estranho esfregando-se nela. O homem colou os lábios nos dela, num beijo asqueroso. Num ato impensado de pavor, moveu o rosto para o lado e mordeu a orelha direita do agressor, quase arrancando-a. O homem rolou para o lado, com a mão sobre o ferimento que sangrava, gritando todos os impropérios possíveis. Ela saiu correndo, descendo a escadaria da casa como um cometa e rumando de volta para a propriedade de Galahad, ainda com o sangue de George sujando seus lábios. Subiu para o sótão e deitou-se em posição fetal sobre o monte de mantas estendidas no chão, que lhe serviam de cama.
O que ela havia feito de tão ruim nesta vida para ter que passar por isto? Estava sendo punida por se envolver com um homem sem estar casada? A fúria divina havia recaído sobre ela? Chorou muito até adormecer, enrolada as cobertas.
***
Acordou a noite, enjoada mais uma vez. Uma chuva torrencial de final de outono caía lá fora enquanto trovões tocavam o chão, ameaçadoramente. Desceu para o segundo andar da casa, procurando ir ao térreo para apanhar água na cozinha. Estava tonta por não ter comido quase nada no dia horrível que se passara, procuraria também restos de algum pão ou bolo para aplacar a fome violenta que a atingia nestes últimos tempos. Seu bebê já mostrava sinais de que seria esfomeado ao nascer. Segurou-se ao corrimão da escada, acometida por uma vertigem. Estava sendo desafiador passar por aquilo tudo sem ter Lucian por perto. Foi quando esticou o pé para iniciar a descida que sentiu um empurrão forte nas costas. Perdendo o equilíbrio rolou pelo enorme lance de degraus, ouvindo apenas a voz de Violet no topo.
-...Não haverão bastardos aqui...
Gisele apagou antes mesmo que seu corpo tocasse o chão.
***
Acordou sentindo-se dores em todo o corpo. Ainda era noite e a chuva havia aumentado. Tinha sangue escorrendo do nariz e da boca. Levantou-se com muito custo, pela dor no braço o havia deslocado. Sentiu uma pontada na parte baixa da barriga e entrou em pânico ao lembrar-se do ocorrido: Violet tentara assassiná-la!
Não era muito difícil de descobrir sua gestação, visto que a outra passava grande parte do dia seguindo-a e atormentando-a. Violet a oferecera para o amigo na tentativa de forjar uma traição por parte de Gisele, dando assim motivos para que Lucian se enfurecesse com a gravidez. Como não havia conseguido partiu para a execução de um plano mais drástico.
Gisele colocou a mão na barriga e curvou-se pela dor nas costas e no braço ferido. Não ficaria mais ali. Violet representava um perigo iminente para seu bebê. Andou com o máximo de velocidade que conseguia para a rua, que estava deserta a essa hora. Os pingos frios da chuva chegavam a doer em contato com sua pele. Sentiu que algo quente lhe escorria pelas pernas, sangue! Arrastou-se apavorada para fora da cidade. Tinha no bolso alguns trocados. Andaria até a hospedaria na entrada da cidade e ali descansaria pela noite. De manhã voltaria para Ashford, de lá tentaria encontrar Lucian e lhe dizer que não poria mais os pés naquela casa maldita, mas não conseguiu ir muito longe. Com a dor e perda de sangue massivos tropeçou na ponte que cruzava vários pontos da cidade e caiu na água bravia e caudalosa. Lurou contra as forças da natureza, enquanto era jogada para todas as direções, como uma boneca de trapos. Afundava e emergia novamente,com pouco tempo para retomar o fôlego. O braço dolorido a impedia de dar braçadas mais vigorosas ou se agarrar em algo. Foi quando uma pancada violenta em uma pedra a fez perder os sentidos, ficando ao sabor da forte correnteza que a arrastava cada vez mais para dentro da floresta densa e escura.
***
Lucian acordou agitado. Estava na tenda que dividia com Christopher e dois outros oficiais. Ofegava e suava frio. O amigo percebeu os sons e acordou, em prontidão.
- O que houve, Lucian? Ouviu algum barulho, além da chuva?
- Não, não foi isso...Tive um sonho ruim, como se tentasse respirar, mas apenas água entrasse em meus pulmões.
Christopher sorriu, aliviado.
- Oras, deve ser apenas a excitação em saber que pela manhã iniciaremos nossa marcha para dentro de Ashmore. Pare de se preocupar a toa e volte a dormir. Não vai querer estar sonolento para a batalha que se iniciará!
- Você está certo, eu acho. - Deitou-se novamente. - É apenas excitação...
Naquela noite ele não conseguiu mais dormir. Algo o consumia e incomodava, como uma picada de cobra a latejar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Toque da Maldade (FINALIZADA)
ChickLitCapa por ANNARODRIGUESS O que você faria se fosse obrigada a virar para o lado inimigo? Gisele morava com os pais numa humilde fazenda nos limites do condado de Ashmore. Um dia, cavaleiros das terras vizinhas atacaram sua vila, dizimando todos os s...