Entre na Fila

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Alice me olhou assustada ao perceber do que se tratava aquela confusão. Apertei sua mão com força antes de encarar meu irmão. Ele sabia o que eu estava sugerindo apenas em me encarar. Era bom tê-lo ao meu lado novamente.

— Não — a minha mulher respondeu. Os olhos azuis estavam focados em mim e ela nem sequer piscava. Estava com uma fisionomia tão séria quanto eu jamais havia visto. — Você não vai lá!

— Não temos outra escolha. Se não agirmos, perderemos a pouca confiança da população que conseguimos adquirir nesses últimos dias — caminhei em sua direção e segurei sua mão.

— Eu quero que a população se exploda, Victor. Você não vai lá — ela repetiu.

— Me perdoe. — pedi baixo. Olhei para meu irmão. — Cuida da Alice para mim — Arthur assentiu, mas ela se colocou entre eu e ele.

— O que te faz pensar que Arthur, sendo humano, vai me barrar em algo? — os olhos se tornaram negros e suas presas ficaram à mostra. — Eu vi como se mata aquela coisa e se não posso impedir que você vá, eu vou junto.

— Sabe que essa não é uma opção, não é? — rebati, apenas para que ela me olhasse torto e passasse na minha frente. As garras estavam lá, uma característica própria de quando o vampiro estava pronto para o ataque. Alice era e sempre foi cabeça dura. Jamais consegui rebatê-la ou fazê-la desistir de alguma coisa, principalmente se essa coisa envolvia a mim, Arthur ou aqueles que eram próximos dela. A mulher de fibra, que eu conhecia, sempre falava mais alto e colocava o ponto final. Quem era eu para dizer que não?

Respirei fundo e assenti com a cabeça. Ela sorriu, me deixando ver as presas duplas.

— Eu sinto muito por não poder ajudar — meu irmão comentou.

— Apenas mantenha-se vivo — respondi segurando em seu ombro e seguindo com Alice para fora da Casa Branca. O palanque agora era uma pilha de madeira jogada em um canto qualquer do local. Haviam corpos de, pelo menos, dez repórteres e seguranças espalhados por ali. Um verdadeiro banho de sangue. O rosnar da criatura veio da parte lateral do local, seguido de vários e vários tiros. Chegava a ser ensurdecedor.

Os caçadores e seguranças eram treinados para matar vampiros, mas não para matar aquela coisa. Por isso atiravam na direção do coração, mas eu e Alice sabíamos que não era ali que ele ficava. A necropsia feita por Suzan e Andrei revelou que os órgãos internos da criatura mudaram de lugar, como uma espécie de adaptação. Era uma maneira de sobrevivência que só Darwin explica naquela sua teoria de seleção natural. Organismos com variações vantajosas têm maiores chances de sobreviver. Os vampiros que o digam.

Ao chegarmos, os tiros cessaram. Parecia que todos aqueles esperavam que agíssemos, como se fossemos nós a salvá-los. Tomei uma das armas dos seguranças e mirei na direção da criatura. Comecei a atirar no lugar onde sabíamos que estava o coração, mas a criatura desviava com velocidade.

— O que estão esperando? Atirem! — Alice gritou para os outros sujeitos ao meu lado. Imediatamente eles seguiram as suas ordens e começaram a alvejar o Lupus hirudus. A coisa toda ocorreu muito rápido. Quando percebi, Alice não estava mais ao nosso lado. Ela havia aproveitado a distração que os seguranças e caçadores proporcionaram e se esgueirou até onde o sujeito estava.

A vi agarrada ao pescoço do animal e ordenei que todos parassem de atirar e eles assim o fizeram. A criatura tentou pegar Alice e meu primeiro instinto foi correr na direção dos dois para salvá-la, mas foi então que ouvi o urro alto daquela coisa e paralisei. A mão de Alice estava atravessada no peito do animal. As garras abertas, completamente meladas de sangue, segurava algo que parecia um coração.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde histórias criam vida. Descubra agora