Caden não disse nada, ele continuou acariciando meu rosto, esperando que eu continuasse.
Todas as lembranças estavam voltando de uma vez só, eram muitas, todas muito dolorosas, eu não sabia por onde começar. Abri a boca diversas vezes para falar, mas eu não falava nada.
- Conte do começo. - Caden sussurrou percebendo minha dificuldade.
Eu respirei profundamente algumas vezes antes de continuar.
- Um dia minha mãe saiu dizendo que tinha que comprar umas coisas e que tinha uma novidade para contar para mim. - parei por um momento tentando não me perder nas lembranças daquele dia que faziam questão de voltar. - Era de noite, no caminho de volta para casa um grupo de homens parou ela na estrada, roubaram tudo, a espancaram e a estupraram, ela estava gravida, Caden, essa era a novidade, mas ela perdeu o bebê, eles deixaram ela sangrando no meio da estrada e por pouco ela também não morreu lá.
Diferente de todas as outras pessoas que sabiam o que tinha acontecido, Caden não me olhava com pena, havia compaixão e compreensão em seu olhar e eu fiquei extremamente grata naquele momento, eu odiava que sentissem pena de mim.
Tomei mais algumas respirações, tentando me acalmar antes de continuar.
- Um carro que estava passando pela estrada achou ela, chamou a emergência e ela foi para o hospital, ligaram para o meu pai e nós fomos correndo até o hospital, ela estava desacordada, ficou 3 dias assim, quando acordou a primeira coisa que ela quis saber foi sobre o bebê, ela ficou devastada quando soube que o tinha perdido, e para piorar ela nunca mais poderia ter filhos, foi ai que tudo piorou. Ela ficou depressiva, com estresse pós-traumático, paranoide e esquizofrenia. - parei de novo por um momento, eu precisava de um tempo para não desmoronar, falar dela acabava com todos os muros que eu já tinha construído de uma vez só. - Primeiro ela foi pra casa, mas não saia do quarto, ela não escrevia mais, desistiu de publicar o livro, e não queria tomar os remédios, mas com o tempo tudo piorava, até que ela tentou se matar, foi ai que meu pai resolveu interna-la.
- Ella... - Caden disse, mas eu o interrompi, se ele falasse eu ia perder a coragem.
- Foi bom para ela, ela começou a melhorar com os remédios, ela voltou a escrever, mas não livros, ela escreveu cartas para mim, para o meu irmão e para o meu pai, mas eu nunca consegui ler. - eu sempre tive curiosidade para sabe o que ela tinha escrito, mas ao mesmo tempo eu tinha medo de lê-las, simplesmente não tinha coragem. - Nós íamos visita-la todo fim de semana, ela estava se recuperando, estava quase recebendo alta, até que entrou um paciente novo ao lado do quarto dela, ela cismou que era um dos caras que a tinham roubado, o que era impossível porque a polícia prendeu os 5, mas ela não acreditava. Assim que eu consegui a minha carteira eu fui visita-la, sozinha, queria fazer uma surpresa pra ela, mas nesse dia ela tentou matar o paciente, ela teve um surto psicótico, e eu estava bem ao lado dela, depois disso eu não consegui mais visita-la, as imagens ficavam martelando na minha cabeça o tempo todo, eu simplesmente não conseguia voltar lá. - engoli o choro que estava prestes a sair, eu precisava terminar, precisava controlar minhas emoções. - fiquei uns 3 meses sem vê-la, eu fui quando meu irmão disse que ela já estava bem e estava pedindo para me ver, então eu fui e ela parecia realmente bem, estava sorrindo, parecia a mãe que eu sempre tive, a não ser pelos olhos dela, eu podia ver a tristeza em seu olhar, mas eu fingi não notar, porque suas ações diziam o contrário de seus olhos, mas assim que chegamos em casa ligaram e disseram que ela tinha se matado, ela conseguiu um pote de remédios e o tomou inteiro.
Eu não pude conter uma lagrima cair do meu olho, Caden a enxugou com seu dedo e me abraçou forte.
- Quando meu pai me contou eu senti como se tivessem arrancado uma parte de mim, eu corri de casa, eu corri de todos, eu subi uma montanha que tinha perto da minha casa, eu sempre ia pra lá, eu corri como nunca, eu me sentia sufocada, presa e completamente sem chão e sem rumo. Eu senti culpa por ter parado de visita-la, por não ter tentado ajudar, ela me chamava de anjo porque ela dizia que eu a tinha salvado, que eu a protegia, mas isso nunca foi verdade, eu não a salvei, nem a protegi, em momento nenhum, ela era o meu anjo e ela foi tirada de mim.
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Doentia Paixão
RomanceTudo começou com uma iniciação.10 dias.10 pessoas.Um psicopata. Ella Price vai entrar em seu primeiro ano de faculdade de psiquiatria.Mas para isso ela precisa passar por,o que ela achou ser,uma simples iniciação.Mas ela estava enganada.Assassinatos...