Capítulo 12 - A Floresta do Perdão Parte 1

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    Dor de cabeça. Som de vozes. Os olhos não conseguem se acostumar com a claridade. Uma senhora bem velha, um senhor e uma terceira voz, não dava pra ver quem era. Sucumbindo ao cansaço.

***

    Gisele abriu os olhos com muito custo, estava viva!Estava um um quarto humilde de uma cabana, ao que parecia. Sentou-se, assustada. Um senhor bastante enrugado e com a espinha curvada que estava sentado em uma cadeira, esculpindo um pedaço de madeira sobressaltou-se.

- Mary! Mary! A moça acordou! - Ele agora dirigia-se a ela. - Como se sente, jovenzinha?

- Com muita...muita fome... - Gisele respondeu, num fio de voz.

 Uma senhorinha adentrou o cômodo. Usava os cabelos presos num coque baixo e a pele tinha manchas provocadas pela exposição excessiva ao sol. Eram um casal de agricultores?

- Minha queridinha, que bom que acordou! A sopa está no fogo...

- Por quanto tempo estive dormindo? - Gisele estava assustada.

- Encontramos você boiando no rio há quase uma semana. Desde então oscila entre semiconsciência e sono profundo...- O velho respondeu.

  Gisele repentinamente tocou o próprio ventre, em pânico.

- Meu bebê! Eu...meu bebê, será que está bem?

 Os velhos se olharam, com pesar e depois voltaram-se para ela.

- Você chegou aqui muito fraca e com um sangramento intenso. O que quer que tenha acontecido é pouco provável que...o pequenino tenha resistido...

 Gisele levou as mãos a face. As lágrimas desciam em torrentes. Não podia acreditar naquilo. Seu bem mais precioso, a semente de seu amado...Estava perdida, para sempre! Sentiu uma pontada no coração e a dor de tanta perda a fez desabar, quebrar. Pela primeira vez em sua vida ela se rendia ao desespero e tristeza. Deu-se o luxo de ser egoísta e de pensar que, se Lucian não tivesse ido para a guerra ela não teria passado por tantas coisas horríveis assim. Os velhinhos a olhavam, desconsertados e impotentes.

 Após a refeição ela sentia-se sem ânimo para conversar, mas tinha que dar uma satisfação ao casal. Descobriu que se chamavam Peter e Mary, e que a muito tempo haviam escolhido morarem na tranquilidade da floresta, criando o neto  Joshua que agora havia ido a uma vila próxima, trocar alguns animais por sementes. Gisele contou todo o ocorrido em sua vida até o momento em que perdera os sentidos no rio, dias atrás. Os velhos ficaram chocados e condoídos com a situação.

- Minha querida, não há com o que se preocupar. Se desejar ficar aqui, tenha certeza de que há lugar para você. - Mary disse.

- Mas, minha honra. As coisas que fiz... - Gisele torcia nas mãos o pano que usava para limpar a mesa da cozinha humilde.

- Ninguém aqui vai te julgar, Gisele. Não cabe a nós fazer isto e só você sabe pelo que passou. - Foi a vez de Peter se manifestar.

 Gisele assentiu, contente em ter achado pessoas tão bondosas em seu caminho. Sentiu uma tristeza enorme a invadi-la quando pensou em Lucian, que ainda estava longe em Ashmore e nada sabia. Mas para ela seria muito penoso e até mesmo perigoso voltar para a casa. E não queria mais ficar lá. Seu desejo era manter distância da casa que só lhe passava recordações terríveis. Era doloroso demais deixá-lo ir, mas ele precisava de uma moça de sua estirpe. Uma bela filha de algum lorde abastado, uma mulher que pudesse se impor sobre as vontades da caprichosa irmã, e que o faria feliz de verdade.

 Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta de madeira se abrindo. Um rapaz alto e loiro, de expressivos olhos castanhos entrou na casa. Aparentava ter mais ou menos a mesma idade de Gisele. Tinha um ar jovial, quase infantil. Ele trazia nas mãos um saco de tecido.

- Oh, Joshua! - Mary exclamou, chamando a atenção do menino. - Olhe só quem está de pé!

 Ele estacou no lugar quando seus olhos cruzaram com os de Gisele, em seguida abriu um sorriso encantador, que deixava transparecer duas pequenas covinhas em suas bochechas.

- Nossa estranha oferenda que desceu o rio finalmente acordou! - Ele disse, num tom de brincadeira. - Olá! Sente-se melhor?

 Ela afastou os pensamentos sombrios. À partir de hoje sua vida mudaria mais uma vez sua vida passada ficaria para trás. As possibilidades que a aguardavam eram infinitas agora.

 O Toque da Maldade (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora