O Inimigo do Meu Inimigo é o Meu Amigo

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Acordei com um apito constante ao longe e aquele cheiro de éter que só poderia indicar que eu estava em um ambiente hospitalar. Minha garganta estava seca e meus olhos arderam imensamente quando eu os abri. Olhei para o teto por alguns segundos antes de virar minha cabeça para o lado e perceber que eu estava em um quarto com janelas escuras. Do outro lado, com as pernas encolhidas na cadeira e com a cabeça apoiada no encosto, estava Annabelle. Ela dormia serenamente, independente daquela posição que me parecia ser bastante desconfortável. Tentei me sentar, mas senti uma dor forte em meu peito e em minhas costas.

— Vai com calma, Victor — Annabelle acordou quando me movi na cama. Correu rápido em minha direção e quando eu percebi ela já tinha colocado a mão em meu peito e me forçado a deitar novamente. Não consegui acompanhar seus movimentos, como seria o correto para mim. Estava mais devagar do que eu realmente era. — Você ainda está muito ferido. Precisa descansar.

— O que aconteceu e porque eu estou aqui? — perguntei com mais dificuldade do que eu achei que teria. Minha voz saiu quase como um sussurro. Sorte a minha que a audição de Belle era boa o suficiente.

— Os caçadores foram forçados a usar a força contra você. Estava descontrolado — ela tentou explicar, enquanto alisava meus cabelos, mas eu só queria saber de me sentar. Nunca estive em um hospital como paciente e aquilo estava me assustando de uma maneira absurda. Principalmente porque em meu braço havia uma mangueira ligada a uma bolsa de soro. Queria ver o que estava acontecendo e o porquê daquela dor toda, então me sentei com bastante dificuldade, sentindo dor em cada mover de músculo. Retirei o lençol que estava em cima de mim e percebi usar uma roupa branca de hospital. Não haviam manchas de sangue nela, mas eu sabia que havia levado cinco tiros em meu tórax e abdômen. — Victor! Pare de se mexer agora ou vai abrir seus pontos.

— Pontos? Que pontos?

— Eles atiraram em você um soro que faz com que seja humano por um tempo, mas teve uma ação retardatária porque você é um Comum. Eles ficaram com medo que você atacasse mais gente e então atiraram balas de prata em suas costas, mas o soro já tinha te transformado em humano e as balas te fizeram sangrar. Uma atingiu seu ombro, as outras duas você deu sorte de passar entre os órgãos vitais. Porém, como eu disse, você perdeu muito sangue e tiveram que te trazer para cá às pressas.

— Droga! Não agora! — resmunguei deitando-me novamente na maca e sentindo os pontos das minhas costas arderem. — Precisamos ir atrás de Arthur, saber se realmente era ele ou se era alguém... — respirei profundamente —... Belle, chame Caleb ou Ian. Peça para que um deles venha aqui imediatamente.

— Caleb já está aí fora. Ele veio com você quando você foi ferido — respondeu e se afastou da maca — Eu vou manda-lo entrar.

— Faça isso, por favor! — ela sorriu e me deu as costas, deixando o quarto em seguida. Ergui minha mão esquerda, onde monitoravam meus batimentos cardíacos, e arranquei aquela coisa de mim. A máquina iniciou um apito constante e uma linha reta apareceu na tela. Apertei o botão que desligava e sai da cama com dificuldade.

Uma médica entrou correndo no meu quarto, achando que eu tinha tido uma parada cardíaca ou algo do gênero. Engraçado era ela se preocupar que meu coração tivesse parado. Por séculos ele esteve assim e isso não me impedia de andar por aí.

Acenei para que visse que eu estava bem. Ela respirou fundo, apertou um botão verde que ficava ao lado da minha porta e saiu em seguida. Caminhei, devagar, até o banheiro e parei em frente ao espelho.

A visão que tive de mim não me agradou em nada. Eu parecia que não dormia há séculos. Minha fisionomia estava extremamente cansada, mais pálida do que o normal e ao redor de meus olhos parecia que havia uma irritação que deixou tudo com um tom avermelhado estranho. Ergui a roupa de hospital e reparei que haviam cinco hematomas em meu abdômen e peito, mas nenhum furo. Ao contrário do que acontecia nas minhas costas. Por baixo de cada curativo havia um buraco suturado.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde histórias criam vida. Descubra agora