Capítulo 3 - Westphalen

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Lucian pensava que havia enlouquecido. O sempre controlado cavaleiro havia arrebatado uma mulher por puro desejo. E agora a tinha nos braços, trêmula de paixão, entregue a ele. Beijou-a na curva do pescoço, puxando para baixo as alças da chemise e revelando toda a parte superior do corpo dela. Sentiu que Gisele se contraía um pouco, envergonhada e a puxou novamente para mais perto, ainda ocupado com seu colo.

Ela jogou a cabeça para trás e gemeu, dando o sinal de que ele poderia avançar. Ele terminou de remover-lhe as roupas, expondo-a totalmente a seu olhar faminto.

Ela era linda e perfeita, e por mais que ele quisesse fazer dela sua ali mesmo, não era de seu feitio desvirginar garotas num quarto de pousada. Tentou organizar a mente e se controlar, afastando-se dela.

- Pendure as roupas, para que sequem. - ele disse, acomodando-se na cama e rindo secretamente da expressão de decepção da moça.

Ela também parecia querê-lo, o que já era muito bom, mas seus homens provavelmente estavam com os ouvidos colados atrás da porta e Lucian não daria este gostinho para eles. A moça se acomodou desconfiada ao lado dele, que a envolveu com os braços por trás, colando seu corpo ao dela.

- Nem pense em tentar fugir. Tenho o sono muito leve e meus companheiros estão todos no salão. Fora que você está em Westphalen sozinha, e seu sotaque a denunciaria logo.

Gisele assentiu, pensativa. Em nenhum momento cogitou em fugir. Seu pensamento estava apenas na experiência que haviam compartilhado e que fora frustrada.

Dormiram tão logo fecharam os olhos. Ambos cansados pelas batalhas que haviam travado nos últimos dias.

***

Na manhã seguinte Lucian já estava de pé e vestido quando Gisele acordou. Entregou-lhe um vestido azul claro, dizendo ter pego emprestado com uma das garçonetes. Em momento algum comentou sobre a intimidade que haviam compartilhado na noite passada. Ela sentou-se tola por esperar que ele dissesse algo. O homem que a beijara apaixonadamente apenas a algumas horas atrás agora voltava a usar sua máscara de seriedade e polidez. Mas ela sabia que por dentro ele continuava cheio de desejo. Podia ver isto no fundo de seus olhos verdes e profundos.

Ao descerem, ela constatou que todos os oito homens que o acompanhavam estavam acomodados numa grande mesa, também livres de suas armaduras e tomando o desjejum. O cheiro maravilhoso de carne e pão recém assado fez com que o estômago dela roncasse alto. A quanto tempo não saboreava uma refeição descente. Vivia apenas das sobras que os ciganos lhe ofereciam ao final de cada uma de suas refeições.

Lucian acomodou-se numa cadeira da extremidade e fez sinal para que ela sentasse a seu lado. Vacilou um pouco, pois já estava desacostumada a comer entre outras pessoas. Os homens se entreolharam e sorriam, cúmplices.

- Alguém tem algo a dizer? - Lucian deu um suspiro exasperado, servindo-se.

Os soldados balançaram a cabeça e murmuraram negativas. Estavam acostumados com punições por parte de seu líder por coisas bem mais banais do que a intromissão em sua vida sexual.

Ele olhou para sua companheira e fez sinal para que ele se servisse. No primeiro instante Gisele foi cautelosa, entornando a concha com sopa de vegetais lentamente em sua tigela, mas o cheiro gostoso e a aparência convidativa do prato a fizeram esquecer das boas maneiras. A menina comia feito um urso! O que só gerou mais risonhos desconfiados sobre a noite anterior. Atacou o frango assado e o peixe frito após a sopa, empurrando tudo para dentro com dois canecos de vinhos. Lucian observava, quieto. Essa menina deveria ter passado por tempos muito difíceis em sua vida. Provavelmente nunca havia visto tanta comida reunida assim em sua frente. A dor que o Lorde da Ashmore causava a seus súditos tinha que ser parada!

- Moça, estou impressionado! - Christopher Exclamou. - É bela como uma ninfa, mas come como um javali selvagem! Poderia facilmente vencer qualquer um desses homens na disputa de pratos!

Ela de repente pareceu triste. Soltou a coxa da galinha sobre o prato e baixou a cabeça, visivelmente envergonhada.

- Perdão, é que...faz dias que não como direito e...

Christopher percebeu o tom errado da brincadeira que havia feito e se apressou em tentar consertar.

- Não se preocupe! - Lançou seu melhor sorriso, sob o olhar fuzilante de Lucian. - Aqui ninguém a julgará, apenas admirei seu apetite! A maioria das mulheres têm receio de sujar os dedos e a senhorita mostra-se ne um pouco fresca ou afetada.

Gisele retribuiu o sorriso e voltou a comer, confiante.

Após todos estarem satisfeitos, foram pegar os cavalos, deixando apenas a menina e Lucian no salão. O cavaleiro permanecia sentado enquanto examinava perdido a caneca que segurava nas mãos e Gisele examinava perdida as garrafas coloridas da prateleira atrás do balcão.

- Nunca mais lhe faltará nada nesta vida. - ele disse, um pouco desconcertado, sem parar de fingir examinar o copo. - Enquanto eu viver você não precisará mais sofrer nenhuma miséria.

Ela se virou para ele e o fitou, silenciosa.

Meu Deus! Por que diabos ele havia dito isto? Ela era somente uma filha de fazendeiro Ashmoriana. Não tomara a menina para fazê-la passar fome, mas nao tinha também compromisso algum de explicar isso a ela. Por que se portava? Sacudiu a cabeça e se dirigiu a ela.

- Vamos! Falta pouco e eu pretendo chegar em casa antes do meio dia!

Ela correu para fora junto dele, tentando acompanhar seu passos.

A comitiva empreendeu viagem novamente não sem antes lembrar ao velho da estalagem que as armaduras seriam pegas pelo ferreiro para reparos, como sempre. Seguiram pela estrada de lama ladeada pela floresta escura até chegar a uma área de plantações e finalmente ao caminho pavimentado que levava aos portões de Westphalen. Os muros altos escondiam por trás deles uma enorme cidade viva e pulsante. Comerciantes gritavam suas mercadorias, enquanto taverneiros e prostitutas chamavam por clientes. Chegando mais para o centro Gisele ficou maravilhada com a praça grande cheia de verde e uma fonte no centro. As casas eram enormes, algumas pareciam até pequenos castelos. Criados saíam e entravam apressados, procurando provavelmente aprontar o almoço de seus patrões. Os homens pararam todos ali e foram se despedindo. Christopher e Lucian sobraram. O amigo olhou divertido para Gisele e depois novamente para seu superior.

- Daria tudo para ser uma mosquinha e ver a reação de Violet perante sua nova hóspede.

Lucian estalou a língua, incomodado.

- Violet não tem poder sobre nenhuma decisão. Minha serviçal é um assunto apenas meu e o que eu decido é lei. E você, Christopher! Sempre tão preocupado com ela...

- Você sabe o que grita em meu coração, irmão. - o ruivo incitou o cavalo, virando-o em direção a uma rua lateral. - Mas, o que um. Simples bastardo como eu pode desejar? - ele olhou para Gisele e lhe deu uma piscadela antes de sair. - Nos encontramos a tarde na presença de Lorde Powell, para reportar a missão! - disparou feito um louco entre as pessoas apressadas.

Lucian sacudiu a cabeça em desaprovação e incitou seu cavalo durante mais alguns metros até parar num casarão bem grande, com três andares. Muros altos cercavam o terreno é o portão de madeira estava aberto. O pequeno jardim da frente era decorado por inúmeras roseiras de todas as cores. "Devem ser de Violet" -Gisele pensou. Seria esta a esposa dele? Dificilmente, pois o outro cavaleiro havia se referido a ela passionalmente. Mas pelo jeito que falara dela, Gisele esperava encontrar alguém bem temperamental.

 O Toque da Maldade (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora