Ninguém Está Seguro Quando Se Está No Cardápio

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Nunca imaginei que a minha própria casa seria minha tumba. Os ataques começaram por volta das seis da manhã, porque eles sabiam que não conseguiríamos fugir a essa hora. Enquanto o bater das asas se tornava cada vez mais alto, corríamos em direção a única saída que ainda sabíamos estar disponível.

Liam chorava nos braços de Annabelle, enquanto eu os guiava pelas galerias subterrâneas do bunker. Era minha obrigação fazê-los ficar bem, dar a minha vida se fosse necessário. Era minha família e eu os protegeria a qualquer custo. Annabelle o aninhava em seu peito, sussurrando uma cantiga de ninar que ouvi há muitos anos. Uma coisa que ela aprendeu quando ainda era menina. Os olhos verdes de Liam encararam a mãe por um momento e depois a mim. Sorri para ele, mesmo com todo desespero e mesmo prestes a morrer, era minha obrigação como pai fazê-lo ficar bem.

Viramos no último corredor, onde no final havia uma porta automática, e corremos o mais rápido que conseguimos. Foi então que ouvimos um estampido e teve uma queda de energia rápida, aquilo só poderia indicar que eles destruíram os geradores de energia e que logo estaríamos no mais completo breu. A porta estalou e começou a fechar. Se não estivéssemos do outro lado, quando isso acontecesse, estaríamos mortos.

Então voltamos a correr o mais rápido que conseguimos. Eu havia sido ferido gravemente na perna, pelo esporão que tem na ponta das asas dos adultos daquela raça. Então, era obvio que mesmo que eu me esforçasse ao máximo, não conseguiria chegar a tempo. O pior era saber que Annabelle tentava me acompanhar, mesmo tendo a certeza de que a porta se fechava a cada segundo que ela insistia em não me deixar. Quando percebi que não daria tempo para mim, empurrei Anna e o bebê para que passassem.

— Victor! — ela gritou quando se virou e me olhou pela mínima abertura da porta. Ainda segurava Liam nos braços, enquanto mantinha a respiração acelerada. Os olhos se tornaram negros antes que a porta se fechasse completamente e eu me visse sozinho naquele corredor.

As luzes se apagaram uma de cada vez. Primeiro a que estava mais distante de mim e seguiu aquela sequência como efeito dominó. Quando a última, acima da minha cabeça, apagou eu fiz com que meus olhos assumissem a cor da minha espécie. Se havia uma coisa em que os vampiros Comuns eram bons, essa coisa era ver no escuro. Ouvi uma serie de urros e rugidos e em seguida vi uma daquelas coisas ao final do corredor. Uma subespécie.

Eles tentavam brincar com nossos sentimentos. Provocavam medo antes de atacar e isso nós conhecemos bem. O gosto da adrenalina no sangue daqueles em que bebemos é a melhor coisa que um vampiro poderia querer, porém eu duvidava muito se nós conseguíamos produzir esse hormônio. Dessa forma não haviam motivos para nos assustar antes de atacar, exceto se aquilo tivesse deixado de ser pela reação da adrenalina e tivesse se tornado pelo simples prazer de nos ver com medo. A verdade era que a adrenalina é como uma espécie de droga para nós e entramos em um estado profundo de torpor se as nossas vítimas estiverem com aquilo no sangue.

Por isso não é novidade quando ficamos sabendo sobre vampiros que fazem as suas vítimas sofrerem, por dias, antes de matá-las. Óbvio que há muito proibimos essa prática, porque uma pessoa sumida era um alerta para caçadores, mesmo que centenas de milhares de pessoas desapareçam todos os anos. Posso garantir que mais da metade dessas pessoas estão em algum porão, cavernas ou catacumbas mundo a fora, tendo um vampiro como seu algoz.

A criatura em minha frente, com as asas abertas e apoiadas propositalmente nas paredes do corredor — dando a impressão de que era muito maior do que realmente era — deu um passo à frente e virou a cabeça de lado. Me analisava. O corpo era esguio, mas consegui distinguir claramente que pertencia a um macho daquela espécie. Andava devagar em minha direção e não havia a fúria própria deles naquele momento. Sabia que eu estava acuado e que não havia a mínima possibilidade de conseguir vencer aquele embate.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde histórias criam vida. Descubra agora