Contagem Regressiva

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A viagem de volta a Baltimore foi bastante silenciosa. Contei a Sophie o que o cientista havia me dito e o clima quebrou completamente. Ela me falava sobre a vacina, que se ele havia prometido dar o seu melhor, ele daria. Que ainda havia a chance de eu não morrer.

Mas eu sabia que essa oportunidade era ínfima. Só não iria expor em voz alta, já que ela e Sean se apegaram a isso como uma forma de negação. Era só mais um estágio do luto que, mais cedo ou mais tarde, eles teriam que passar. Quando acontecesse, se dariam conta de que não havia como eu escapar dessa vez.

Deixamos Sophie no Píer 5 e voltamos o mais rápido que conseguimos para a mansão. O sol nasceria em poucos minutos.

— Sean, eu preciso te pedir...

— Eu já imaginava que você me falaria isso — me respondeu antes mesmo que eu completasse a minha frase. Ele me conhecia tempo o suficiente para saber. — Não se preocupe. Não falarei.

— Quero ser eu a contar para eles, principalmente para Alice e Arthur, então não comente nada. Nem mesmo com a Samantha!

— Só não demora para falar. Vocês têm pouco mais de quatro dias. Não perca nenhum minuto sequer. — Sean desligou o carro e me observou em seguida. — Precisa avisar aos outros clãs também.

— Vou fazer isso, mas antes eu preciso resolver uma coisa.

— O que? Precisa de ajuda?

— Eu preciso organizar um casamento. Vou precisar de toda a ajuda possível, principalmente porque amanhã estarei pior do que hoje.

— Casamento? De quem? — Quis saber.

— Meu e de Alice — concluí, deixando o carro em seguida.

Entramos na mansão e nem sequer me demorei no andar térreo. Subi em direção aos quartos e entrei devagar naquele em que eu dividia com ela. Embora Alice fosse uma Modificada, ela havia aprendido a seguir a rotina da mansão. Então, naquele momento, dormia confortavelmente na nossa cama. O sol tinha nascido lá fora.

Cheguei o mais silenciosamente possível e deitei. Ela se mexeu e virou-se para mim, ainda estava dormindo.

Apoiei minha cabeça em meu braço e a observei por um tempo. Os cabelos loiros esparramados pelo travesseiro, os lábios vermelhos e a fisionomia calma. Eu sentiria tanta falta dela.

A vida era injusta. A eternidade se comparava a vida.

Em quinhentos anos eu nunca a esqueci. Existi pela certeza de que a veria novamente em algum momento, que a teria em meus braços mais uma vez e que a faria minha para sempre. Só que não poderia ser tão fácil assim para uma coisa como eu.

Eu a reencontrei e a tive para mim, mas o para sempre é muito tempo. Coisa que eu já não dispunha. Por isso eu decidi que nos quatro dias que me restavam, eu a faria a mulher mais feliz desse mundo. A começar realizando aquilo que ela queria fazer: casar comigo.

Levei minha mão até seu rosto e o livrei de uma mecha teimosa de cabelo que o escondia e me impedia de decorá-lo com perfeição. Acarinhei a sua bochecha e ela abriu os seus olhos azuis. Me observou por um instante, antes de sorrir. Eu era, indubitavelmente, apaixonado por aquele sorriso.

— Desculpe. Não queria te acordar — pedi.

— Eu estava lhe esperando e acabei dormindo — respondeu com a voz rouca do sono. Assenti antes que aquela dor no peito e a sensação de tontura viesse novamente.

Ainda não tinha chegado a hora de contar. Não naquele momento. Por isso tentei fingir que eu estava bem o máximo que eu conseguia. A dor havia começado a irradiar para meu abdome e descia conforme mais eu a sentia. Comecei a entender o que o Dr. Pádraig havia dito sobre a fraqueza. Eu havia entrado no segundo dia.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde histórias criam vida. Descubra agora